"Durante muito tempo evitei fazer coisas que gostava por causa do vitiligo"

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Sempre fui meio contra colocar a culpa da minha baixa autoestima nos padrões impostos pela sociedade... Continuo contra.

Não acredito que seja culpa da sociedade, pelo simples fato de que, mesmo se a sociedade não fosse do jeito que é, eu seria a mesma pessoa. A mesma menina de sete anos que se viu quase virar um camaleão. Mesmo se a sociedade não tivesse padrões, eu iria continuar olhando para o espelho e vendo a mesma pessoa insegura e diferente.

Lembro-me de quando comecei a mudar de cor como se fosse ontem...

Eu tinha sete anos de idade e tinha acabado de achar uma espinha no canto do meu nariz. Bem, eu achava que era uma espinha. Tinha ficado muito feliz, pois aquilo significava que eu iria viver um filme, talvez da Paula Pimenta (não me culpe, a maioria dos clichês adolescentes são de meninas com espinhas e caras gatos). Assim que cheguei na escola, chamei todas as minhas amigas para que vissem a minha espinha e elas ficaram impressionadas, pois aquilo só podia significar uma coisa: eu estava crescendo. Estava virando adolescente... Ledo engano. Assim que minha professora viu a "espinha", ligou para o meu pai. "É estardalhaço demais para uma simples espinha" Pensei, mas não com essas palavras.

Fomos ao dermatologista e ele avaliou minha "espinha". Ele disse que aquilo era sem dúvida vitiligo e que eu não poderia pegar sol, machucar a pele, fazer tatuagens ou me estressar. O dermatologista falou que não era contagioso, mas meus pais ainda assim ficaram preocupados. Eu era muito nova para entender a gravidade do assunto (entenda que a anos atrás não tínhamos a aceitação social que temos hoje). No outro dia, quando fui à escola, as minhas amigas perguntaram o que tinha acontecido e eu respondi "O detologista falou que pode ser verdugo e não é contagioso" e uma delas perguntou se tinha algo a ver com verduras ou se eu iria ficar verde. Eu disse que achava que sim. "Aí vai poder ser namorada do Hulk", uma delas comentou e eu fiz uma careta respondendo que preferia o Homem-Aranha.

Aquilo realmente deveria ser muito sério, porque de repente vi a "espinha" ficar cada vez mais clara e maior. Meus cotovelos, os cantos dos meus olhos e da boca e minhas mãos também ganharam "espinhas" e eu ganhei pomadas. Aparentemente, minha pele estava perdendo sua coloração e, segundo os médicos, eu estava ficando albina. De um problema a outro...

Insistentemente, eu passava a pomada e depois de um ano de tratamento a minha descoloração deu uma desacelerada, mas não parou. Aquilo era anormal de todas as formas possíveis. Acredite ou não, os médicos me olhavam impressionados e piedosos. Como se eu pudesse sofrer de alguma forma. Não posso dizer que eles estavam errados...

Enquanto minhas colegas lidavam com dilemas como cabelos lisos ou cacheados e manchas de espinhas na pele que a maquiagem escondia, eu lidava com perguntas de quando iria parar de mudar de cor ou qual das duas era a minha favorita.

Usava blusas de mangas compridas e nunca saía de saia ou shorts. Clubes e biquínis? Esqueça. Sol? Nem pensar. O calor poderia ser de 40 graus e a sensação térmica de 50, eu estaria lá de blusa de mangas compridas e calças e fugindo do sol igual um alérgico a lactose foge de leite e todos os seus derivados. Onde quer que eu andasse, todos me olhavam impressionados e também assustados. Pois é, não é fácil passar desapercebida quando se tem duas cores, principalmente quando o seu cabelo cacheado também tem duas cores.

