Há um passaro negro em minha janela.

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Hávia um pássaro negro
Em minha janela
Me contemplando com
Seus olhos de liberdade
Eu o encarei com um olhar de quem diz;
"Hey cara, o que você faz aqui?"
E ele apenas me ignorou
E partiu diante das trevas
Desse grande céu noturno.

Havia um pássaro negro
Em minha janela
E ele se foi
Voando por entre
A penumbra da madrugada
Gaiolas? Por favor, é tolice querer
Manter preso algo que não há como se controlar
Não se deve sustentar mentiras.

É necessário que o pássaro possa voar
Para ver e entender
Que não há companhia
Que a madrugada lá do alto
Se torna de fato fria e inquietante
Que as ruas vazias com
Todas aquelas bitucas de cigarros
E garrafas de cerveja e vinhos baratos
É a grande verdade do que somos
Ou do que possivelmente, um dia seremos.

Restos de tudo o que faz mal
As sobras que entopem esgotos
E que durante
As chuvas de Dezembro
Inundam as casas
E matam crianças afogadas.

Somos nós.

Nós queimamos seus pulmões
Após preencher os nossos com fumaça
E mesmo que você não aceite isso
Há sempre um pássaro negro
Pronto para pousar em sua janela,
Lhe mostrar do que você é feito
E assim lhe dar sua sentença.

Eles olham do topo dos prédios
E do alto dos telhados das residências
Eles enxergam toda a nossa negação
Esses pássaros negros
São a verdade de tudo o que somos
E por isso não se pode aprisiona-los
Eles precisam estar livres de nós
Para continuarem a enxergar as verdades
Que se escondem diante
Desse grande mar de trevas.

Havia um pássaro negro
Em minha janela
Mas agora ele voa
Livre por aí
Ciente de que não há esperança
Nem para o mundo
E tão pouco
Para mim.

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