Na manhã ensolarada de sexta-feira, pelos corredores do edifício, Fernanda caminhava acompanhada de Rafael, papeando sobre a pequena reunião entre amigos que haveria naquela noite.
— Então, Nanda, anote aí meu endereço — pararam em frente ao laboratório de biologia.
Após anotar o endereço do amigo, ela sentiu uma pequena pontada de insegurança e o encarou com seriedade.
— A Heloísa também vai estar lá?
O rapaz sorriu. Um sorriso travesso.
— A convidei, mas acredito que ela não vá — Fernanda suspirou. Não soube dizer se foi de alívio ou decepção. — O marido está bem doente e tal... Vocês não estão se falando?
— Resolvi me distanciar um pouco de Heloísa. Não sei se você soube do episódio na sala da Tereza e...
— Ah, eu soube. Ela me contou por alto — a interrompeu. — Inclusive, acho uma idiotice o que ela fez. Mas como anda a elaboração do projeto?
Fernanda fez uma careta ao recordar-se do pedido da diretora. O documento deveria ser entregue à Tereza naquele dia.
— Ah... A minha parte eu fiz. Não sei sobre ela.
Rafael riu mais uma vez, divertindo-se com a moça. Como o corredor já estava vazio, despediram-se.
Na sala de aula, enquanto Nanda organizava a matéria que seria abordada naquele dia, percebeu Heloísa aproximando-se do batente da porta. Insegura com a presença da mulher, ela pediu licença aos alunos e a encontrou no corredor.
— Ah... Oi! — Helô estava com as mãos trêmulas e mal conseguia encarar Fernanda. Vergonha? Timidez? — É... Vim te procurar pra falar do projeto...
— Ué, a minha parte está pronta e a sua? — Fernanda elevou uma das sobrancelhas, cruzando os braços a frente do corpo.
A enfermeira deu um risinho sem jeito e passou as mãos pelos cabelos.
— Ah! Então, né?! Tem que ser entregue hoje, né?! — a professora concordou. — Ah, então depois nos falamos!
— Heloísa, escute... — Fernanda pronunciou em um tom mais suave, tocando-a nos ombros. — Se você não quiser participar, está tudo bem. Preciso de pessoas bem resolvidas para se envolver nisso e não é o seu caso.
— Mas eu quero ajudar!
— Quer tanto que mal se empenhou com a data de entrega. — Nanda deu uma risadinha, carregada de escárnio. — Com licença, Heloísa, mas meus alunos me esperam.
Antes que a enfermeira pudesse dizer algo, a moça retornou à sala de aula, iniciando seu trabalho.
Heloísa permaneceu naquele corredor, imersa em seus pensamentos. Desde a última conversa que teve com Rafael, analisou algumas coisas. Decidida a provar que suas convicções não estavam erradas, repensou sobre o projeto, porém mal sabia o que escrever, já que todas as suas percepções eram contraditórias com as da professora Fernanda. Sem contar que seu íntimo sentia falta da presença da moça.
*.*.*
Beiravam oito da noite e Fernanda colocava o pequeno par de brincos na orelha, encarando seu reflexo desanimado no espelho. Aquela era a primeira noite, desde o terrível acontecimento, que frequentaria uma festa entre amigos.
— Uau! Aonde a senhorita vai desse jeito? Está uma gata! — Mariana questionou admirada, aprovando as vestimentas da irmã.
— Vou encontrar uns amigos do trabalho. Coisa rápida. Antes de meia noite estarei de volta.
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Pecado Vermelho (DEGUSTAÇÃO)
RomanceA enfermeira Heloísa vivencia sua rotina monótona, dividindo o tempo entre o trabalho, a igreja e o casamento, até que a professora Fernanda desperta na mulher sentimentos incompreendidos, fazendo-a questionar a sua sexualidade, sua sanidade e suas...