Porque a maioria de nós teve o coração partido

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Alguém sempre ouvia Yoongi chorar nos intervalos, dentro do banheiro, ou numa sala de aula vazia. Às vezes, nas aulas vagas, ele ia para debaixo daquela árvore e ficava lá, resmungando baixinho consigo mesmo. Não esses choros copiosos e magoados, mas aquela coisa de chorar uma lágrima ou duas e secar rapidinho.

E, por algum motivo, eu não conseguia deixar de ficar observando, de longe, sem ele notar. Ou então ele notava e eu não percebia. Me incomodava como, depois daquela declaração, eu passara a notar ainda mais no que ele fazia por aí. Eu pensei que aquele assunto estava terminado, mas parecia vê-lo duas vezes mais que antes, porque eu o procurava. Eu queria que ele perdesse o interesse em mim, mas meu interesse por ele dobrara. Não era irônico?

Eu não sentia pena por Yoongi ou algo assim. Mas estava curioso, com toda a certeza. Devia haver um motivo por trás de suas lágrimas, é logico. Ele não devia estar sofrendo por causa da minha recusa. Era apenas uma fase, hormônios, adolescência... Quando crescesse, casasse, fizesse sexo com uma mulher de verdade, entenderia muito bem que não era para ser assim. Ele sentiria nojo daquela fase, e me agradeceria pelo fora que levou.

Mas eu não estava certo. Definitivamente, não estava certo.Sobre tudo.

Eu cansara de ver ele chorar, não aguentava mais vê-lo daquele jeito. Talvez porque eu me sentia culpado, ou porque sabia que deveria haver motivos para ele ficar pelos cantos meio triste. Não que me dissesse respeito, mas era irritante ver tantas pessoas a seu redor e ninguém o ajudando. Eu sentia sempre um aperto estranho no peito. Então, por fim, eu fui até ele, debaixo daquela árvore, e me agachei ao seu lado.

Seus olhos estavam vermelhos. Sempre estavam, porque ele sempre estava chorando. Se assustou comigo, e tentou limpar seu rosto o mais rápido possível, arrancando os fones das orelhas e fechando o livro que estava em seu colo. Ele tentou se levantar depressa, quase derrubando suas coisas, mas eu o segurei antes disso, pelo braço.

— Onde está indo? Fique aqui, eu quero conversar. — Falei, tentando mantê-lo calmo. Observei-o se sentar e olhar para frente, com o rosto rígido, como se não quisesse olhar para mim. — Olha, pare de chorar, tudo bem? Eu não quero saber o que houve, se não quiser me contar.

— Por quê está dizendo isso? — Ele murmurou, com aquele tom característico modificado pelas lágrimas. Ele ainda não olhava para mim, e eu agradeci por isso. — Você não pode simplesmente chegar para alguém e mandá-la parar de chorar...

— Toda hora que eu olho para você, você está chorando! — Eu o expliquei. — Eu não estou mandando, é um pedido. Você ao menos tem motivos para isso?

Ele esperou um pouco e depois fez um não murcho com a cabeça. Não sabia exatamente se aquilo era sincero ou se havia dito aquilo apenas para me agradar. Pareceu mais como a última opção. Eu suspirei. Sabia que era o segundo caso. Era provável que respondera que não por ser mais cômodo para ambos.

— Então, pronto. Pare de chorar. — Disse por fim e estava prestes a me levantar, quando ouvi sua voz outra vez e parei. Eu devia ser mais gentil, não é? Mas não conseguia. Quando se tratava de Yoongi, eu não conseguia pensar direito no que devia fazer, e continuava construindo aquela distância estranha entre nós.

— Porque estava me olhando? — Ele perguntou, baixinho.

— Sei lá... — Disse, estalando a língua e levantando de uma vez. Eu não tinha motivos para aquilo. Era vergonhoso ver que ele notara nisso.

Eu decidi que o ouviria um pouco depois disso. Todos os dias, depois das aulas, eu o encontrava sentado naquele mesmo lugar e conversávamos por alguns minutos. Não sei porque, mas depois daquilo, ele parou de chorar. Bem, ótimo para ele! Talvez quisesse apenas um amigo ou algo assim e eu me neguei a pensar que era porque estava próximo de mim ou algo do tipo, porque seria estranho.

30 Metas Para O Amor PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora