Estou aqui

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(Então gente, essa historia é um aprimoramento da anterior "dia de chuva" que faz parte de outro livro meu. Qualquer semelhança tem esse motivo. Não é falta de imaginação!)

Estou novamente em meu quarto, as luzes estão apagadas e a janela aberta me deixa ver as estrelas. "Ah, as estrelas... Elas nao precisam fazer nada para serem notadas, apenas viverem e brilharem e mesmo quando morrem continuam sendo lembradas por milhões de anos luz.
Eu queria ser como as estrelas, apenas fazer o que sei e ser notada por isso ate depois da morte" enquanto pensava a musica parou, coloquei novamente do inicio "i'm still here" de Go Go Dolls para tocar e recomecei a pintar. 

Algumas pessoas acham difícil e até impossível desenhar no escuro que dirá pintar mas mesmo assim eu fazia, para mim era algo mais confortável e prazeroso do que com alguma iluminação forte já que eu dependia da luz da lua e estrelas. Traço por traço, ponto por ponto eu fui. A forma da lua que eu via da minha janela foi sendo criado, logo depois o céu escuro e finalmente as estrelas. Peguei a tinta branca e tracei as sombras e o brilho da lua e das estrelas. Para finalizar fiz abaixo da lua um lago que a refletia em seu esplendor, fiz suas ondulações com um tom mais escuro de azul e finalmente meu lindo quadro estava pronto. 

Me levantei da minha cadeira e olhei meu quadro com satisfação, estava aprovado. Assinei embaixo do lago e o deixei secar enquanto olhava em volta. 

Comecei a procurar espaço para minha obra, no chão do meu quarto haviam varias outras parecidas: lagos, estrelas e luas. Parei na frente de um desenho a lápis que eu tinha pendurado em minha parede. Viam-se poucas estrelas no céu e era retratada a superfície de um planeta que tinha duas luas, uma menor que a outra, mas mesmo assim unidas. Abaixo do quadro havia escrito uma assinatura diferente, meio infantil, e o nome dele que era 'Matre e Ditre orbitando Janus'. Aquele foi meu primeiro desenho de que eu tive orgulho. Lembro-me de estar no fundamental quando o desenhei na aula de artes, "que lindo Cloe, esse e marte?" perguntou meu professor, "não, esse é Janus" eu respondi, logo depois começaram a achar que eu vivia em outro mundo. Criativos não?

O ultimo verso da musica tocou e acompanhei baixinho para meus pais não ouvirem:
"E eu quero um momento para ser real
Quero tocar coisas que não sinto
Quero abraçar e sentir que este é o meu lugar
E como eles podem falar que nunca mudarei?
Eles que continuam os mesmos
Eu sou único agora
Porque eu continuo aqui
Eu sou único
Porque eu continuo aqui
Eu continuo aqui
Eu continuo aqui
Eu continuo aqui".

"Eu realmente estou aqui? Estou viva?" novamente essas perguntas vieram na minha mente, e eu ainda não havia as respostas. A musica se repetiu enquanto eu arrumava um lugar ao lado do desenho de Janus para minha nova criação. Nas paredes só ficavam minhas melhores pinturas e as minhas favoritas como 'o grito' de Edvard Munch que por sinal é o meu pintor favorito. 

Há um tempo eu tinha feito um quadro baseado nesse, chamei de 'O pensamento' que retratava una garota tapando os olhos em uma ponte semelhante a do quadro. Eu gosto desse tipo de pintura realmente e penso as vezes que elas foram pintadas para eu apenas descobrir seus segredos escondidos entre pinceladas. 

Uma chuva fina começou a cair, apertando logo em seguida me impedindo de ver as estrelas pela janela. Parei pra ver a chuva por um momento e voltei ao que estava fazendo, pendurando meu quadro já seco, na parede ao lado de Janus e voltei ao meu computador. 

A tela mostrava cinco notificações de meus sites de arte e as abri. Duas delas eram comentários de meus quadros e duas eram de quadros novos de meus pintores anônimos que eu amava. A ultima das notificações era uma mensagem do chat de alguém que eu não conhecia, por curiosidade eu a abri e li:
 "Você é única? Continua viva?"
Achei estranho as perguntas, como se questionassem a música e meus pensamentos de minutos atrás. Pausei a musica e continuei olhando para a tela, logo minha mãe me chama para alguma coisa:

-Cloe, melhor pegar uma vela. Com essa chuva pode ser que... - mal minha mãe acabava de falar um apagão ocorre mergulhando a todos na escuridão -... Acabe a luz.

-Acho que seu aviso foi um pouco tarde demais mamãe. - ando tateando as coisas a procura da porta ate finalmente tocar a maçaneta fria e abrir a porta dando de cara com minha mãe segurando uma vela em um copo e algumas outras na mão junto a uns fósforos.

Eu tinha pegado umas velas com minha mãe tendo duas delas acesas ao meu lado. Verifiquei meu celular ainda carregado e vi as horas no display:
02h24min da madrugada
Iria fazer duas horas que a luz tinha acabado.

Minha mãe tinha ido dormir à uma hora, ela odiava esperar as coisas e ainda mais a luz. Já eu preferi desenhar, peguei papel e lápis e tentei desenhar o meu quarto.

Usando a expansão de luz das velas eu desenhei minha parede cheia de quadros, meu armário com uma das portas abertas e a escrivaninha com o abajur em forma de lampião desligado e as velas ao lado dele. 

Sorri ao ver meu desenho terminado, tinha ficado bonito. Iria passar para uma tela depois que a luz voltasse pintar no escuro e fácil, mas achar a tela e as tintas necessárias dentro do meu closet era outra história.

Desisti de esperar a luz voltar então, cansada de fazer nada, fui me deitar agarrada a meu leão de pelúcia que tenho desde os sete anos. Seu nome era Leonard em homenagem ao pintor e sinceramente ele era meu melhor amigo. O coloquei ao meu lado passando um braço por baixo dele e fiquei olhando para a escuridão que se instalava de acordo que as velas iam se desgastando até acabar dormindo. 

Assim que mergulhei no sono, emergi na loucura. Eu estava em casa e a luz tinha acabado de voltar, estava vestida totalmente de branco e isso me surpreendeu já que não uso branco nunca por causa da tinta. Sai do quarto e percebi que havia uma névoa densa e baixa em minha casa, coisa curiosa já que estamos na primavera. Comecei a explorar para saber de onde vinha aquela névoa toda e vi o quarto dos meus pais aberto, parecia vir de lá a névoa. 

Entrei e me deparei com algo também intrigante: meus pais sentados na cama e conversando sobre algo que não pude ouvir. Seus corpos pareciam feitos de tinta e tudo no quarto incluindo eles parecia uma pintura em preto e branco, pinceladas eram vistas nas paredes e em suas peles, a escrivaninha e o resto dos moveis em um tom de cinza e eles em outro, os traços desenhados perfeitamente como se a caneta. Aquilo estava ficando cada vez mais estranho pra mim ate que senti algo peludo roçando na minha perna esquerda, olhei pra baixo e dei um pulo de susto. 

Era Leonard.

Meu leão de pelúcia se esfregava em minha perna como um gato, parecia que tinha ganhado vida como em um desenho da Disney. Ele abriu a boca como se para rugir e em vez de som, dela saiu névoa. Branca e densa névoa. O medo começou a se instalar dentro de mim, eu odiava quando não sabia o que estava acontecendo e isso me amedrontava.

Ate que eu acordei.

Cheguei, escrevi e corriOnde histórias criam vida. Descubra agora