C A M O M I L A | Série Singular

"Eu também me assustava quando me olhava no espelho"

Chá de camomila pode conter vários benefícios, entre eles o tratamento de rinite alérgica, espasmos musculares, insônia, úlceras, distúrbios intestinais, e hemorróidas.

Certo, dentre vários males que o chá de camomila pode curar ou tratar o preconceito não é um deles, infelizmente.

Muitos dizem por aí que ninguém nasce preconceituoso, mas eu discordo veementemente. Não porque a sociedade o impõe. Não. A sociedade já levou culpas demais. Na verdade é porque o diferente assusta e eu entendo isso. De verdade. Eu também me assustava quando me olhava no espelho. Sim, não pense que é o único surpreso com isso. Mesmo convivendo dia a dia com minha aparência nada convencional era difícil passar pelo espelho e encarar-me com normalidade. Como se o que estivesse diante de mim fosse a coisa mais normal do mundo. Sendo que, na verdade, estava bem longe de ser normal.

Era estranho, esquisito, assombroso e diversos outros adjetivos sinônimos que podem caracterizar "estranho". Pode pensar que eu estou exagerando, mas era eu quem recebia os olhares, e mais, era eu quem eu mesma encarava como se fosse uma aberração.

Se ao menos fosse cor de canela... ou de porcelana. A verdade é que eu não sou canela ou porcelana, mas sim ambos.

Muitos podem pensar que Vitiligo não é uma doença, mas é. Uma doença autoimune, onde o próprio sistema imunológico ataca e destrói os melanócitos. Resumidamente, minhas células se atacam fazendo com que elas parem de produzir melanina. É eu sei. Fatality. Desde bem pequena fui fadada a me destruir. Seria trágico se não fosse cômico.

É como se eu fosse um mapa. Minha pele é tatuada de uma mistura heterogênea de cores que, em formatos irregulares, passa a me lembrar todos os dias que eu estava longe de ser normal. Não minta me dizendo que é normal, a menos que veja isso com frequência. Do contrário, estaria apenas tentando fazer com que eu me sinta melhor no meio em que vivo. Posso parecer dura comigo mesma, mas se tem algo que não farei, é passar-me por vítima.

Entendo sim que até posso ser, mas cabe a mim aceitar ou não os olhares julgadores e chorar no meu quarto ou ir à luta para que todos vejam que minhas duas cores não fazem de mim vítima. Na verdade, para que todos, não. Para mim mesma, pois não preciso provar que sou ou não sou algo para ninguém além de mim mesma.

Quando era menor, felizmente ou não, meus colegas não colocavam apelidos em mim. Pior: fugiam amedrontados. Deus sabe como queria que ao menos tentassem se aproximar com olhares curiosos. Sim, eu não me incomodaria com olhares curiosos nem com apelidos como "mapa", "P&B" ou até mesmo "café com leite". Qualquer coisa, menos olhares assombrados dos colegas de classe. O resto de minha infância e adolescência teriam sido muito mais fáceis.

Pode parecer que não, mas nem sempre fui assim... Lembro-me vagamente de momentos da minha infância onde eu era apenas de uma cor. Negra. Momentos que, se não fossem as fotos, passariam desapercebidos pela minha memória e acabariam com o espectro de infância normal. E se não fossem os meus pais e os meus familiares para me "colocarem de pé" toda vez que "caía", não sei o que seria de mim. Sinceramente, sou eternamente grata à Minha família que sempre me sustentou quando tudo parecia desabar nos meus ombros, me mostrando que eu não precisava carregar aquele fardo. Minha família foi fundamental para que entendesse que Jesus já havia levado o fardo na Cruz.

Creia no que quiser, pois a bíblia afirma: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. E Cristo é a verdade. Mas isso é assunto para outra história...

Sei que quando digo que sou cristã, diversos questionamentos passam pela mente das pessoas e não posso afirmar que não passaram pela minha. Como, o porquê de Deus ter me feito assim ou ter permitido que isso acontecesse comigo. É, sinceramente não sei. Mas algo me diz que seus planos são infinitamente maiores e melhores que os meus, então quem sou eu para duvidar?

Certa vez disse à Minha mãe que gostaria de não ser pintada, de não ser um mapa e que eu era um erro. "Quem te criou?" eu respondi que havia sido Deus "E Ele erra? Alguma vez já errou ou se arrependeu?" pensei e respondi que não. Ele jamais havia errado ou sequer se arrependido. "Você é perfeita, Camila. É filha da Perfeição personificada. A Perfeição corre em suas veias" pensei que estava falando de si mesma, mas acrescentou: "Deus, seu Pai, é perfeito e tudo o que Ele faz é perfeito. A ideia de perfeição da sociedade é falha. É, ironicamente, imperfeita. Só Ele pode definir o que é perfeito, porque Ele é".

Naquele dia eu me vi como jamais havia visto. Eu me vi perfeita.

Sabia que eu não precisava carregar mágoa ou culpa, muito menos raiva ou medo. Mágoa daqueles que fugiam, culpa por este ser o meu sistema imunológico, raiva daqueles que sequer falavam comigo, medo de ser olhada tortamente e ignorada como na infância e durante a adolescência.

De todos, o medo era o que me perseguia até ali. Até hoje. Até agora.

Olá, pessoas!

Essa é a Camila e espero que tenham gostado dela. É o relato dela e de como foi a vida dela quando descobriu que tinha vitiligo. As dificuldades e obstáculos que ela teve de enfrentar e vencer, etc... Não posso dizer que foi fácil para ela...

Embora estejamos no século XXI a quase duas décadas, ainda existem muitas pessoas que pensam que o vitiligo é contagioso ou feio. Bem, eu não acho. Ele tende a ser hereditário, mas os pesquisadores não têm certeza ainda.

O que achou do capítulo?

O que achou da Camila?

Compartilha do mesmo pensamento dela (de que você é um erro)?

Lembre-se, Ele nunca erra.

Beijos e uma xícara de chá!