CAPÍTULO 17

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HORATION

— Quer dizer que você não vai se importar se eu te contar uma historinha de criança? Com gnomos e fadas? Elfos e flores falantes?

Mia diz, me presenteando com um daqueles sorrisos belíssimos, enquanto estou me acomodando sobre a cama, buscando uma posição confortável. Acabo apoiando o braço sob a cabeça e então, inclino um pouco a cabeça para olhar para ela. Era o ângulo perfeito.

— Nenhum pouco. Exceto pelos elfos, talvez. — brinco e espero, pacientemente, enquanto ela faz uma busca concentrada e minuciosa.

Se eu tivesse que descrever as últimas horas em apenas uma palavra, seria "incomparável". Eu nunca me senti tão livre. Parecia que a cada sorriso que ela me dava, uma nova parte de mim era descoberta. Eu nunca me imaginei no meio de uma multidão, dançando como se eu simplesmente soubesse o que estava fazendo. Vê-la tão feliz no meio daquele furacão musical e cheio de calor humano, dançando com tanta desenvoltura e distante de qualquer lembrança do passado, me preencheu.

Já tinha aprendido a lidar com o fato de que Mia poderia, facilmente, me enlouquecer! Eu a desejava com todo o meu ardor, como nunca havia desejado ninguém antes. Toda a sua insegurança, a inocência e fragilidade, me impediram de pensar nela como uma mulher feita e esculpida apenas para me deleitar. Por muitas vezes, me peguei a imaginando sob o meu corpo, chamando por mim, gritando o meu nome, pedindo que eu a segurasse com mais força e a envolvesse por completo. Que a fizesse perder a cabeça. A imaginei em posições que não são dignas de descrição, mas que certamente poderiam satisfazer a ambos de maneiras insondáveis. Me repreendia a todo instante. Eu estava definhando por saber que, talvez, eu jamais a teria como desejava. Que jamais a levaria para cama e a faria experimentar o que os franceses chamam de la petite mort. Que eu, na minha insignificância, jamais seria digno de desfrutar dos desejos carnais que andavam de mãos dadas com toda a admiração, submissão e paixão que eu aprendi a ter por ela.

Tirei um instante de silêncio no meio de todo aquele barulho, para vê-la em câmera lenta. Todos os seus movimentos, as nuances dos sorrisos, as mãos delicadas e com dedos longos batendo palmas, os cabelos soltos num balançar delicioso, a respiração ofegante e o rosto vermelho de exaustão... Era impossível não imaginá-la sob o meu corpo, agarrada à mim. Olhando para mim!
Pela primeira vez, a enxerguei como uma mulher de verdade, não como uma criança que precisava dos meus cuidados e da minha proteção. A enxerguei como a minha mulher. A minha esposa. Ela não estava mais rodeada com as trevas do passado e tinha levado consigo tudo o que restou do meu bom senso.

Agora, eu estava aqui, deitado na cama enorme de um hotel, tentando esticar o tempo para tê-la comigo por mais alguns minutos e não pensar que aquela era a nossa lua de mel e que dividiríamos a mesma cama.

Mia finalmente parece encontrar algo interessante e, quando ela começa a ler a história do Pequeno Príncipe para mim, sigo a observando. Eu já conhecia aquela historinha. Já sabia exatamente o que estava prestes a acontecer depois do ponto final de casa frase, mas ouvir a sua voz era um acalento. Eu não estava nem perto de adormecer, apesar de toda a enxaqueca, mas eu sabia que ela precisava dormir. E como eu disse antes, quanto mais cedo ela achasse que eu tinha pego no sono, mas cedo ela poderia se recolher e, finalmente, descansar.

O meu plano, aparentemente, estava surtindo resultados, pois em algum momento, ela simplesmente parou de falar. Tentei manter a minha respiração regular e ritmada, completamente relaxado. Ouvi Mia se movimentar e levantar da cama, logo em seguida, ela estava perto de mim, ao meu lado. Um segundo depois, sua mão tocou a minha testa e contornou o meu rosto delicadamente. Um carinho tão profundo e terno, que quase desisti de fingir estar adormecido e a puxei para mais perto. Foi então que a senti se aproximar mais, como se estivesse se inclinando sobre mim.

Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.Onde histórias criam vida. Descubra agora