5982 palavras
Ouço o som irritante do pássaro, que acabou fazendo um ninho por entre as telhas do teto em minha casa. Não é um som gracioso, mas sim agudo e contínuo. Sempre gritando ao nascer e pôr do sol.
Normalmente, as heroínas dos livros que li acordam com o doce e belo cantar dos pássaros na janela de sua casa. Bem, não sei se eu seria o tipo de protagonista que as pessoas gostariam de ler sobre. Minha vida não é doce e muito menos bela. Queria simplesmente continuar dormindo, pois sei a vida que vou encarar ao me levantar.
Mas uma hora ou outra, todos temos que acordar...
Minhas pálpebras pesadas tremem na tentativa de me abrir os olhos. A visão ainda é turva, mas consigo perceber meus dois amigos, que pareciam conversar baixo entre si, se voltaram para mim de forma alarmante.
— Katty! Katty! — Abruptamente o elfo segura meus ombros e começa a me balançar. — Tudo bem contigo?! Por Deus, você nos assustou!
— Calma, Yukine! Ela vai desmaiar de novo, seu tapado! — A menina Kitsune começou a distribuir tapas sobre o mesmo.
— Gente... — Murmuro ao instante que também forço meus braços a me erguerem sentada, ato este que me deixou levemente tonta. — O que aconteceu? Por que estamos na minha casa?
— A gente teve que te carregar até aqui. — Rosally ajeita meus cabelos à medida que explica. — Por sorte, seu irmão passou por nós.
— Tu é pesada, hein? — Yukine comentou, me fazendo revirar os olhos.
— O Kira está aqui?
— Não, ele teve que sair para resolver um problema no estábulo. — Rosa explicou sem pressa, aguardando minha linha de raciocínio. — Mas ele já te medicou, então logo tudo deve ficar melhor.
Quando enfim minha vista se focou, pude ver meus amigos com clareza. Yukine estava com alguns cortes pelo rosto e braços, somado à um roxo hematoma na bochecha esquerda. Já Rosally, se mostrava com mãos e pulsos envoltos em faixas manchadas de vermelho.
— Meu Deus. Vocês estão muito feridos! — Comentei com espanto. — Como chegaram a isso? E porque eu estou dormindo a essa hora da tarde?! — Joguei as cobertas de cima de mim, me pondo sentada no sofá da minha sala, vendo a luz do crepúsculo pelas janelas.
— Você não faz idéia do que aconteceu, não é? — A menina se encostou na cadeira, me olhando com divertimento e uma certa incredulidade.
Pensei um pouco, vendo Yukine se levantando e indo pegar água de nosso filtro de água.
Pouco a pouco, imagens vem à minha mente como flashes de memórias, me deixando desorientada.
— Ainda tem algumas coisas que parecem faltando... — Toquei minha cabeça, me sentido enjoada com aquela onda de imagens brotando na minha mente com uma velocidade absurda. — Mas eu me lembro da confusão com aqueles caras e de não ter controle de mim mesma... lembro também de sentir algo como nunca antes.
— Tenho uma boa notícia para você, Katty. — Yukine dizia, nos entregando dois copos de água. — Tente manter a calma por agora, sim?
Não sei porque ele diz isso, se já sabe que manter a calma não é um dos meus poucos dons. De qualquer modo, confirmei com a cabeça, já ansiosa.
— Naquela hora, quando a confusão já estava feia, você começou a, surpreendentemente, fazer uso de habilidades místicas. — Ele explicou, me levando a fechar meu semblante, vagarosamente me recordando dos espinhos.
— Sim! Eu lembro!
— Naquela hora apareceram duas marcas no seu rosto. Uma abaixo de cada olho, formando um risco encurvado. Eles brilhavam feito um ninho de vaga-lumes. — Yukine afirmou, claramente fascinado por suas próprias palavras. — E essas marcas eram marcas Élficas.
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O Nobre Coração de Cristal
Fantasia■ LIVRO 1 ■ E se você fosse o único humano da sua casa e do seu reino? O único humano em meio à uma população inteira de criaturas místicas? Como você se sentiria num lugar que, a cada momento, tudo parece te lembrar que você é fraco de mais para s...