Fato é que agora percebo que durante muito tempo evitei fazer coisas que gostava por causa do vitiligo. Seja ir ao clube ou alguma festa da escola ou de parentes. Certa vez, numa festa de formatura, precisei usar um vestido tomara que caia que meu pai havia escolhido. De início, ele achou que eu não tinha gostado do vestido, mas expliquei que o vestido era lindo e eu tinha amado, mas o "mapa" não poderia aparecer. Ele me olhou de cara feia e disse que eu estava sendo infantil me preocupando com as opiniões alheias. Não posso dizer que ele estava errado...

Por vezes já me condenei muito por me preocupar com as opiniões das pessoas, mesmo que elas nem fossem parte da minha família ou importantes para mim, mas com o tempo passei a entender-me. Não é fácil não se preocupar com o feedback quando tudo na sociedade gira em torno dele. Um restaurante, para fazer sucesso precisa receber um feedback de cinco estrelas, um local para ser aprovado e visitado diversas outras vezes precisa ser avaliado com bons comentários. A questão é que isso me incomoda. Não é fácil não se preocupar com as opiniões de outras pessoas quando  todas não têm uma tão agradável de você, mesmo que nem te conheçam. Eu realmente gostaria de não ser assim...

Sabe, às vezes sinto falta do tempo em que tudo era baseado na tentativa e erro.

Incrível como somos totalmente baseados por opiniões. E não digo dessas que são importantes para nós, digo das opiniões de pessoas que nada têm a ver com nossas vidas. Como o crush que fala algo que não gostaria de ouvir ou alguma garota da sua sala que não gosta de você, sabe Deus o porquê, e simplesmente espalha para todos que você é uma má pessoa ou junto com sua turma revira os olhos para tudo o que você faz ou fala. Não eram opiniões relevantes em minha vida, mas ainda assim não era agradável tê-las chegando aos meus ouvidos. Doía. Fazia-me pensar: Será que sou isso mesmo e não tenho percebido?

De repente tudo o que importava era só quem eu era por fora. Quem eu era de verdade e quem gostaria de ser, eram ignorados. Também não culpo a sociedade por isso, afinal o que todos nós mais queremos é sermos aceitos assim: do jeitinho especial e doido que cada um de nós é.

Depois de muita luta interna fui conseguindo me acostumar. Entendo que não posso evitar que as pessoas tirem conclusões precipitadas nem que elas falem mal de mim. Mas não ache que considero isso normal ou que eu tenha superado totalmente. É um processo...

 É um processo

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Olá, pessoas!

Gostariam de saber como tive a ideia de Camomila?

Gostaria de informar que em tudo o que eu escrevo, tento passar uma mensagem. Não é somente uma história... O meu intuito é ajudar as pessoas a superarem suas dificuldades e mostrá-las que Jesus se preocupa com os mínimos detalhes da nossa vida (seja nosso propósito ou nossa autoestima). Infelizmente, minhas personagens não são perfeitas e donas da razão, elas são falhas e sujeitas a diversas contradições (bem igual a gente, não é?). Por isso peço paciência com elas e suas transformações (o nome disso é "arco de personagem"). Até que elas cheguem à plenitude existe um longo caminho (caminho esse que não tem fim, pois precisamos sempre estar em constante evolução).

Pessoas, descobri uma atriz que é a Camila todinha! Amandla Stenberg é a que fez a Rue de The Hunger Games e Tudo e Todas as Coisas (ainda não assisti)

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Pessoas, descobri uma atriz que é a Camila todinha! Amandla Stenberg é a que fez a Rue de The Hunger Games e Tudo e Todas as Coisas (ainda não assisti). Claro, a Camila tem vitiligo, mas é assim que imagino ela. Como imaginaram?

PS.: O que ela diz no Gif é: "Aprender a se abraçar é um processo constante".

O que acham da Camila se importar com as opiniões das pessoas?

Vocês se importam? Por quê?

Dêem um conselho à Camila aqui.

Beijos e uma xícara de chá!

C A M O M I L A | Série SingularOnde histórias criam vida. Descubra agora