Um amigo próximo meu recentemente me apresentou à teoria do absurdismo de Camus, pensador do qual tenho zero autoridade para explorar e citar devido a minha ignorância mais que reconhecida por suas obras. O que me fez escrever isto aqui é a reflexão de caráter existencialista a qual fui submersa após tal discussão.
Vocês já pararam para pensar que, sem apelar ao lado religioso-pós morte, a vida é profundamente sem sentido?
Eu, particularmente, não consigo encontrar um propósito que não tenha sido construído pelo próprio homem em uma tola tentativa de encontrar sentido para sua existência mais que irrelevante para o complexo espaço-tempo no qual sua temporária existência está inserida.
Todos estamos incluídos no universo em unicidade como matéria que constantemente se transforma. Quando morremos, abandonamos nossa matéria física para que esta seja transformada em algo novo. A vida é um ciclo autofágico inevitável e sem fim. Tudo está em constante estado de vir-a-ser como diria o pré-socrático Heráclito ao afirmar que tudo flui.
Somos todos "atos" passiveis de nos transformar em nossa "potência" (ou não), como diria o pós-socrático Aristóteles. Mas se tem algo que ambos criaram precedentes para se questionar, apesar de não terem se aprofundado, foi no conceito da falsa noção de identidade que criamos em nossa mente quando assumimos nossa forma temporária de matéria humana viva.
A noção de quem somos -nosso nome, nossa nacionalidade, o que gostamos ou não, no que acreditamos e nas causas que defendemos-, ou seja, nossa maneira de nos identificar como seres únicos em sociedade é meramente ilusória.
Ao assumirmos nossa identidade como ser, automaticamente abraçamos também anseios e frustrações pessoais, vivências e conexões interpessoais próprias. Desenvolvemos a falsa noção de sermos seres únicos e inter-independentes, quando na realidade somos apenas parte da complexidade associativa de matéria do universo, que ora se concretiza em um ser vivo, ora em outra forma qualquer.
Nossos átomos e nossos componentes químicos fracionários não deixam de existir quando nossa vida chega ao fim. Conforme o tempo passa, eles se fragmentam por completo daquilo que costumavam ser e algum depois passam a compor uma outra forma, orgânica ou não.
Portanto, enquanto existimos, pensamos ser nós mesmos, mas na realidade somos apenas o universo se organizando em uma forma aleatória que devido ao processo de seleção natural adquiriu capacidade cognitiva e de questionamento, e uma capacidade maior ainda de se relacionar com o mundo ao seu redor, formando complexas sociedades e invenções tecnológicas.
Mas essa nossa identidade é inevitavelmente passageira e, por conseguinte, ao aceitar nossa condição de unicidade com um universo cujo único propósito é a inconstância da matéria, passamos a buscar razões às quais poderíamos associar nossa vaga existência no mundo em determinada época e em determinado lugar físico do infinito espaço-tempo.
A maneira que eu encontrei de viver no mundo é a arte da constante movimentação: passei a desejar me integrar à fluidez do mundo. Acredito que todas as relações que desenvolvemos decorrem de um amplo status de codependência existencial ou conveniência estacionária de conexão.
Os sentimentos que desenvolvemos pelos outros são estratégias de sobrevivência e de manter nossa identidade diante das associações que nossos neurônios desenvolveram com nossa capacidade de entender o mundo sensorialmente. Assim, nossas experiências empíricas somadas à nossa Razão inata resultaram em tudo o que conhecemos e em como nossas emoções se tornaram tão específicas e pessoais.
O constante estado de movimento é se permitir apegar e criar raízes emocionais sem nunca nos prendermos a nada de maneira imutável. É estar constantemente praticando a autocrítica construtiva e o senso crítico do mundo e situações ao nosso redor. É viver de maneira a não se conformar jamais, sem se acomodar demais. A vida, como meu amigo disse que Camus diria, é absurda demais pra isso.
Eu defendo minha liberdade existencial de conhecer o máximo possível do que o mundo que os homens e a natureza juntos conectaram e formaram no espaço limitado de tempo que minha existência me permite. Não me estagnar é me relacionar, em todos os sentidos da palavra, ao máximo de seres vivos e lugares físicos ou psicológicos possíveis.
Meu constante estado de movimento é saber viver meus relacionamentos com as pessoas e com o mundo da maneira mais plena possível pelo tempo que eu sentir que eles devem durar, afinal, por mais que muitas vezes desejemos, nada de fato dura para sempre do mesmo modo como uma hora fora. É saber viver em equilíbrio com os prazeres passageiros e com a busca infinita por conhecimento e memórias.
A partir de hoje, eu escolho me recusar a ficar estagnada em qualquer aspecto prejudicial ao meu criticismo existencial e moral.
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Filosofia De Uma Adolescente
Non-FictionCompletamente sem sentido. Compilado de reflexões, críticas e poemas de quem eu sou mas já deixei de ser.