Cap 01. Raquel.

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   Oi, eu te escrevo assim sem data, porque o tempo não importa... Não agora e não aqui.

  Eu não consigo mais desenhar, você sabia disso? Não consigo pintar e as noites, eu passo em claro... Se eu não fizer alguma coisa logo, eu acho que eu vou enlouquecer... Talvez eu já esteja louca por invadir o seu espaço... Mas com a gente foi sempre assim, não é Raquel? Uma sempre invadindo o espaço da outra, assim, com o pé na porta, sem pedir licença.

  Eu recomendo que você pegue uma garrafa de vinho, porque eu certamente devo admitir que eu peguei uma também, antes de começar a escrever.

  Eu não sei fazer isso... Não sei por onde começar, eu só sei que você precisava ser a primeira da minha lista, já que dentre todas as mulheres que amei com um amor romântico, você foi a primeira delas...

  Ok... Eu não devia estar lavando roupa suja... Eu não devia, mas foram oito anos... Oito anos e aí você apareceu na minha casa, como se o tempo não tivesse passado... Foi uma puta sacanagem isso! Já que é para falar, eu vou dizer: Vai se foder! Desculpa, por favor, não pare de ler... É só que esse palavrão estava entalado, desde aquele dia, quando você decidiu ir me ver.

  Eu só queria saber... Eu estou fazendo isso com você? Eu quero dizer... Eu estou fazendo a mesma coisa? Sei lá, invadindo o seu espaço em um dia qualquer, sem que você espere e te obrigando a pensar em mim, te forçando a "ouvir" o que eu tenho para dizer.

  Paquetá. Foi isso que você fez quando foi me ver... Me obrigou a te ouvir e não me deixou falar... Por que com a gente precisa ser assim? Agressivo, fugaz... Nós nunca fomos de calmaria e eu vou concordar com você, nossa história foi rápida demais.

  Eu decidi que não vou me declarar para você, não mais, porque a gente só se machuca... Com você eu me sinto frágil, dolorida e tímida... Porque eu acho que a gente nunca se conheceu de verdade, não deu tempo, estávamos ocupadas demais idealizando uma à outra.

  Olhando para o passado, eu percebo que fomos infantis... Nós nos agarramos à atração física e a paixão como se isso só nos bastasse e não, nós não construímos o nosso amor... Sem esse amadurecimento, era somente fogo, este que nos queimou.

  Sendo franca, talvez eu ainda te ame, ou ame a possibilidade que não tivemos de ser, mas isso não importa agora, porque a paixão que nos consumiu antes não nos bastou e não nos bastaria agora.

  Raquel, entre nós, eu ouso dizer que não deu certo, porque por mais que a gente se queira, no fundo, nenhuma de nós se entregou.

Ass. Malu.

Sobre nós: Cartas para as mulheres que amei. (Esconderijo- a série.)Onde histórias criam vida. Descubra agora