Abraço, Conversa e Flagra

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POV Camila

-Atrapalho? - A voz rouca de Mommy , nos arrancando do transe.

-Não... Não. Tá tudo bem. Só queria passar algumas coisas do serviço pra Mila. - Eu olho para Ari interrogativamente, mas ela apenas sorri sem graça.

Nos levantamos e vamo até a cozinha pegar os copos e seguimos para sala, onde eu encontro Gabs deitado no colo de Liz e Ally dizendo que Cheechee está mal e que vão embora. Eu imagino o quão mal ela está e eu confirmo quando ela se levanta e é possível ver uma pequena mancha escura entre suas pernas, claramente o tecido dali foi molhado. Mas, pelo jeito, ninguém mais percebeu, então eu tento disfarçar e controlar o riso.

-Laur, é melhor a gente ir também. - Mommy revira os olhos e concorda, deixando um selinho em mim e um beijo na testa de Gabs, enquanto Mani beija Ari.

-Venho buscar vocês, tá bom? - Mommy avisa, antes de sair pela porta e eu concordo.

-Como vocês dois se conheceram, Mila? - Liz pergunta e eu procuro Gabs com o olhar, pedindo autorização para contar, mas ele só dá de ombros.

-Hum... Eu tava no carro com a Lauren, quando a gente viu ele correndo e uns meninos atrás dele. Os meninos encurralaram ele e a Lauren se meteu no meio, conseguindo espantar os meninos, mas o Gabs tava bem machucado, então a gente levou ele pra casa. E ele ficou em casa mesmo, já que a gente descobriu que os pais maltratavam ele por ele ser trans.

-Você apanhou, Gabriel? - Gabs dá de ombros timidamente. - Você apanhou por ser trans? Seus pais não fizeram nada? - Soltou um riso ácido.

-Fizeram. No dia seguinte, quando a Lauren foi com ele na casa dos pais dele, o pai dele bateu ainda mais nele. - Falo amargamente.

-Você tá brincando comigo. É isso, né? - Ela pergunta incrédula e eu nego.

-Ele ainda tem os hematomas, pelo menos ele não tá sentindo tanta dor.

-Isso é um absurdo! - Sofia se indigna. - Maltratar e abandonar um filho POR ISSO? Se eu estivesse lá, eu teria espancado eles pra ver o que é bom.

-A Lolo fez algo parecido. - Dou um sorriso de canto e Gabs sorri de volta.

-Ela apertou as bolas dele, até ele cair no chão de dor. Foi engraçado.

-Teria sido mais se você não tivesse ficado machucado. - Liz reclama.

-Elas estão cuidando bem de mim, tô bem melhor. - Liz dá um sorriso doce.

-Fico feliz por isso, pequeno. - Na mesma hora Gabs olha para mim, surpreso pelo apelido.

-Mas e você, Mila? - Sofia pergunta. - Já passou por situações assim? Sabe... Por causa da sua diferença e tal.

-De um certo modo, sim. - Digo sem graça.

-Como assim? - Ari pergunta e, ao mesmo tempo, Gabs se levanta e vem me abraçar.

-Melhor mudar de assunto. - Ele diz baixo e eu tento engolir o choro. Odeio como essa merda toda me afeta.

-Quem foi o cuzão ou a cuzona que fez isso, Mila? - Sofia pergunta e eu só nego com a cabeça, deixando claro que não vou responder.

-Deixa pra lá, não vale a pena falar disso. - Digo simples e, mesmo a contra gosto, elas não insistem no assunto.

Algumas horas se passam e, quando Sofia e Liz dizem que vão embora por causa do sono, então Ari diz pra elas dormirem ali mesmo. Dessa forma, em instantes o colchão do quarto de hóspedes está no chão da sala, onde Sofia e Liz se deitam. Liz, ao notar que Gabs está bocejando, chama ele para se deitar ao seu lado, mesmo ele negando por vergonha, ela insiste e ele se junta a elas. O sono do menor é tanto que, assim que ele se deita, ele dorme de costas para Liz, que já está quase dormindo também, mas se aproxima dele, abraçando ele protetoramente. Eu sorrio com a possibilidade de Gabs estar sendo correspondido. Meu sorriso aumenta ao notar que ele se aconchega ainda mais nela.

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