Flagra

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POV Camila

-Pronto? - Sofia pergunta assim que entro no seu carro. Eu aceno, com um sorriso sem graça. - Eu vim te buscar hoje pra eu esclarecer umas coisas. - Ela diz sem me olhar e eu fico calada, esperando a continuação. - Isso foi uma bomba na minha cabeça. Sério. Eu não sei nem o que pensar ou o que sentir. Eu passei a vida toda imaginando como seria ter um irmão gêmeo, até fantasiei algumas vezes a gente trocando de lugar, como naqueles filmes. - Meus olhos começam a marejar, mas me recuso a chorar agora. - Eu nunca entendi direito o motivo dele não querer falar sobre esse assunto, toda vez que eu perguntava pra ele, ele desconversava e, pra mãe, parei de perguntar já que ela sempre chorava. BABACA, COMPROU A HABILITAÇÃO? - Ela grita quando um carro vermelho fecha ela. - Desculpa, isso realmente me irrita. - Eu acabo sorrindo da sua irritação. - Enfim, domingo meu mundo caiu. Mesmo. - Meu sorriso some, enquanto ela estaciona o carro. - Camila, por favor, acredita em mim: Eu não sabia de nada. Se eu...

-Eu acredito em você, Sofia. Não te culpo.

-Ela também não sabia. Eu posso falar isso. Por mais que eu esteja magoada por ela não ter me contado quando soube a verdade, eu sei que ela não sabia. - Eu respiro fundo e olho pela janela. - Ela sempre ia até o cemitério onde você, supostamente, foi enterrada. Eu fui com ela algumas vezes, mas doía demais ver ela se acabando de chorar toda vez. - Olho para ela, com uma lágrima já escorrendo. - Ela ainda tem suas roupinhas, algumas que você nem usou.

-Sofia, você não entende...

-Você tem razão, eu não entendo. Eu tive a sorte de ser criada com um pai e uma mãe, em uma casa, ter presentes e festas. Eu não posso nem imaginar o que você passou. Mas acredita em mim. Eu conversei com ela, briguei com ela, chorei com ela depois de tudo que eu soube.

-Ela me falou na merda de um banheiro de um parque! - Falo revoltada. - Que porra de consideração é essa?

-Essa foi a pior merda dela, concordo. Mas ela tava desesperada. Ela disse que percebeu que você já tinha juntado os pontos e que, quando você saiu, ela entendeu que você não tocaria no assunto. - Solto um riso debochado.

-Claro, ia chegar nela e dizer: "Então, moça que eu só vi uma vez, eu tenho certeza que sou sua filha biológica que foi deixada na porra de um orfanato sozinha POR ANOS. Muito prazer!"

-Eu não tô te julgando, tampouco tô defendendo a atitude dela. Mas não vou negar que, por um lado, eu até entendo o motivo dela ter feito o que fez. - Olho descrente para ela. - Ela achou que era a única chance de te falar a verdade, foi uma atitude desesperada dela.

-Ela parecia bem calma enquanto arrancava o chão sob meus pés.

-Ela tem essa "habilidade", mas eu conheço ela. Se o Alejandro não tivesse tirado você da nossa vida, você também conheceria. Se ela estivesse calma, ela jamais teria te encurralado daquele jeito. Ela tem esse jeito de agir como se nada abalasse ela de fato, mas ela não é cruel do jeito que ela foi com você. Eu briguei muito com ela depois de tudo e ela se odeia por ter agido daquela forma. Ela queria se desculpar, mas achou que você não queria ver a cara dela.

-Ela achou certo.

-Mila, eu não vou pressionar. Eu só posso imaginar o que você tá sentindo agora, mas, por favor, não me afasta. Vamos, pelo menos, tentar reconstruir o que foi tirado da gente. Quando você estiver de cabeça fria, você decide sobre nossa mãe, sem pressa. Ela me disse que está disposta a esperar o tempo que você quiser. Mas não me afasta, não dê esse gostinho pra aquele homem. Era exatamente isso que ele queria. AAAAHHH! - Ela grita quando alguém bate no vidro do carro e assusta ela. - Nossa, Ari. Quer me matar de susto? - Ela pergunta quando abaixa o vidro.

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