Cap 8. Resposta para a mulher que me feriu.

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  Com que direito, Malu? Com que direito você decide voltar, invadindo a minha vida e arrancando o Band-aid? Com que direito você despeja os seus sentimentos em cima de mim como se nada tivesse acontecido entre nós?

  Eu estou casada, eu estou refazendo a minha família e eu estou prestes a realizar o meu sonho de me tornar mãe e então você volta, como uma assombração refletida no vidro da janela...

  Gratidão... Admiração... Amor? Você não tinha esse direito, Malu. Você não podia ter me mandado uma carta falando sobre nós, sobre o que você disse a Raquel em Paquetá e nem terminar como se você se importasse comigo... Você nunca se importou comigo, você nunca se importou com ninguém, não de verdade.

  Você falava da Raquel como se ela sempre tivesse sido uma menininha mimada, arrogante e egoísta, mas eu vou te contar um segredo: Você também é. Você é tóxica, Malu.

  Eu pensei em não te escrever uma resposta, em deixar para lá, mas eu não aguentei, eu precisava te dizer o que estava entalado em mim... Eu cansei de ser sensata, calma, recatada e talvez até educada.

  Você é má, você tira o melhor das pessoas e depois, quando se sente satisfeita ou quando sente que já não tem mais nada que você possa tirar de bom, você as descarta... É como se você pegasse o melhor de cada um e depois só jogasse os restos no lixo.

  Você deve estar se perguntando se eu enlouqueci, ou o motivo de eu estar amarga demais... Você me deixou assim, ácida e defendida demais... Eu tenho os meus motivos para te falar todas essas coisas e se você não acredita em mim, eu posso exemplificar.

  Da Raquel você tirou a capacidade de amadurecer, ela era menina demais e você a cobrava, a sufocava, sufocou tanto que ela fugiu e se partiu ao meio, ficando presa contigo. E agora? A Raquel permanece ao meio e alimentando uma falsa ilusão de amor contigo, como se o tempo de vocês estivesse apenas adormecido.

  Da Nara você tirou o frescor, quando vocês estavam juntas, no começo parecia tudo tão bonito, mas no final, não, ela estava preocupada contigo. A cada movimento onde você se afastava, levava consigo um pouco do brilho jovial da garota que antes de te conhecer apenas dançava... Com você a música interior da sua ex-namorada apenas se calava.

  De mim, você tirou à calma... Foram anos te amando, te protegendo, te respeitando e te entendendo... Anos me calando e escutando o seu silêncio... Anos vivendo um amor solitário, fragmentado...

  Então eu quebrei a corrente, rompi o silêncio e anestesiei todo aquele amor que a você eu tinha dedicado... Eu fui embora e desatei o laço... Eu casei de novo, eu finalmente serei mãe, e você reaparece, me falando sobre amor, sobre o seu amor, me lembrando do meu amor.

  Você disse que eu era ou que eu fui o grande amor da sua vida... Você é egoísta demais para amar... Não te passou pela cabeça o quanto essa confissão poderia me bagunçar?

  Eu te amei, Malu! Minto, eu ainda te amo... E agora? Como é que nós ficamos? Hein, Malu?! Não ficamos. Esse é o ponto, não ficamos, nós não vamos voltar. Sua carta, não foi um pedido para voltar, mas acordou o meu sentimento que estava adormecido. E agora? Como é que eu fico?

  Quem ama, Malu, preserva, cuida, protege e você nunca me protegeu, nunca me poupou... Quando estávamos juntas você nunca me escondeu o lugar que a Raquel ocupou, minto, ocupava e ouso dizer, talvez ainda ocupe. Agora, quando finalmente, eu estava reconstruindo a minha vida e sendo feliz, você decidiu invadir o meu espaço e me lembrar de tudo o que ainda estava revirado em mim.

  É maldade fazer isso quando você nem sequer pensou no que eu poderia sentir, porque durante anos, eu esperei para ouvir e mais, para sentir que você também me amava, mas só a mim, sem que eu precisasse te dividir.

  Egoísmo Malu, é o que te define, porque a sua vida, você vai seguir. E eu? Como eu permaneço casada e com filhos, sabendo que por mais que eu tente, o meu amor por você ainda não diminuiu?

  Então viva sua vida sabendo que o amor que você diz que sentiu por mim, semente me feriu.

  Ass. Patrícia.

Sobre nós: Cartas para as mulheres que amei. (Esconderijo- a série.)Onde histórias criam vida. Descubra agora