CAPÍTULO DOIS

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No decorrer da tarde, Fernanda foi muito bem acolhida pelos alunos e deu uma aula introdutória sobre os tópicos que seriam abordados ao longo do ano.

Eram pouco mais de cinco da tarde, quando o sinal indicando o término das aulas, tocou, ecoando por todo o campus. Rapidamente, os alunos recolheram seus pertences, deixando a professora cuidando da organização do laboratório.

*.*.*

Já estava anoitecendo e Fernanda caminhava devagar pelo pátio molhado, devido à chuva que caiu ao longo da tarde, em direção à saída do colégio, para pegar um ônibus.

Absorta em seus devaneios, agarrada a sua pasta de atividades letivas, ouviu uma buzinada logo atrás. Quando se virou para olhar por cima dos ombros, notou que um carro andava devagar, acompanhando seus passos.

O vidro dianteiro abriu e então, Nanda percebeu que Heloísa estava ao volante.

— Oi! Quer uma carona até a saída? — a enfermeira berrou de dentro do veículo, mostrando um sorriso eufórico.

— Ah, não! — Nanda sorriu, encolhendo os ombros. — Não precisa se incomodar. Vou andando devagarzinho. — Mirou os olhos no horizonte. Levaria uns bons minutos para chegar à saída do colégio.

— Ah, não é incômodo nenhum! Entre! — Heloísa esticou-se para abrir a porta do carona.

Meio insegura, a professora entrou no veículo. O silêncio prevaleceu entre elas, deixando-a imóvel, tendo a estranha sensação de que o coração saltaria do peito. Talvez a moça se sentisse daquela forma, por achar Heloísa muito atraente: os cabelos compridos, em tons amendoados, as sobrancelhas bem feitas, a boca delicada...

— Sua casa é aqui perto? — a indagação de Heloísa fez o silêncio se dissipar.

— Ah, não, não. Estava indo para o ponto de ônibus — suspirou, fazendo com que a outra a observasse de soslaio. — Moro no bairro Quatro — comentou.

— É o meu trajeto. Moro no bairro Sete. Se quiser, posso te deixar por lá.

— Bem, se não for nenhum problema — ajeitou-se no banco. — E então? Como foi o plantão?

— Ah, foi tranquilo. Trabalhar em um colégio interno é mais suave do que ser enfermeira de hospital. Tenho mais burocracia, né?! Mas é melhor. E como foi o seu primeiro dia?

— Hm... — franziu os lábios. — Acho que me saí bem.

— Tem muito tempo de formada? Tem um rostinho de novinha. — deu uma risada gostosa.

— Ah, obrigada! — a moça também riu. — Na verdade, me formei há alguns meses — ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — E você?

Heloísa reduziu a marcha ao atravessar o portão do colégio, acenando para o porteiro na guarita.

— Sou enfermeira há quatorze anos, para ser exata.

— Quatorze?! — Fernanda arregalou os olhos. — Putz! Desculpe os modos, mas quantos anos você tem?

A enfermeira gargalhou, divertindo-se com o espanto da jovem e a olhou rapidamente de soslaio, ao parar no semáforo.

— Fiz trinta e cinco, no mês passado. E você?

— Nossa! — elevou as sobrancelhas. — Jurava que era mais jovem! Sua pele é muito bonita! Aliás, você é bem bonita, Heloísa! Tenho vinte e nove. Completo trinta no fim do ano.

— Ah, obrigada, Fernanda! — mostrou um sorriso bonito. — Se bem que já tive dias melhores. — Arqueou as sobrancelhas. — Mas com o Roberto doente, a preocupação tem me feito companhia a maior parte do tempo. — disse em um tom desabafo, acompanhado de um suspiro melancólico.

Pecado Vermelho (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora