Louren Jhones ~ 2019
— Louren? Louren acorda! Você vai se atrasar pra escola.
Me levantei ainda sonolenta, as aulas mal haviam voltado e eu já estava louca por férias.
— Bom dia mãe! Bom dia pai! – os cumprimento com um beijo na bochecha e pego uma fruta que
seria meu sustento pelo resto da manhã.Saio de casa já atrasada pra escola, mas como tudo onde moro é muito perto, não tive grandes problemas com isso.
Moro em uma pequena cidadezinha que fica a uns 300km da cidade mais próxima, meus pais se mudaram para cá depois do casamento, disseram que precisavam de um lugar mais sossegado para construir uma família e isso é ótimo porque eu amo esse lugar.
Sunflowers Hill é uma daquelas vilas encantadoras que você atravessa uma vez na vida indo para alguma cidade longe visitar a tia ou a avó e nunca mais esquece a paisagem maravilhosa do caminho.
O nome vem de um campo de girassóis que fica atrás de uma colina, a cidade foi construída abaixo dessa mesma, daí o nome "Sunflowers Hill".
Daqui 5 dias será o aniversário da cidade, vai ter um festival a noite para comemorar os 132 anos de Sunflowers, e eu tenho uma redação para entregar, é um trabalho de escola para fazer uma homenagem a nossa cidadezinha, o melhor texto será lido no festival, estou empolgada.
Na escola hoje foi tudo normal, as aulas estão acabando mais cedo para a organização do festival então às dez horas eu já estava em casa, meus pais ainda estavam no trabalho, então preparei o almoço e fui para o meu quarto começar a minha redação.
Sunflowers Hill.
Muitas pessoas buscam os tranquilos campos floridos de Sunflowers Hill para esquecerem um pouco da vida corrida das grandes metrópoles. Como não se apaixonar com o doce aroma das flores que cercam nossa cidade durante a primavera? Com as belas paisagens do outono? Como não sentir um arrepio gostoso com a fria neblina de inverno? Impossível não aproveitar o frescor e a beleza do Rio da Esperança em um dia quente de verão! São esses pequenos detalhes que me fazem tão apaixonada por Sunflowers Hill...Sou interrompida por minha mãe me chamando para almoçar. — Mãe, tenho um trabalho da escola para fazer sobre a cidade, a senhora não consegue marcar uma entrevista com o senhor Miller pra mim? Eu queria fazer umas perguntas sobre a família dele, já que ele é da família fundadora.
— Claro filha, conte comigo – ela sorri e eu retribuo.
Depois do almoço eu fui para o meu quarto descansar um pouco, estava usando o computador quando ouvi batidas na porta.
— Oi pai! – sorrio.
— Oi querida, – ele sorri de volta — eu estava pensando, tenho a tarde folga, podiamos dar um passeio, sei lá, tomar um sorvete, atravessar o rio ou ir ao campo de girassóis. O que acha?
— Seria perfeito pai, vou me arrumar e nós vamos! – me troquei rapidinho e logo saímos para um passeio, costumávamos fazer muito isso, a mamãe geralmente ia também, mas hoje ela estava trabalhando.
O passeio estava indo muito bem, já tínhamos lanchado, visitado os girassóis, tomado sorvete e agora
estávamos fazendo um passeio pela floresta de pinheiros que fica um pouco depois de atravessarmos o Rio da Esperança.— Eu gosto muito de vir nesse lugar porque é ótimo para caminhar, conversar e espairecer um pouco.
— É, eu também – concordo com meu pai. — E também gosto de tirar fotos aqui...
— Bom, já passeamos de mais, vamos voltar... Quem chegar primeiro a ponte ganha, o perdedor lava a louça do jantar!
Papai e eu saímos correndo feito loucos pela planície, acidentalmente eu acabei pisando em algo que fez um corte profundo em meu pé. Gritei pelo meu pai que logo chegou até mim, peguei o objeto pontiagudo que me cortou, era um pedaço de um espelho quebrado. Coitado de quem teve sete anos de azar ao quebrá-lo, embora pareça que o azar veio para mim. Não sei porque, mas guardei o objeto na mochila e o levei para casa.
Meu pai me levou ao posto de saúde, precisei de alguns pontos no pé, mas não foi nada tão grave, só que o médico me arrumou um par de muletas que eu precisaria usar por um tempo. Fomos pra casa e eu acabei indo dormir mais cedo devido aos acontecimentos do dia.
— Me ajude... Me ajude... – pedia uma garotinha loira sentada em frente a um espelho, ela aparentava ter pouco mais de dez anos. — Me ajuda? Por favor!
Ela pedia tão insistentemente que decidi me aproximar para ver o que ela precisava, mas quando olhei seu reflexo no espelho...
— Louren? – gritou minha mãe da cozinha. — Algum problema?
— Não mãe! Só um pesadelo. – olhei no relógio e já estava mesmo na hora de levantar, embora o médico tenha me dado um atestado e eu não precisasse ir a escola, eu não tinha o costume de dormir até tarde e preferia usar a manhã pra estudar em casa mesmo, poderia dedicar tempo extra a minha redação.
Embora eu tentasse me concentrar na redação, não tirava da cabeça o pesadelo que tive, parecia tão real, o reflexo da menina no espelho, a carne dela em decomposição, o cheiro de carne podre que tomou conta daquele local no momento que vi o reflexo da garota, os buracos negros que pairavam no lugar dos olhos, era tão horripilante... Mas o que mais me assustou era a forma aterrorizante que ela olhava o próprio reflexo, ela não sentia só medo, sentia pavor.
Meus pais já tinham ido trabalhar, mas eu precisava falar com a minha mãe então liguei pra ela.
— Mãe?
— Oi querida?
— Como faço com a entrevista que a senhora marcou com o senhor Miller hoje? Eu não posso ir lá com o pé assim.
— Querida, não se preocupe, eu conversei com o senhor Miller hoje, eu expliquei que você tinha se cortado com um pedaço de um espelho quebrado e ele entendeu a situação, disse que poderia responder às suas perguntas por telefone e pediu para que o ligasse às cinco da tarde.
— Obrigada mãe! A senhora está salvando o meu trabalho.
Ela deu uma risada por telefone e disse que tinha que voltar ao trabalho, assim desliguei e voltei aos
meus afazeres.A senhora Vallery, minha vizinha, como não estava na verdureira hoje, pois era dia do seu marido, aproveitou para vir me ver, ela vinha em casa de uns trinta em trinta minutos ver se eu precisava de algo, era muito prestativa, ela até fez questão de trazer o meu almoço.
Eu usei minha tarde para preparar as perguntas que eu faria ao senhor Miller, tenho certeza que iria tirar nota máxima nesse trabalho. Com as perguntas já prontas, as cinco da tarde liguei para o senhor Miller para fazer a entrevista.
O senhor Miller, me contou tudo que sabia sobre a fundação da cidade e o que ele me contou sem dúvida foi muito útil para a minha redação, só achei estranho e fiquei confusa com a forma como ele encerrou a ligação.
— Sinto muito pelo acidente com o pedaço de espelho. E... Menina... É melhor você continuar tendo pesadelos do que acordar e descobrir que eles se tornaram realidade!
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O Tormento Do Espelho
TerrorMuitas pessoas buscam os tranquilos campos floridos de Sunflowers Hill para esquecerem um pouco da vida corrida das grandes metrópoles. Não foi diferente com o Sr. e a Sra. Jhones, que se mudaram para a colina logo após o casamento, fugindo da bagun...