O bloqueio criativo.

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  A tela em branco e a ponta do pincel sujo com tinta seca... Olhos cansados que transbordam sem transbordar, palavras engasgadas que eu não consigo falar, saudade adormecida que precisa acordar.

  Eu não consigo, eu não consigo... Está tudo ali sufocado dentro de mim... Todas as palavras que eu não disse, todas as despedidas, as chegadas e as partidas... Tudo ali.

  Eu olho para tela, eu pego o pincel e nada... Não me resta nada, porque está tudo ali, no branco, na mistura de cores presas em mim... Eu preciso de cor, eu preciso deixar fluir, porque se eu não conseguir mais pintar, eu vou sucumbir.

  Eu abro uma garrafa de vinho, pego uma caneta e um papel e começo a escrever, porque eu preciso pôr tudo para fora, eu preciso me refazer, porque de tanto calar, eu comecei a esquecer... Me esquecer de mim, me esquecer de você...

  A cada carta, o olho transborda e a lágrima escorre me libertando um pouco mais de mim e da casca que eu criei para me proteger... Eu fui a menina, eu fui a mulher e muitas vezes, eu só me esqueci de ser... Eu já não era nada, eu já não sentia nada, eu comecei a me anular, a me esconder.

  As cartas estão espalhadas pela cama esperando por um destino, cada uma delas, lacrada e endereçada às mulheres que amei ou que ainda amo... Não espero por respostas, mas depois de tanto ignorar a mim mesma, eu decidi que eu precisava falar, eu entendi que eu precisava deixar ir sem esperar que algo me retorne ou que escolha ficar.

Sobre nós: Cartas para as mulheres que amei. (Esconderijo- a série.)Onde histórias criam vida. Descubra agora