CENA EXTRA DE JULHO: A PRIMEIRA VALSA
"Abraxas Malfoy acaba de ser reeleito, serão mais quatro anos de sua administração, desse que já foi prefeito de Londres por dois mandatos consecutivos na década passada. Serão dezesseis anos sob seu governo, no total..."
Draco sentiu seu mundo revirar quando a multidão de pessoas, reunidas naquele pequeno espaço, gritaram e pularam ao mesmo tempo. Sentado em uma poltrona aveludada de cor azul, as pernas juntas, as mãos fechadas sobre as mesmas, o olhar perdido entre a pequena multidão. Seus cabelos estavam colocados para trás, com uma mecha caindo sobre o rosto, o que lhe deixava parecendo um príncipe de conto de fadas moderno, principalmente pelo terno cinza e a gravata azul, que combinava com a poltrona. De fato, quase toda a decoração do recinto era em tons azuis.
Narcisa estava sentada logo ao seu lado, vestindo um vestido de cor roxa e um colar de diamantes que havia pertencido a sua sogra. — Vamos ter que ficar aqui até que hora?
— Não faço ideia — respondeu Narcisa, olhando para o relógio e então para as pessoas. Elas não paravam de gritar, se abraçar e apertar as mãos, como se elas tivessem sido reeleitas, e não seu sogro. — Seu pai ainda tem que entrar ao vivo.
— Isso não deveria ser função do vovô?
— Seu avô está querendo que seu pai concorra na próxima eleição, ele já está criando o caminho para ele — a mulher respondeu, o mais baixo possível, naquele salão cercado de assessores da campanha de Abraxas Malfoy.
— Isso não é nepotismo? — Draco perguntou, mas apenas retoricamente. — Como vovô conseguiu se reeleger depois de tudo que ele fez no ano passado?
Narcisa cutucou o filho. — Não é o melhor lugar para falar sobre isso, Draco.
— Não é como se o primeiro-ministro ou a Rainha fosse aparecer aqui para me apagar — Draco sacudiu os ombros, sentindo-se preso naquele terno apertado. Eles não haviam percebido que ele havia dobrado de tamanho desde a última vez que usara aquela roupa? — A Rainha está mais interessada em matar as noras, para falar a verdade...
— Draco! — disse Narcisa, cutucando o filho agora com mais força.
Draco ficou quieto, levantando a cabeça e encarando um assessor, sentado do outro lado do salão, e que segurava uma grande prancheta. De repente, o salão se aquietou, antes de Abraxas entrar pela porta dupla do mesmo, rompendo a pequena multidão de assessores e familiares em aplausos, com exceção de Narcisa e Draco.
— Parabéns pela reeleição, sr. Malfoy — disse uma assessora.
— Eu sabia que você conseguiria, querido — disse a terceira mulher de seu avô, que Draco ainda tentava memorizar o nome. Desde que a avó havia morrido há quase dez anos, Abraxas já havia trocado de companheiras mais do que Draco havia saído de casa.
Draco se viu obrigado a levantar para abraçar o avô, que o segurou em seus braços com mais força e por mais tempo que o restante das pessoas. — Como é bom ter você aqui, meu neto. Vamos sair para jantar hoje, o que você vai querer?
— Eu não tenho mais sete anos, vô.
Abraxas riu, bagunçando o cabelo de Draco. — Está enorme esse cabelo, vamos cortar, hein?
Draco escondeu uma careta. Esperou que seu avô se afastasse para abraçar outro assessor e virou-se para a sua mãe. — Vou dar uma volta.
— Fique perto, Draco.
Ele apenas concordou, já tirando o telefone do bolso e deixando o salão da emissora de TV. Os resultados das eleições para Prefeito da Grande Londres havia acabado de sair e Draco conseguia ouvir as comemorações pela cidade, além de ver, pela janela do terceiro andar, uma pequena multidão que comemorava a vitória de Abraxas. Draco não conseguia se recordar da última vez que havia visto o seu avô sem que ele estivesse acompanhado de secretárias e redes de TV.
