Capítulo 25 - O Gosto do seu Sangue

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6471 palavras

•Jasper•

Me deixei reclinar com as costas na parede, alisando o dorso escuro de meu cavalo. Um turbilhão de pensamentos violentava minha mente sem qualquer piedade; coisa essa que pensei ter superado nos últimos anos. Definitivamente não estava nos meus planos, tal qual muitas das coisas que essa menina híbrida tem feito até então. Um íman para imprevistos, é a sua definição.

Um habitual borrão envolve minha vista quando sinto minhas pupilas se deformarem ao invocar Sora. Alguns especialistas na área da saúde chamariam isso de miopia, mas o rei preferiu nomear o pequeno defeito de nossa família como "Calcanhar de Aquiles". A invocação não foi uma habilidade gerada da evolução natural, mas forjada e modificada em laboratórios como uma maldição espiritual que chegou até mim por meio de Nathan; logo, como qualquer invenção maluca pelas mãos das pessoas, é uma arma que possui pontos cegos. Literalmente...

Meus "amáveis" pai e tio sempre fizeram questão de tratar essa eventualidade como uma fraqueza que deve ser mantida oculta. Em batalha o inimigo jamais poderia descobrir uma falha na minha visão para tirar proveito, portanto, somente a família real tem conhecimento desse efeito colateral.

Sem os colírios especiais que geralmente uso, uma forte dor de cabeça é o que me aguarda sempre que uso essa habilidade por tempo prolongado. Porém, eu aprendi uma coisa nesses últimos anos.

Pior do que uma dor de cabeça, é uma dor psicológica.

— Iriam se completar 3 anos de ausência. — Um pensamento audível se destaca da entidade em forma de cadela, quase instantaneamente ecoando para mim numa conexão telepática. Esta, salta para se deitar em cima do cavalo, me olhando nos olhos.

— Tem alguma ideia da razão? — Meus braços se cruzam frente ao peito. — Não posso correr o risco de deixar essas lembranças enlouquecedoras acabarem com meus planos.

— Creio que seja pela semelhança de caráter das duas. — Pontua Sora, não fazendo quaisquer rodeios.

— A garota híbrida, não é? — O espírito animal prontamente confirma com a cabeça.

Creio que somente no caráter exista uma semelhança, pois seus aspectos físicos se divergem completamente. Me admira que algo tão vago me traga memórias tão vívidas de outra pessoa.

Essa garota... Katty Reimann aparentemente carrega a mesma pureza de coração de uma das pessoas que ouso dizer ter tido a capacidade de amar.

Não consigo evitar a sensação nauseante em se quer pensar na palavra.

Amor?

Nem lembro como é sentir isso. Está muito soterrado abaixo de eventos que só carregam distorção, ódio e milhares de outras coisas repulsivas.

— É realmente o sonho daquele dia. — As imagens novamente invadem meus pensamentos e a cabana perto do lago, com a porta aberta para uma cena de horror, se faz visível ao momento que fecho os meus olhos.

Mesmo que nos meus sonhos eu nunca entre na cabana, sei que Hannah e toda sua família estão mortos lá dentro. No mesmo instante, sinto um aperto no peito; coisa que não passa despercebida por Sora, que deixa as orelhas murcharem para trás.

— Não vamos nos preocupar com isso. — Levo uma mão até sua cabeça, massageando sua testa franzida. — Já se foi a fase do luto, portanto vamos resolver esse problema o mais rápido possível.

Não vou deixar uma coisa tão medíocre como sentimentos atrapalharem o futuro que tenho planejado. Dar liberdade a eles nunca me trouxe nenhum benefício e não é agora, depois de 21 anos, que isso vai mudar.

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⏰ Última atualização: Feb 07 ⏰

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O Nobre Coração de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora