CAPÍTULO SEIS

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No corredor comprido que abrigava a antessala da diretoria, Fernanda aguardava pela chegada de Tereza, contemplando o céu ensolarado da manhã pela janela. Por vezes, dividia sua atenção entre o relógio e a releitura da parte do projeto elaborado por Heloísa.

No documento não constava nada tão mirabolante. Tratava-se apenas das abordagens de infecções sexualmente transmissíveis e afins. A abordagem sobre sexo e sexualidade constava no tópico de Fernanda.

*.*.*

— Ficou bom! — Tereza comentou após folhear o projeto. — Mas me diga uma coisa, Nanda... Você demorou a me entregar por causa da Heloísa, não foi?! — a olhou com desconfiança por baixo dos óculos de grau.

A professora deu um risinho tímido e ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sempre fazia isso quando estava tensa.

— Ah, então — ergueu as sobrancelhas. Sabia que se entregasse a enfermeira, ela seria punida. — Tipo... Não exatamente — mentiu. — Na verdade, estive atarefada demais com o planejamento das aulas — finalizou com um suspiro.

Tereza revirou os olhos e mexeu a cabeça, inconformada.

— Não duvide da minha inteligência. Sei que foi por causa dela — dessa vez, a diretora de pele negra e cabelos encaracolados suspirou aborrecida. — Conheço muito bem a minha cunhada. Depois que ela e o meu irmão se casaram, parece que tudo piorou, que a mente dela diminuiu. A igreja fez uma completa lavagem cerebral nos dois!

Com o cenho franzido, Nanda encarou a mulher que aparentava possuir em torno de quarenta e cinco anos e disse:

— E-ela não era assim?

— Bem, o pai dela era pastor de igreja. Ela e a família sempre foram muito religiosos, mas não era tão rígida quanto agora — contou em tom de desabafo. — Mas acho que tudo piorou depois que Roberto também virou pastor... — revirou os olhos castanhos escuros. — Nada contra religião, mas a maioria cega as pessoas, tornando-as intolerantes e ignorantes.

Fernanda estava com as sobrancelhas franzidas, impactada com o que escutou. Pressionou os lábios e suspirou, analisando como a vida da enfermeira era segregada.

— Aí, Nanda, confesso que estou com medo de levá-la para acompanhar a viagem de formatura dos alunos, no próximo mês. Já pensou se ela arruma um escândalo com algum aluno por pouca coisa?

A jovem ergueu as sobrancelhas e mostrou um semblante receoso ao imaginar a situação.

— Bem, se precisar, tenho interesse em ajudar, Tereza. Tenho facilidade em montar equipes e tal...

— Sua ajuda será bem-vinda, Nanda — a mulher ofereceu um sorriso a jovem. — Conto com você na reunião de segunda-feira.

*.*.*

— Então... — Rafael falou para Fernanda, enquanto passeavam pela livraria do shopping. — Acabou que nem me contou o motivo de Helô ter ido te procurar ontem.

— Ah, ela foi me entregar a parte do projeto dela — Nanda respondeu ao retirar um livro de espessura grossa da prateleira. — E antes que me pergunte, ela falou sobre as principais infecções sexualmente transmissíveis.

O rapaz arqueou as sobrancelhas grossas e um sorriso alvo surgiu por entre os lábios volumosos.

— Pelo menos ela não ofendeu ninguém dessa vez — pontuou enquanto seguiam pela seção de ficção. — Às vezes, a Heloísa me deixa em dúvidas...

— Dúvidas?! — a professora franziu o cenho. Ele concordou balançando a cabeça. — Como assim?

— Ah, é que tipo... — Rafael pareceu hesitar. — Tenho a impressão de que... Bem... Ela parece aquelas pessoas "incubadas", no armário, sabe?! Ficam fazendo comentários ridículos para ficar acima de qualquer suspeita.

Pecado Vermelho (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora