Capítulo 10

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Eu: Sim. - Parei de organizar os afazeres de David e o encarei, olhando dentro dos olhos dele. - Algum problema?

Pether: Não. - Ele mais uma vez bebeu de seu vinho. - David sabe?

Eu: Não sei...

Ia falando quando ele chegou, como sempre com roupa formal, terno preto, calça social e sapatos pretos. Olhar para David estava me dando nojo a cada dia que passava. Quase que fazia cara de repúdio; suas exigências e mania de humilhar as pessoas estavam me matando de raiva.

David: Sei do que, Pether?

Ele se ajeitou na cadeira. Olhei para ele com raiva. Quem respondeu foi o outro babaca.

Philippe: Que nós vamos fechar contrato com aquela empresa japonesa.

David: Já estava passando da hora.

Ele puxou uma cadeira e se sentou.

Eu: Eu irei me retirar pra vocês ficarem mais à vontade.

David: Eu não mandei você sair. - Ele me fez sentar novamente. Mandei ele para o inferno, na mente, é claro. - Vai anotar tudo que eu mandar. - Ele chamou um garçom; achei estranho não me mandar chamar. - Este é um jantar de negócios.

Ele olhou para os dois caras. Ia ser um inferno, como sempre. E foi. David me fez anotar, fazer desenhos sob muita pressão, em um espaço improvisado, em cima das minhas pernas, porque, segundo David, eu poderia fazer uma das minhas cagadas e derramar algo nas anotações DELE. Minha cabeça no meio do jantar estava quase que explodindo. Ele só não gritava comigo porque estávamos dentro do restaurante. Não estava conseguindo acompanhar seu ritmo; ele falava muito rápido.

Eu: David?

Me arrependi de ter o chamado. Ele não olhava na minha cara.

David: O que você quer? Não está vendo que estou falando?

Eu: Pode ir mais devagar, por favor? Não estou conseguindo acompanhar.

Eu até podia ficar calado, mas quando fazia isso David, ao ver as anotações, falava que estava faltando coisas.

David: Mais devagar? - Ele olhou para mim, colocou os cotovelos sobre a mesa. - Garoto, este é meu ritmo. Se você é um incompetente que não sabe fazer as coisas com agilidade, pode se retirar da mesa e se considere demitido. - Ele falava com raiva. Um dos amigos dele estava com um leve sorriso. - Vai sair ou continuar?

Eu: Não. - Ele continuou me olhando. - Não, senhor.

Baixei minha cabeça e voltei a anotar tudo que ele mandava. A caneta até afundou quando comecei a escrever novamente.

David: Quero tudo isso desenhado amanhã cedo.

Eu: Sim, senhor.

Seria impossível, mas para ele não existia a palavra impossível.

Philippe: Você deveria me emprestar seu funcionário, David. Na minha empresa está faltando pessoas prestativas como ele. - Ele e outro homem riram. David continuou comendo sua comida e eu não retirava as mãos do tablet digitando.

Pether: Ele dá até beijos no patrão.

Parei de digitar na hora e fechei meus olhos de tanta vergonha. Por um instante, pensei que fosse desmaiar, e talvez tivesse sido a melhor coisa. Meu rosto, com toda a certeza do mundo, estava vermelho. David pousou os talheres sobre a mesa e limpou a boca.

Ele é meu chefe ou diabo ?Onde histórias criam vida. Descubra agora