CAPÍTULO 15

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HORATION

A ideia de fazer uma viagem surgiu enquanto eu observava Mia dormir com tranquilidade noite passada. Em primeiro plano, eu não estava pensando em ir junto com ela. Deixaria que fosse sozinha e aproveitasse um pouco das regalias de ser uma Santori, afinal. Mas, em algum momento, me peguei imaginando como seria assisti-la vivenciar tudo isso, pela primeira vez. Comecei a criar imagens na minha mente que me surpreenderam em absoluto! Não tinham nada a ver com sexo ou contato físico, apesar de eu ter que admitir que a cada segundo que passava ao lado dela, era como estar atravessando um caminho coberto por brasas de fogo. Eu a estava imaginando sorrir enquanto se mostrava maravilhada com uma nova descoberta. Estava a imaginando chamar empolgada por mim, louca para saber qual seria o próximo destino. De repente, a minha consciência tratou de tentar me convencer de que fazer uma viagem ao lado de Mia poderia ser bom. Tanto para mim que, segundo a minha razão, obviamente ficaria menos preocupado em saber que ela estava segura sob meus olhos e longe de qualquer risco, – e não porque eu apenas queria estar em sua companhia –, quanto para ela que – segundo a minha razão traidora –, poderia se sentir melhor se fosse acompanhada.

Tomada a decisão, eu precisava partir para a proposta. Chamá-la para tomar café da manhã comigo havia sido um desafio e tanto. Apesar de estar receoso, eu precisava aprender a tomar atitudes como essa. Um casamento por conveniência, não significa que ambas as partes sigam em total solidão para o resto de suas vidas e Mia parecia estar de acordo com isso.

Ela parecia estar disposta a tentar construir uma nova vida ao meu lado, tratando a situação como uma dádiva, não como se fosse sua única opção e, durante o desenrolar do nosso primeiro momento a sós como marido e mulher, enquanto eu a assistia relaxar e sorrir como se estivesse falando com um amigo de décadas, tudo isso se tornou muito claro para mim.

Vê-la sorrir com felicidade de verdade, com empolgação e entusiasmo, era como renascer. Talvez pouca coisa seja necessária para transformar inteiramente uma vida e, dentro daqueles minutos inexplicáveis, soube que era daquele sorriso que a minha alma precisava. Pensar que quando a encontrei não havia brilho algum em seus olhos e agora ela cintilava por onde quer que passasse, me encorajava até demais. Eu estava caindo, lenta e gradativamente, me envolvendo cada vez mais e sem fazer o mínimo de esforço para me soltar.

Infelizmente, nosso café da manhã havia sido interrompido por uma mensagem um tanto inesperada. Ao ler o nome de Emily na barra de notificações, soube que estava na hora de furar a minha bolha. Fazia algum tempo que ela não entrava em contato, o que me deixava extremamente à vontade. Emily sempre foi muito discreta e humilde o suficiente para não querer me incomodar quando eu não a procurava. Então, aquela mensagem em específico tinha muitos motivos pelos quais eu deveria ficar preocupado.

— Eu preciso ir. — digo após limpar minha boca com o guardanapo e guardar o celular no bolso.

Mia fica em silêncio por alguns segundos e eu gostaria de poder ler seus pensamentos nesse exato momento. Talvez ela já tivesse entendido que alguma coisa não estava certa.

— Está bem. — ela se endireita na cadeira e volta a olhar para mim. — Prometo que a noite eu terei escolhido o lugar para onde vamos.

— Ficarei ansioso pela minha volta, então.

Levanto da cadeira e, instintivamente, me inclino em sua direção, como se fosse beijar o topo da sua cabeça, mas me interrompo no meio do caminho. Seria um passo grande demais. Me endireito e assinto para ela, outra vez.

— Obrigado por ter me acompanhado. Eu me diverti bastante. Tenha um ótimo dia, Mia!

Olho para ela mais uma vez antes de sair dali sem esperar sua resposta.

Segredos no Escuro - Irmãos Santori I.Onde histórias criam vida. Descubra agora