Elas eram passageiras, vinham como quem não queriam nada. Chegavam sem avisar e sem pedir licença, faziam bagunça e sequer pensavam em arrumar depois de feita. Molhavam o chão e levantavam aquele odor familiar; por mais que muitos gostassem, nunca era um bom presságio. Desde maio, nenhuma sequer havia atormentado, nem mesmo sinal por nuvens havia mandado: estavam mansas, caminhavam despercebidas, infiltradas, em busca da primeira e derradeira oportunidade de estourar. Chuvas de verão eram como filhos mais velhos, desapareciam tão cedo quanto surgiam, mas deixavam danos permanentes. Para Draco Malfoy, ele era a chuva de verão para a sua mãe, a tormenta tardia para seu pai e, com esperança, esperava ser o vendaval sem precedentes para Harry Potter.
A chuva caia ferrenha do lado de fora, conseguia escutar as gotas pesadas no telhado e a pontilhar as janelas. Draco estava deitado com o rosto enterrado no travesseiro, o corpo subindo e descendo em sua respiração regular, apesar de já acordado. As madeixas loiras caiam por seu rosto, cobrindo as orelhas, e criando um ninho amarelado no travesseiro macio e cheiroso de Harry. De fato, o moreno estava deitado bem ao seu lado, barriga para cima, as pernas abertas e esticadas, o corpo descoberto, quase brilhando com as ainda existentes faíscas do sol que atravessavam a cortina, servindo de apoio para o corpo de Draco.
No dia anterior, os dois haviam atravessado a noite no quarto, arrumando e dobrando roupas, tentando fazer com que todos seus objetos pessoais coubessem dentro das duas mochilas que poderiam levar. Qualquer peso a mais do que isso acabaria por se tornar um fardo pesado demais para que carregassem durante as semanas em que ficariam longe. Os pais de Harry haviam passado boa parte da noite tentando escutar o que se passava no quarto do filho, pensando nas mais variadas perversidades que poderiam estar acontecendo. E por mais que tivessem desistido antes mesmo da meia noite, ao amanhecer, enquanto preparavam o café da manhã, continuavam seguros de que o filho e o visitante estavam transando. Harry e Draco, porém, não tinham motivos para sentir vergonha quando descessem para o desjejum; estavam em paz consigo mesmos e cientes de que o que tinham feito não era nada de errado. Arrumar as malas, ocasionalmente se abraçar e trocar beijos não tinha nada de errado – e muito menos o que haviam tentado posteriormente e que fora abruptamente interrompido com uma tosse de James quando já estavam despidos o suficiente para que um visse o corpo do outro em toda sua forma. Acontece que, desde a quarta vez em que haviam feito, no quarto de hóspedes de Luna Lovegood, eles estavam perfeitamente acostumados com o calor e o corpo um do outro.
Draco sentia seus dedos alisar o peito macio e liso de Harry, por onde uma fileirinha rala de pelos parecia crescer por entre os mamilos. O moreno tinha a pele quase dourada, o corpo firme e durinho, principalmente no abdômen e nos braços. Apesar de magro, Harry mantinha o corpo definido, mas sem precisar frequentar academias; nada além do futebol que jogava nos finais de semana. O corpo de Draco, ao contrário, era molengo. Os braços e a barriga, apesar de magro, eram fofos e macios, sem qualquer vestígio de um dia ter feito exercícios físicos para manter o abdômen firme. Eles eram tão diferentes, mas tão iguais ao mesmo tempo que Draco ainda se surpreendia com o fato de que, antes daquele primeiro encontro em sua casa, eles nunca tinham se visto.
— Você já está me encarando a horas, Draco — a voz irrompeu o som da chuva e do vento no lado de fora. O loiro levantou o olhar e encontrou os olhos verdes do namorado, ainda semicerrados do sono. — Meu corpo, na verdade.
Um sorriso esboça-se no rosto pálido de Draco, suas bochechas assumindo uma coloração rosada. Eles se aproximaram e seus lábios encostaram-se levemente, um beijo rápido, mas não significativo: eles haviam atingido o ponto no relacionamento que um selinho já significava muita coisa. — Acordei com a chuva.
— E eu dormi com ela — Harry disse, arqueando o corpo e apoiando-se pelos cotovelos — depois de adormecer observando o teu corpo.
Draco sorri novamente, virando o corpo e, assim como o namorado, ficando de barriga para cima, olhando para o teto. Harry dormia no ponto mais alto da casa, em um sótão que fora esvaziado para se transformar em seu quarto. Não muito diferente de seu próprio quarto, o de Harry tinha muito mais livros e sapatos do que sua mãe havia imaginado; para Narcisa Malfoy, os Potter eram sinônimos de preguiça e falta de cultura. A mesma nunca pensaria que Harry era a pessoa mais letrada e que mais havia lido livros que Draco já havia conhecido – e Draco conhecia bastante gente. — Então você também ficou me observando.
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12 Meses de Draco Malfoy - DRARRY
RomanceA vida do empático Draco Malfoy muda radicalmente quando ele conhece Harry Potter, o filho do melhor amigo de seu pai e o garoto que acaba despertando sua sexualidade. Uma amizade, que se transforma em desejo e, por fim, tragédia. Contada em treze...