Encostou-se contra a parede do corredor, afastado o suficiente para que conseguisse ouvir e ouvir Harry do outro lado do telefone. Não demorou dois toques para que o outro atendesse.
— Você vai aparecer na TV?
— Não.
— Por que não?
— Porque eu não quero fazer esse papel ridículo — Draco resmungou.
— Eu já estava com a TV ligada, mas como você não vai aparecer mais... — Draco escutou, de fato, a TV se desligando do outro lado da linha. — Como você está, feliz demais ou entediado demais?
— Puto demais — respondeu, batendo o pé contra a parede. — Você não pode me tirar daqui?
— Meu pai está com o carro e a minha moto está no mecânico.
— O que aconteceu?
— Nada...
— Harry...
— Eu estou bem, Draco — a linha ficou muda do outro lado. — Você sabe que eu votei contra o seu avô, não sabe?
— Eu sei — Draco olhou para seus sapatos. — Eu também.
Os dois riram, abafando suas risadas. Ficaram em silêncio, um escutando apenas a respiração do outro; e aquilo, de alguma forma, era reconfortante. Draco poderia passar uma tarde inteira apenas deitado sobre o peito de Harry, escutando sua respiração, sentindo seu peito levantar e descer, com o toque de seus dedos naquela pele macia e quentinha de Harry.
— Eu estou com saudades — disse, quase sussurrando.
— Como é? — Harry disse, rindo. — A ligação está horrível.
Draco desviou o olhar, mesmo que de seu próprio reflexo no vidro. Como Harry conseguia deixá-lo encabulado até mesmo pelo telefone? — Eu disse que estou com saudades, de ti...
Harry não disse nada.
— Ouviu?
— Ouvi — Harry disse e, no fundo, Draco conseguia ouvir o som do teclado de seu computador. — Eu também estou com saudades, Draco.
Draco soltou o ar, aliviado. Achou que estava fazendo um papel ridículo. Naquele momento, na verdade, ele queria dizer que o amava, que queria passar todos os dias ao seu lado, que queria dançar para ele, que queria adormecer em uma banheira com Harry, como assistia nas comédias românticas. Ele queria tudo com Harry.
— Não sei se vamos nos ver tão cedo...
— Por quê?
— Meu pai está com uma agenda lotada com meu avô e eu vou ter que ir junto...
— Você não pode ficar aqui?
Draco olhou para a sua mãe, do outro lado da porta de vidro. — Não sei, não quero deixar minha mãe sozinha nessa loucura. Ela já é adulta, mas ninguém merece ficar ouvindo um político velho vinte e quatro horas por dia.
Silêncio novamente, o som do teclado do outro lado da linha.
— O que você está fazendo?
— Terminando minha aplicação, para a universidade — Harry disse.
— Quer que eu desligue?
— Não! — Harry disse, apressado. — Fica, eu gosto de te ouvir respirando.
Draco sorriu, envergonhado mais uma vez. Pensou em dizer que havia pensado na mesma coisa, mas deixou aquilo ali, aquela breve demonstração de aconchego de Harry. Se estivessem juntos, Draco agora estaria deitado nos pés da cama de Harry, de barriga para baixo, lendo algum livro, enquanto o namorado digitava descontroladamente em seu computador.
Ele não sabia dizer quando eles haviam desligado, provavelmente quando a recarga de Draco terminou ou a sua bateria, mas tinha certeza que, durante o trajeto de retorno para casa, nos bancos traseiros do carro de seu avô, ele ainda ouvia Harry respirando e aquele incansável som de seus dedos contra o teclado.
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12 Meses de Draco Malfoy - DRARRY
RomanceA vida do empático Draco Malfoy muda radicalmente quando ele conhece Harry Potter, o filho do melhor amigo de seu pai e o garoto que acaba despertando sua sexualidade. Uma amizade, que se transforma em desejo e, por fim, tragédia. Contada em treze...