Havia se passado dois dias, desde o episódio ocorrido na diretoria. Desde então, Fernanda passou a evitar Heloísa. Precisava de um tempo para digerir todas as palavras preconceituosas da enfermeira e, para não se machucar e acabar despertando algum sentimento que fosse mais forte que a pequena atração que nutria, decidiu se afastar.
Heloísa percebeu o afastamento da colega e questionou-se, por um breve momento de lucidez, se havia feito rebuliço por pouca coisa. Meneou a cabeça, inconformada. Em seus pensamentos, havia feito a coisa certa. Duas pessoas do mesmo sexo, se envolverem, era algo repudiante, proibido. Cresceu sendo ensinada que aquilo era pecaminoso.
No relógio, percebeu que eram quase sete da noite e ainda não havia visto Fernanda cruzar o pátio. Libertou um suspiro aborrecido, deu partida em seu veículo e seguiu para casa, afinal, ainda tinha que cuidar do marido, que já começava a se definhar.
Nanda, por sua vez, estava dentro do ônibus, ouvindo músicas no fone do celular. Embora houvesse sugerido o projeto para Tereza, estava desanimada em desenvolvê-lo com Heloísa. Não saberia como agir, caso a mulher despejasse seus preconceitos e concepções errôneas em seus alunos.
— Fernanda! Hei, Nanda! — uma voz conhecida chamou pela moça, assim que ela desceu da condução.
O semblante imparcial da professora cedeu lugar para uma feição entristecida, carregada de mágoa por rever Patrícia, a ex-namorada.
A moça de cabelos crespos aproximou-se, oferecendo um sorriso alvo para Nanda, que a encarou com indiferença.
— Putz! O que você quer, hein?!
A pele negra da outra mulher assumiu um tom levemente ruborizado e as sobrancelhas arquearam-se, evidenciando sua admiração com o tratamento dado por Fernanda.
— Ah! Estou com saudades — a tomou em um abraço, porém a professora não retribuiu, esquivando-se. — Vamos dar uma volta? Conversar um pouco?
— Olha só, não tenho nada pra falar com você. Preciso ir — finalizou dando as costas para a mulher.
— Poxa, Nanda, só quero te pedir desculpas pelo o que aconteceu naquela noite. — A mulher insistiu, acompanhando a jovem enquanto andavam pela rua pacata em que Fernanda morava.
Em frente ao portão de casa, a professora permaneceu estática, encarando Patrícia com amargura. Sentia ódio da garota, raiva por ter sido testada, por ter sido recebida com desconfiança quando mais precisou de apoio.
— Você tinha era que ter vergonha de me procurar, de ficar atrás de mim, depois de tudo o que fez, Patrícia! — apontou o dedo no rosto da outra. — Sério, cara! Vá pra o inferno!
Em seguida, entrou em sua casa, sem dar chance para que a mulher falasse algo.
Para Fernanda, reencontrar Patrícia havia sido um gatilho emocional doloroso. A noite estrelada e calorosa, a música alta, o cheiro de bebida alcoólica, a quantidade de pessoas que tornava quase impossível transitar dentro do interior da casa de Patrícia, o olhar sombrio do rapaz que a observava durante todo o tempo, como se fosse um predador à espreita de sua presa mais saborosa.
Embora o namoro estivesse estremecido, beirando o término, Nanda mantinha a fidelidade. Aquele homem era colega do irmão de Patrícia. Era estranho. Ficava sempre em um canto mais distanciado da casa, conversando com um ou outro rapaz e segurando uma garrafa de cerveja, mantendo os olhos atentos na professora.
Desconfortável com o rapaz, a jovem tentava se manter o tempo todo próxima a namorada e como Paty estava um pouco embriagada, acabou se irritando com Nanda. Tiveram uma discussão terrível no quarto da moça, resultando em bofetadas de ambas as partes.
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Pecado Vermelho (DEGUSTAÇÃO)
RomanceA enfermeira Heloísa vivencia sua rotina monótona, dividindo o tempo entre o trabalho, a igreja e o casamento, até que a professora Fernanda desperta na mulher sentimentos incompreendidos, fazendo-a questionar a sua sexualidade, sua sanidade e suas...