Janeiro: À primeira vista

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JANEIRO

À primeira vista

— Pois sou eu que não quero aqueles dois na minha casa — Narcisa disse, sentada na cabeceira da mesa, segurando com firmeza a taça de vinho tradicional após o jantar, as pernas cruzadas, o robe cobrindo boa parte de seu corpo, deixando um pouco de pele esbranquiçada à mostra. — Só Deus sabe de como eu tive que aguentar eles quando esse garoto era mais novo.

— É uma forma de retribuirmos o favor deles o ano passado — Lúcio era o tipo de homem que simplesmente ignorava qualquer comentário contra de sua mulher; ela poderia estar certa na maioria das vezes, mas ele preferia manter o seu orgulho, principalmente quando envolvia seus melhores amigos de infância. — Eu conheço eles desde pequenos, Narcisa.

— Ah, eu também conheço — ela soltou uma risadinha irônica, se desfazendo da taça de vinho e apoiando os ombros na tampa da mesa. — Eu lembro muito bem deles fumando maconha nos corredores da escola.

— Você sempre foi a certinha do grupo — ele revidou, também bebendo de seu vinho, os cabelos longos e loiros, colocados para trás da orelhas, quase o deixando com um ar vinte anos mais novo, apesar de estar chegando aos 43.

— Nunca me considerei parte daquele grupo — ela resmungou. — Diz pro seu pai, Draco, que você não gosta daquele garoto.

Draco estava bem mais preocupado com a sua sopa do que com a conversa dos pais. Desde a virada do ano, quando a família toda de sua manhã havia passado semanas alojada em sua casa, ele havia aprendido a colocar em prática seu filtro, apenas escutando aquilo que fosse realmente essencial ou que envolvesse seu nome. Naquele momento, porém, ele estava curioso com a forma que o óleo da sopa se dividia pelo líquido, como pequenas células, se dividindo e se reproduzindo, criando uma constelação de bolhas gordurosas, como uma colmeia carregada.

Narcisa e Lúcio os observavam, esperando por sua resposta, e ele só foi perceber que estava sendo chamado quando sua mãe deu o último gole em seu vinho e bateu a base da taça na mesa. Levantou o olhar, assustado, os olhos castanhos da mãe em contraste com os cabelos loiros do pai.

— Quem?

— Harry — seu pai respondeu, puxando a garrafa de vinho e se servindo um pouco.

— Estamos ficando sem vinho, Lúcio, deixe para o café da manhã — Narcisa advertiu, puxando a taça de sua mão e a fechando, logo antes de colocar ao seu lado no chão. — Como eu ia dizendo, Draco, diz pro seu pai que aquele Harry Potter é um baita de um garoto insuportável que quer ser mais inteligente e importante que todo mundo.

Lúcio conteve um sorriso, pensando que a mulher havia acabado de se auto descrever.

— Eu gosto do Harry — Draco respondeu, inocente, por alguns segundos perdendo o fio da conversa. — Digo, eu não gosto gosto, mas ele é divertido de se conversar.

— Só o que me faltava — Narcisa levantou-se, puxando a garrafa de vinho.

Lúcio meneou a cabeça para o filho, como quem diz "esquece o que ela está dizendo". A verdade era que Draco já havia esquecido, desde o momento em que percebera que estavam conversando sobre a família Potter. De súbito, lembrou-se de todos os jantares, festas e compromissos onde eles se encontravam, aqueles breves momentos que podia andar ao lado de Harry e se imaginar tão inteligente quanto ele. Já faziam tantos anos desde que haviam se visto pela última vez, que sequer pensava na possibilidade de que Harry lembrasse dele, ainda mais com o agravante de nunca terem sido amigos de verdade.

— E aquele favor -, Narcisa recomeçou, de pé na soleira da porta da cozinha — fomos nós quem o fizemos. Nunca eles teriam tantos convidados se nós não estivéssemos presente. Tanto faz, convide eles também, mas deixe explícito que é um encontro formal para adultos, deus me livre aquela criança dando pitaco nas minhas coisas.

12 Meses de Draco Malfoy - DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora