Capítulo 5 - Pesadelos

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-Louren?

Me virei e dei de cara com a minha mãe na porta de casa.

-Querida entre, - ela me olha e sorri -estou indo comprar uma coca-cola pra acompanhar o almoço.

-Eu achei que não estivesse em casa. Eu chamei e ninguém veio abrir a porta.

-Como assim? - minha mãe sorri - Estavamos aqui na sala e a porta estava aberta, - ela me olha confusa - vou indo. Coloque a mesa querida!

Minha mãe sai para ir ao mercadinho, ela voltaria logo, é só dar a volta no quarteirão, o mercadinho é do lado da casa dos Vallery's. Aqui tem um mercado maior, mas fica um pouco mais longe, na entrada de Sunflowers, só vamos lá quando não encontramos algo no mercadinho que fica mais próximo.

Entrei em casa e coloquei a mesa como minha mãe havia pedido e assim que terminei ela já chegou, almoçamos e depois eles voltaram ao trabalho. Minha mãe trabalha em uma loja de roupas em frente a praça e meu pai é dono da casa de materiais de construção da cidade.

Não tinha muito o que fazer essa tarde então decidi ficar vendo alguns filmes, mas eu estava tão cansada que não consegui me concentrar muito no filme, meus olhos estavam ficando pesados e eu me peguei dando alguns cochilos durante o filme.

-Louren? - a garota loira murmurou.

Ela estava parada em frente a TV, de costas para mim, seus cabelos ondulados pouco abaixo dos ombros tinham um leve balanço como se fossem tocados por alguma brisa, porém não havia nenhuma correte de ar por ali.

Ela me chamou mais uma vez e eu criei coragem e perguntei:

-O que faz aqui, o que quer comigo? - tentei me levantar, mas novamente não conseguia me mover, como se algo invisível me travasse naquele lugar.

A garotinha loira murmurou:

-Eu quero sua ajuda Louren, eu estou presa.

O ambiente começou a ficar gelado novamente, isso estava acontecendo constantemente, mas algo novo aconteceu. A sala ficou escura como se derrepente tivesse anoitecido, então ela recomeçou a falar:

-Eu estou morrendo Louren! - ela disse com a voz fraca e trêmula.

Seu vestido que antes era de um branco muito puro e limpo começou a se manchar de vermelho, era sangue. Começou a escorrer pelo seu corpo, não dava pra ver onde estava a ferida, pois ela continuava de costas e eu continuava sem conseguir me mexer.

Uma enorme poça de sangue se formou no chão da sala, mas a garotinha continuava de pé, como se aquilo não a debilitasse.

Ela murmurou algo que eu não consegui entender, parecia outra língua, então ela se virou pra mim, eu quis gritar, mas senti como se alguém precionasse minha garganta, estava sendo sufocada e ela só me observava de longe enquanto eu me debatia contra uma força invisível.

-Você faz isso comigo Louren, cada vez que insiste em não me ajudar, você me machuca mais. - ela falou andando até mim.

A cena era horripilante, havia um rasgo em seu peito, sua pele estava apodrecida como nos nossos outros encontros, no lugar dos seus olhos duas órbitas vazias, sua pele era estremamente branca e ela tinha vários ematomas pelo corpo, inclusive marcas de cortes, mordidas e de dedos que pareceram apertar fortemente seu frágil corpo.

-Louren... Eu quero a minha mãe! - ela me implorou.

Eu não conseguia respondê-la, já havia perdido todas as minhas forças, senti que já ia desmaiar. A última coisa que vi foi a garotinha ajoelhada com as mãos na mesa de centro, ela parecia chorar e me dizia algo que não consegui entender.

Apaguei.

...

Abri meus olhos lentamente, a luz foi entrando aos poucos em minha visão que estava meio embaçada após um bom tempo dormindo, eu tinha acabado de ter um pesadelo horrível, mas pelo menos não me sentia tão cançada como antes.

Fiquei mentalizando o pesadelo, estava sozinha em casa e confesso que estava com medo de olhar para os cantos mais escuros da sala, por medo de alguém estar me observando. Esses pesadelos estavam mexendo com minha mente, eu já não gostava tanto de ficar no escuro ou sozinha como eu costumava ficar antes, me sentia um pouco aflita.

Decidi ligar para a Mel em video call para afastar um pouco da solidão que eu estava sentindo, não era bem solidão, estava mais para medo mesmo.

Abri o aplicativo e a tela de vídeo abriu na minha câmera e antes da Mel atender eu notei... Marcas de dedos bastante avermalhadas marcavam o contorno do meu pescoço, me levantei rápido e corri para o banheiro. Me olhei no espelho e as marcas realmente estavam lá, consegui vê-las nitidamente, estavam fortes, como se tivessem acabado de ser feitas.

-Foi só um pesadelo Louren! - tentava me convencer em frente ao espelho - Mas que droga de pesadelo deixa marcas de mãos em seu pescoço? - falei irritada comigo mesma.

Lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos, eu estava desesperada... Não sei o que está acontecendo comigo, foi só um pesadelo, tem que ter sido só um pesadelo.

Lavei o rosto e enxuguei as lágrimas, molhei uma toalha e esfreguei forte o meu pescoço achando que de algum jeito pudesse me livrar das marcas, mas não adiantava de nada, ou melhor, só piorava.

Me sequei e decidi sair de casa, ia pegar meu casaco na sala e ir direto para a casa da Melissa ou quem sabe na loja ficar com minha mãe, minha única certeza era que eu não ficaria nem mais um minuto sozinha aqui em casa.

Voltei rápido para a sala e quando peguei o casaco no sofá tive a infelicidade de me virar para a mesa de centro. E lá estava...

Olhei aterrozida...

Duas pequenas marcas vermelhas, aparentemente sangue, que tinham o formato de mãos de uma garota de uns 10 anos bem ali, exatamente onde a garota loira do pesadelo se ajoelhou e repousou as mãos, foi a última cena que eu tinha visto antes de acordar daquele sonho terrível.

A única coisa que conseguir foi gritar, um grito de pânico e horror que saiu do fundo da minha garganta e ecoou por toda a sala.

O Tormento Do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora