Acorde

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   Eu lhes contarei agora algo que por mais desesperador que seja provavelmente pensarão "isto é apenas sua imaginação, Ito Takashi-sensei!". Não é minha imaginação. Não. Mesmo.

   De certa forma, tudo começou em uma noite de quinta-feira em meados de abril enquanto eu estava sentado num banquinho em uma Praça de Kanto, vendo as flores de sakura caírem pelo chão. Era época de hanami e eu esperava ansiosos a viagem que faria com minha esposa Hinami e meu filho Ame para nossa "terra natal", Takayama, e ver as sakuras no festival da primavera. Repentinamente, cortando meu devaneio de minhas férias, uma aluna minha toca levemente meu ombro chamando minha atenção.

   -Ito-sensei que incomum vê-lo por aqui! –ela disse e se não me falha a memoria seu nome é Naomi Sato. Naomi sorria forçadamente, como se estivesse preocupada com algo importante- Eu ouvi que o senhor iria tirar férias e achei que já teria ido.

   -Irei nesse sábado, minha esposa ainda tem assuntos do trabalho a tratar por aqui.

   -Entendo... O senhor ouviu o boato que corre sobre a estação de trem? Coisas estranhas têm acontecido por lá e temo pelo meu querido professor de historia. –seu rosto me dizia que não eram apenas "coisas estranhas" que vinham ocorrendo, mas se ela não me deu detalhes, algum motivo deve ter, um motivo serio.

   Aquela falta de informação me intrigou, porém naquele momento minha esposa vinha ao meu encontro. Virei-me para cumprimenta-la e quando voltei minha atenção para a menina, ela não estava mais lá. Procurei-a ao redor sem sucesso, logo depois me esqueci de tal assunto. Minha esposa mais tarde me disse que tinha me visto conversando a sombra de uma arvore, mas com minha fama de sonhador ela não deu importância.

   O resto do dia ocorreu como planejado. Na noite de sexta-feira, eu tive um pesadelo deveras perturbador com a tal menina, ela pedia-me ajuda caída nos trilhos do trem, suas vísceras e ossos a mostra e toda a parte inferior do seu corpo havia sido esmagada e dilacerada completamente, ela suplicava e implorava "dê-me minhas pernas!" enquanto se arrastava na minha direção e puxava a bainha de minha calça, tingindo a mim e ao solo com seu sangue. Fui retirado daquele pesadelo infernal por minha esposa que, preocupada com o que eu sonhava, acordou-me com um copo de água gelada em minha face. Enquanto eu secava meu rosto com uma toalha branca de algodão, minha querida Hinami dizia que eu gritava "pernas! Pernas!" enquanto dormia e me debatia, suando frio. Tais comentários me perturbaram profundamente, porém não iria cancelar a viajem que faria por causa de apenas um pesadelo.

   Eu deveria ter cancelado o quanto antes.

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⏰ Última atualização: Nov 10, 2018 ⏰

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