Maio: A primeira vez

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Narcisa levantou-se cedo no sábado. Havia uma certa época de sua vida que costumava ir às missas de final de semana que a igreja comunitária oferecia aos moradores. Desde que Draco nascera, porém, nunca mais havia se aproximado daquele lugar. Acordar cedo, no entanto, havia se tornado uma tradição. Em determinados dias da semana, se deixava dormir um pouco mais do tempo que deveria ou simplesmente continuava na cama, olhando para o teto e para os vitrais coloridos perto do lustre.

Não fazia muito tempo que começara a trabalhar com a caridade. Uma amiga iria mudar-se para Portugal e precisavam de alguém para assumir o cargo.

— Eu acho que você vai ficar bem — lembrava-se da voz da mulher, enquanto as duas navegavam entre caixas e caixas de arquivos no subsolo do centro de caridade. — Você ajudou por anos aquela igreja, não ajudou?

Narcisa não sabia muito bem o que responder. — Draco está cada vez mais difícil de criar, tive que abdicar de algumas coisas.

— Filhos são uma coisa difícil — a mulher respondeu, achando o arquivo que procurava. — Quando eles crescem então, fica muito mais difícil. Mas no final das contas, é uma boa grana, apesar de ser caridade. A igreja sempre vai te dar um dinheirinho no final do mês por seu esforço.

Narcisa concordou com a cabeça. — Eu já suspeitava.

— Nem mesmo Jesus nunca errou — Janine, a mulher, disse, abrindo a porta para fora do subsolo. — Precisamos de algum apoio, certo? Assim como essas pessoas precisam, nós também.

Elas estavam de volta para o centro de caridade. Um grupo de garotas do ensino médio ajudavam recolhendo agasalhos para a campanha do inverno e Narcisa pensou que elas deveriam estar em busca apenas de alguns créditos para a escola. Do outro lado, um senhor ajudava uma mãe a ficar calma por conta do desaparecimento de seu filho. Pensou que, na verdade, o velho deveria estar em busca de mais uma joia de reconhecimento, como aquela que carregava no pescoço, por ter sobrevivido a segunda guerra.

— Tudo certo, então? — a mulher mexeu em sua mesa e entregou um pacote para Narcisa. — Aqui estão as chaves dos portões, do subsolo e da sua sala no final do corredor. Vou ficar por aqui o resto do final de semana, então você pode começar na segunda-feira. Sobre a parte da comissão, não comente com ninguém, está certo? Você agora faz parte de uma família rica, então creio que não vá precisar tanto assim.

Narcisa balançou a cabeça, agora de pé no meio do seu quarto. Nunca mais em toda a sua vida havia encontrado Janine novamente e, pelo que sabia, a mulher havia fugido com o marido por conta de uma fraude na igreja. Aquilo parecia tão recente, mas já havia se passado tanto tempo.

Caminhou até o banheiro, ligou a banheira com a água morna e voltou para o quarto, onde colocou sob a cama a roupa que usaria naquele dia. Nada de saias e saltos altos, talvez precisasse começar a passar um novo ar para as pessoas. Colocou um vestido florido na cama e sapatilhas de cor única no chão perto da cama. Sem colares, aquilo era ridículo. Uma pulseira talvez, mas discreta, nada de coisas muito grande.

Deitou na água morna com a cabeça para fora, os cabelos caindo para fora da banheira, em uma onda de cabelos escuros. Cabelos esses que de forma alguma haviam refletido em Draco, que sustentava os cachos loiros de seu pai, da raiz às pontas. As pessoas costumavam dizer que não havia nada de parecido entre Draco e ela e isso a machucava, mais do que as pessoas diziam. Já estava sendo ajudada pela família Malfoy a bastante tempo e agora diziam que Draco era, realmente, uma versão do pai. Um nó na garganta se formava sempre que escutava tais palavras e um no estômago sempre que controlava para não rebater com xingamentos.

O banho morno ajudava com a dor de cabeça que sentia todas as manhãs, sem contar que seu corpo entrava em um estado de descanso e prazer, quando sentia cada poro renovado pela água e pelas colônias que deixavam a mesma de várias cores. Os vitrais do banheiro, também, ajudavam para deixar a água em uma fusão de cores e sentimentos.

12 Meses de Draco Malfoy - DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora