CAPÍTULO 11

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HORATION

quinze dias depois...

Quinze dias desde a última vez em que vi Mia pela janela daquele quarto, com o semblante apavorado olhando em minha direção. Desde que havíamos voltado de Soledad, há dois dias, eu resisti voltar para casa, tanto para evitar que ela tivesse qualquer tipo de pensamento ruim sobre mim, quanto para não deixá-la com mais insegurança em relação ao futuro. Por dois dias, foquei minhas atenções em derrubar todos os sites que envolviam aquelas crianças que foram resgatadas. Nada nunca me pareceu tão difícil! Navegar por aquela porquice e ter que me contentar com a frustração de, mais uma vez, não ter conseguido colocar as mãos em ninguém!

Acontece que não nos movemos para cima de Aaron Szlachta. Pensamos em atacar, mas no momento crucial de nossas investidas, ele simplesmente entra em contato conosco, agradecendo por termos acabado com tudo aquilo, mas nos advertindo para sairmos de suas fronteiras. Matteo congelou nossos homens naquele instante. Se o próprio Capo da Astuzia agradeceu aos seus inimigos por terem acabado com a festa de seus homens e a única coisa que o incomodou em tudo, foi somente o fato de termos invadido o seu território, talvez ele realmente não tivesse o que temer. Szlachta nunca foi conhecido por ser um homem temido e cruel. Tinha se tornado Capo cedo demais, depois que o seu pai, Henry Szlachta, faleceu em um misterioso acidente de carro. Ele mantinha suas tradições e costumava tomar atitudes conscientes e diplomáticas para evitar conflitos maiores. E eu, particularmente, o respeitava por isso. Raramente ouvíamos falar sobre seu envolvimento com fracassos em missões ou assassinatos em massa cometidos por seus homens. No final das contas, Aaron também fosse uma vítima de sua confiança plena e diplomacia para com os seus.

Nós o respeitamos e deixamos a cidade de Soledad, como ele havia nos pedido. Matteo se negou a compartilhar com ele as investigações que fizemos ao longo dos anos, alegando que não tinha a intenção de se redimir unindo as nossas forças, ainda que em prol de algo maior. Voltamos para casa e, enquanto Matteo procurava descansar um pouco nos braços de alguma mulher indistinta, eu me mantive onde estava.

Fiquei de olho em Charlotte e pude acompanhar seus pequenos desenvolvimentos dos últimos dias. Ela era bastante inteligente. Parecia saber exatamente o que fazer a cada instante e eu sentia que ela não teve problemas em confiar nas pessoas que a estavam rodeando. Fiz questão de garantir o melhor. Não só para ela, mas para todas as outras. O fato de somente Charlotte ter sido trazida para tão perto de nós, diferente das outras crianças, estava na importância que ela tinha para seus abusadores. Ela era a única menina a estar num hotel de luxo e receber a atenção repugnante da nata aristocrática, consequentemente, era a única que possuía informações mais valiosas. Talvez ela pudesse nos ajudar. Precisava ganhar mais confiança em nós e ver que as nossas intenções, eram nobres.

Eu, por um lado, não sabia exatamente o que fazer com ela quando todos esses cuidados acabassem, ou quando ela simplesmente nos disser que não sabe de nada. Talvez colocá-la em um orfanato junto com as outras crianças que foram resgatadas e assegurar que ela fará parte de uma família incrível, que não iria fazer nenhum mal a ela, seria uma opção. Mas isso eu poderia resolver nas próximas semanas, quando tudo acalmasse.

Hoje é o grande dia. O dia do meu casamento. Às vezes, eu custo a acreditar que vou me casar. Nunca idealizei esse momento, mas a vida é mesmo cheia de surpresas e me colocou exatamente aqui, há poucas horas de dizer o “sim” que mudaria o curso da minha vida, mesmo que por pura estratégia de convivência.

Horas mais tarde, eu estava ao lado do padre, dos padrinhos e Arthur. Os convidados estavam todos presentes e tudo estava indo conforme o planejado, mais uma vez. Olho a hora no meu relógio de pulso e em seguida, volto a olhar para frente, juntando as mãos à frente do corpo. Pigarreio.

Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.Onde histórias criam vida. Descubra agora