Eu já tinha morrido.
Não me lembro com precisão quando.
Acho que a uns 4 ou 5 anos.
E com olhos fúnebres observei enquanto todos se afastavam.
Ouve algumas chegadas nesse meio tempo, claro.
Mas eram como um flash, que traziam luz, mas que se apagavam com um piscar de olhos.
Sozinho, tentei ressuscitar, mas em vão.
Meu cadáver a cada dia padecia mais.
O tempo me corroía a pele.
Nem céu, nem inferno.
O que me cercou sempre foram aquelas paredes azuis.
O mundo lá fora seguia.
Assim como meus ex amigos, meus ex amores.
Eu já não servia para eles.
Mas sei que eles já não me serviam também.
Mas era sabido a todos que eu estava aqui.
Um corpo decrépito, sem luz, inutilizável.
Era o que eu era, e ninguém podia ou ao menos tentou se interessar.
Não ouve choro nem comoçao pelo meu ser.
Nem ao menos sabiam com exatidão quando que vim a óbito.
E agora que eu nem existo mais, olho daqui como se lamentam.
Como prestam homenagem.
Talvez culpa, ou quem sabe, por atenção.
Alguns só souberam de mim, agora que nem eu mesmo sei.
Eles também se mostram de luto.
Dizem que queriam me ajudar, dizem que tinham outros caminhos.
Isso me faz rir daqui.
Se eu pudesse lhes falar.
Diria para que economizazem o choro.
Para que olhassem ao redor, e vissem a quantidade de gente que morreu faz tempo, e que vagueia em direçao ao fim da existência.
Assim como eu vaguei.
Diria para que parassem de se lamentar pelos que não voltam e que revivessem os que ainda estão no mesmo plano.
Mas eu não posso lhes dizer.
E eles continuam a chorar.
Mas daqui não me angústio.
Não mais agora que dei um fim.
Sinto pelos que fizeram o mesmo.
E um dia o fim deles também ira chegar.
E meu unico medo é que eles não aprendam.
Assim como eu não aprendi.
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Literalizando o Caos.
PoetryNão escrevo para te livrar do abismo Eu lhe empurro para dentro dele Eu estou caindo Mas levarei o máximo de vocês comigo.