Capa por: @NKFloro.
Dizer que seus "eus" eram opostos seria desleixo. Uma mera metáfora, para a realidade que vivia. Seu lado negro sentia vergonha e seu lado albino poderia sentir as bochechas ficarem quase vermelho-bombeiro. Uma anomalia tão incom...
Amar a mim mesma não foi algo que apareceu do nada, precisava tomar uma decisão todos os dias de não me menosprezar e entender que para mim havia um plano maior do que simplesmente viver. Também precisei entender que cada pessoa tinha seu tempo (precisei ainda mais quando todos os meus ex-colegas começaram a casar antes dos 25) e que eu não podia querer me apressar em viver algo. Foquei na faculdade de odontologia e no meu relacionamento com Jesus e posso dizer que estava satisfeita, pois nada me faltava.
Depois da festa de formatura vi poucas vezes meus amigos, (exceto por Mateus que eu via todos os dias). Já era de se esperar que aquilo acontecesse, pois por mais que fôssemos muito amigos e tivéssemos passado grande parte das nossas vidas juntos, seguimos caminhos diferentes e, assim como as bagagens, eu precisava deixar meus amigos irem. Eles precisavam seguir suas vidas e eu precisava seguir a minha. Precisava conhecer novas pessoas, fazer novos amigos. Não que eles fossem descartáveis, pois ainda sinto falta deles, mas eu precisava crescer e me virar sozinha em um novo lugar como a faculdade. Parte de mim queria que todos os meus amigos ficassem comigo para todo o sempre, mas a outra parte sabia que precisava libertá-los e, consequentemente, me libertar. Eles viraram minha zona de conforto, assim como Anagrama havia virado. Me acostumei com eles e pensei que não precisava de mais nada, mas descobri que não posso me prender a eles nem eles podem prender-se a mim. Foram meses até que eu os perdoasse e me perdoasse por termos deixado uns aos outros.
A faculdade era um ambiente completamente novo e, visivelmente, eu estava nervosa no primeiro dia. Minhas mãos, como sempre, suavam, meu estômago revirava e minhas pernas estavam prontas para falhar a qualquer mísero movimento brusco. Achava que quando as pessoas cresciam, aquele tipo de nervosismo passava, mas descobri que o novo assusta a todo mundo, por mais maduro que seja. Ao contrário das minhas expectativas, não foi difícil me acostumar com o ambiente. Todos eram muito ocupados e não era tão complicado como na escola. Claro, havia matérias e pessoas difíceis, mas era bem mais fácil lidar quando meu foco não era o que as pessoas pensavam de mim e sim me formar e ser a melhor dentista que alguém pode querer. O dente torto do Legado que me aguardasse!
Enfim, na faculdade fazer amigos era mais fácil do que na escola. Inevitavelmente, era dividida em grupinhos igual à escola, mas nada tão excluído, pois todos falavam com todos. Algumas meninas começaram a andar comigo e quando vi, já estava inserida em um grupinho de quatro meninas e um sonho em comum: sermos as melhores naquilo que fazemos. Um dia, uma das meninas que andava comigo me perguntou o porquê de eu não usar maquiagem e eu respondi que não enxergava necessidade de encobrir o meu rosto. "Se fosse eu, passaria maquiagem mais escura para deixar o rosto todo de uma cor só" eu respondi que tinha orgulho das minhas duas cores e não queria escondê-las de ninguém e ela pediu desculpas, mas eu entendi que não havia feito por mal. Ela era extremamente insegura e parecia que eu estava me vendo ali, com treze anos e uma dúvida cruel em minha mente se era boa o suficiente ou não, no caso dela, se ela era inteligente o suficiente ou não. Certo dia, estávamos conversando sobre inteligência e ela disse que estava chateada, pois sentia que não era esperta e rápida o bastante e que o mundo era das pessoas espertas. Infelizmente, tive de concordar, mas algo que me sustentava era saber que eu não levaria comigo nada daquilo que eu tinha no momento, exceto por Jesus.
Ficamos todas juntas até o final do curso e na nossa formatura nos despedimos, pois com certeza nos separaríamos alí. Naquele dia olhei para tudo o que já havia passado até aquele dia e cheguei à conclusão de que a vida era aquilo: um eterno emaranhado de encontros e desencontros que infelizmente farão parte da minha trajetória. Alguns me marcaram positivamente e outros nem tanto, mas não posso obrigar as pessoas a serem gentis ou me amarem.
Eu tinha muito preconceito com maquiagem, mas percebi que precisava me libertar do medo. Chegou a ser engraçado quando comprei minha primeira paleta. Nunca havia me preocupado muito com sombras e batons, pois nada poderia esconder minhas "manchas", além do mais eu tinha a teoria de que a maquiagem escondia quem eu realmente era e não gostaria que as pessoas tivessem uma primeira impressão falsa de mim. Era mais ou menos como o lema: Esta é a Camila verdadeira. Ame-a ou deixe-a. Mas preciso confessar que depois que percebi que melhorava a auto-estima eu passei a me maquiar um pouco.
Comecei passando poucas coisas como rímel e batom (que deixava a parte branca da minha boca estranha) e quando vi já estava comprando bases. De início pensei em comprar apenas a da pele negra, mas então pensei: por que não usar as duas cores? Não preciso escondê-las. E foi alí que eu comecei a agradecer pela minha pele exatamente como ela era. Era exótica. Era uma obra de arte.
Demorou um pouco para que eu entendesse que não apenas tinha arte em mim, mas eu também era arte. Tudo em mim foi projetado milimetricamente pelo maior artista de todos e confesso que entender aquilo foi fundamental para que eu fosse grata pelo vitiligo (finalmente). Claro que não foi de uma hora para outra, foram pequenos passos de auto-amor todos os dias que me fizeram a cada dia melhorar minha visão de mim mesma e, consequentemente, do mundo. Quando me desvalorizava me diminuindo à aparência, mal podia perceber que automaticamente eu fazia isso com todos ao meu redor. Antes de amar ao próximo precisei amar a mim mesma, pois se não o fizesse primeiro por mim, jamais seria capaz de fazer por outra pessoa.
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Olá, pessoas!
Tudo certo?
Primeiro gostaria de pedir desculpas pelo atraso do capítulo. Fiquei sem internet na quarta e só foi voltar sexta-feira, mas aconteceu o incêndio no Rio e eu fiquei tão mal em ver todos aqueles sonhos sendo enterrados alí sem aviso prévio. Meu coração se partiu e eu fiquei muito pensativa naquele dia (Sinto em dizer que não cheguei em uma conclusão confortável).
PS.: O que acharam dessa atualização?
Mas vamos ao capítulo!
O que acharam?
O que acham de pessoas que vão embora? Infelizmente é o ciclo da vida.
O que me dizem de maquiagens?
Chegamos na parte em que a Camila é grata pelo vitiligo (meu bebê cresceu).
Se veem como arte?
Complete a frase: Deus me moldou. Se Ele é artista, então eu sou uma .
PS².: Informo que este é o penúltimo capítulo, ou seja, teremos apenas mais um e será o fim. Tristes?