Petúnia - Kuroo Tetsurou

1.7K 176 61
                                    

Era por volta das quatro ou cinco da manhã e eu andava sem rumo pelos quarteirões desertos e mal iluminados do bairro em que vivia atualmente, estava chateado e cansado com tudo que aconteceu na minha vida nas últimas semanas, nos últimos meses, últimos anos. Talvez a vida toda, eu só tenha feito besteiras, meus feitos não passam de recordações melancólicas e vazias do que poderia ter sido, mas não foi. Tudo só serve para relembrar do quanto eu perdi.

As vezes, acontecia, de eu me deitar na cama depois de um dia entediante, olhar para o teto estrelado e me mexer na cama, sem conseguir manter os olhos fechados por mais de vinte malditos segundos e adormecer. No fim, normalmente me levantava e colocava um casaco antes de sair, andar por aí até a exaustão tomar conta do meu corpo, voltar para casa e conseguir dormir por quatro horas, no máximo, porque tenho aulas matutina e não poderia faltar nenhuma delas, principalmente por estar entrando na etapa final do último ano e os treinos estarem ficando cada vez mais rápido devido a aproximação do Nacional.

Todavia, naquele dia, não haveria de ter nenhuma aula, finalmente era o dia de folga e estava com meus estudos em dia, então estava totalmente livre para fazer o que bem entendesse. Contudo, claramente, isso não significava que eu gostava de marchar pelas vielas como um viciado em drogas enquanto todos dormiam pacificamente em seus lares, sem ligarem para os problemas do mundo. Não é como se eu tivesse com inveja deles, mas seria bom está em seus lugares.

Tomando a curva na esquina de outro quarteirão, parei diante de uma bifurcação para verificar a hora em meu telefone, a tela escura para que minha vista não doesse naquele horário. 04:36. Incrível, pensei comigo mesmo, nenhum pouco surpreso. Quando é um momento melhor para passear como um psicopata, se não às 4 da manhã? Suspirei profundamente, minha respiração saindo em um vapor esbranquiçado devido a temperatura baixa. Passei os dedos pelos cabelos em busca de alinhar aquela desorganização e olhei em volta sem saber o que fazer. Não estava acostumado a aquela área da cidade, nem ia muito ali na verdade, mas sabia que meu amigo, Kuroo, morava naquela região.

Um pensamento repentino cruzou minha mente. Eu não deveria fazer aquilo novamente, levaria uma bela bronca do Iwa-chan caso ele descobrisse, mas com certeza eu faria, levando um sermão ou não, precisava relaxar. Nem eu ou o Kuroo teríamos cursos matutinos naquele dia, na verdade, não possuímos planos para aquele dia e havíamos discutido isso na tarde anterior, quando acidentalmente liguei para o rapaz e ele atendeu antes que eu pudesse desligar — acabei com os poucos créditos que possuía em uma conversa de duas horas e meia. Imaginei se o Kuroo ainda estaria acordado, deitado sobre a cama de bruços, a boxer sendo a única peça de roupa que cobria seu corpo, pois assim ficava confortável, enquanto maratonava TBBT ou sentado na cadeira da mesinha do seu Pc, jogando Mortal Kombat 9, estando ou não ao mesmo tempo em ligação com o Kenma — seu melhor amigo e, se depender dele, futuro namorado — com quem provavelmente discutia o jogo, seu maior vício.

Expirei o ar dessa vez com mais dificuldade pelo frio, começando a me mover novamente, revisando mentalmente a minha rota. Tenho visitado ao Tetsurou desde que ele se mudou para seu novo apartamento há três meses, menos tempo do que eu estou no meu, o rapaz de cabelos e olhos escuros me deu seu endereço, dizendo que eu sempre seria bem-vindo lá. Isso a menos que a polícia ou alguns membros de gangue estivessem procurando por mim. Nesse caso, Kuroo nunca me conheceu.

— Vire à direita depois da mercearia —, murmurei para mim mesmo, examinando a estrada. — Então ande pelo consultório ortodontista e você verá o meu complexo de apartamentos. O segundo andar, a quinta janela, a ala esquerda... Ou era a direita? — Sussurrei confuso, tentando lembrar-me do detalhe esquecido.

Decidi que ia a ala esquerda mesmo, tinha quase certeza que era para lá. Comecei a andar, parando bem na frente da dita janela, ajeitei aos óculos. Ela não era tão alta quanto pensei que fosse, na verdade, se não tivesse uma grade de proteção, tenho certeza de que daria para que escapássemos pela mesma caso nos pendurássemos no mármore, pisando no ar condicionado do andar de baixo para saltar, ou nos apoiando no suporte dos vasos das plantas.

𝘖𝘴 𝘢𝘮𝘰𝘳𝘦𝘴 𝘧𝘳𝘢𝘤𝘢𝘴𝘴𝘢𝘥𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘖𝘪𝘬𝘢𝘸𝘢 𝘛𝘰𝘰𝘳𝘶Onde histórias criam vida. Descubra agora