Prólogo

150 35 205
                                    

Sarah Miller ~ 1912

- Mã... Mamãe... Mamãe me ajuda...

Agachada em frente ao espelho, balançava meu corpo enquanto abraçava minhas próprias pernas.

- Mã... Mamãe... Tira eles daqui, tira eles... Eu não quero... Mamãe... Mamãe... TIRAAAAAAAAAAAAA! - grito no mesmo instante em que cubro meus ouvidos com minhas
mãos. - Tira, por favor!

Escuto alguém se aproximando, meus braços estavam cada vez mais frios... Meu reflexo no espelho, era apenas o reflexo de um corpo morto, de um corpo em decomposição, de um cadáver. Dois buracos negros pairavam no local que deveriam estar meus olhos, a minha carne podre era devorada por insetos e larvas, e eu via parte do meu coração e pulmão se movimentado através do rasgo feito em meu peito.

- Mamãe, eles estão vindo!

O pânico era crescente, seus pés começaram a subir as escadas um barulho alto de passos vindo em
minha direção e então o ranger da porta denunciou a abertura da mesma. Meu coração batendo cada
vez mais acelerado, minha respiração quente e ruidosa cortava o ar frio e o silêncio.

Cada vez mais perto!

O espelho me traia não mostrando aquilo que se aproximava, meus balanços cada vez mais rápidos e
minhas unhas rasgavam a minha perna em um aperto forte de puro pavor. Então eu ouvi:

- Sarah? Sou eu, a Helena, a sua Heleninha... Sua irmã! - a mesma correu até mim, me pegando em
seu colo e me deitando sobre a cama onde me enrolou em um cobertor e começou a cantar para mim
dizendo que iria ficar tudo bem.

- Lena... Por que a mamãe não me ajuda? Ela... Ela não me ajuda, Lena - viro meu rosto para o lado observando a mulher. - Mãe... Me ajuda?

- Sarah... A mamãe não está mais entre nós, ela... Ela morreu!

- Lena, não diga isso... Mamãe, você, você está ouvindo a Lena? Mamãe! Não briga, não briga com ela, não briga com ela - olhei de volta para a Helena - Lena peça, peça desculpas a mamãe, peça, peça, peça... PEÇAAAAA!!! - grito mais uma vez.

- Eu vou chamar o papai, não saia daqui; vai ficar tudo bem!

A Helena saiu e aquele cheiro de carne podre voltou a me atormentar. - Mamãe o espelho!


Segui em direção ao espelho de mãos dadas com minha mãe, o cadáver espelhado; as moscas em volta do meu corpo...

- Mamãe as vozes voltaram!

Sarah, Sarah!!! Mate, mate, mate... Corte, corte, corte... Sarah. Morte!

Esse último sussurro me arrepiou por inteira, as paredes se apertavam, cada vez mais sangue pingava do teto. Os sussurros continuavam:

Morte

Morte

Morte

Lentos e tranquilos, porém em uma voz aterrorizante.

Meu corpo doía, doía ao ponto de não me permitir respirar.

Mamãe me apertava, seu rosto já não era mais sereno, era severo. Comecei a vomitar sangue. Estava me sentindo sufocada... O peito contraindo, o desespero... Então sua voz suave:

- Sarah?

- Mamãe fala comigo... Me ajuda!

- Só a um jeito Sarah - quebrou uma ponta do espelho e colocou em minha mão, seus lábios se aproximaram do meu ouvido e sussurraram: - Morte...

Seu sussurro foi desaparecendo junto a sua imagem... Então ouvi:

- Venha comigo Sarah!

Não pensei duas vezes...

Joseph Miller

Ouvimos um grito agonizante. Sem esperar por mais Helena e eu subimos correndo as escadas que nos levavam ao quarto de;

- SARAAAAHHHHHH!

O Tormento Do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora