Capítulo 2 - História por trás da história

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ALGUNS ANOS ATRÁS

Hoje, da mesma maneira como venho feito em grande parte de meus dias, me levanto pouco antes do sol aparecer.

Lembro-me da época em que eu estava começando a criar este hábito na minha adolescência, em que era muito trabalhoso levantar da cama, logo as camareiras sempre vinham me alertar sobre o meu atraso em cumprir com o horário das minhas tarefas. Agora, o dia mal esquentou e já estou fardado com minhas roupas, caminhando pelos enormes corredores deste palácio na busca de auxiliar meu pai com as taxas de lucro de todo o nosso país. Isso sem comentar que devo cuidar de meus três irmãos menores, os apoiando em suas jornadas para maioridade. Tudo isso seria bem mais fácil se não fosse por um pequeno, porém importante detalhe.

Meu pai é o atual rei Elfo.

Já ouvi dizer que a vida de um príncipe primogênito é um mar de rosas. Bem... acho que ninguém nunca vê os espinhos no final das contas.

O reino está em paz e prosperidade devido à grande sabedoria no governo meus pais. Tentamos ao máximo manter um bom relacionamento com os países vizinhos, incluindo as terras humanas, dos quais governam metade de nosso mundo.

E por falar em mundo, desde os tempos em que nossos ancestrais chegaram a este, o que foi a milênios atrás, os humanos nunca se deram muito bem com criaturas sobrenaturais como nós. Muitos foram levados pelo medo e pelo preconceito, o que foi o estopim para diversas guerras. Mas os reinos de inumanos, como eles assim nos chamam, conseguiram manter uma paz com os humanos, desde que nenhum ser invadisse as terras do outro sem permissão.

Contudo, mesmo com todo esse histórico de rixas e desentendimentos, eu ainda acredito que nem todo ser humano seja assim tão frio e maldoso como a maioria do meu povo pensa. Sou louco em querer pensar positivo, mesmo sendo um príncipe herdeiro? Acho que meus instrutores diriam que sim. Eles sempre me advertem da importância de estar prevenido para os piores cenários. Questionários estranhos como... "É melhor ser amado ou temido?". Não posso dizer que estão errados em suas atitudes, já que estão apenas se preocupando com o meu futuro desempenho como governante, o que é meio que a obrigação deles.

— Joseph! — O eco da voz me retira de meus pensamentos. — Cadê você? — Rapidamente identifiquei como sendo a voz da minha segunda irmã.

— Já estou indo, Diane. — Garanti enquanto acelerava meus passos ao seu encontro na biblioteca ao lado.

A pequena elfa da água, que em tempos de descontração gosto de chama-la de rato de biblioteca, provavelmente está me chamando para mais uma de suas curiosas pesquisas a respeito do ecossistema de nosso reino.

Depois de ajuda-la, se não me falha a memória, vou ter que averiguar algumas coisas nas salas dos mapas, depois dar uma lida nos registros na sala de arquivos, logo depois aula de arco e flechas, depois aula de etiqueta...

— Argh... — Reclamei a cada vez que mais uma tarefa me vinha a mente.

Por Deus! Eu quero uma folga da vida de príncipe!

Eu pensava que eu teria um pouco mais de independência depois que chegasse à minha fase adulta, mas vejo que fui enganado!

Assim que a lista de dúvidas da minha irmã foi finalizada eu a deixei estudando, retornando rapidamente para meu quarto. Peguei minha capa e fui até a janela. Ao instante que nenhum guarda estava patrulhando, saltei sem hesitação. Era a minha brecha! Com o rosto levemente encoberto, fui para o meio de alguns servos, sem que os sentinelas das torres me notassem.

Sim, eu estou fugindo. É exatamente isso que você pensou.

Me sentei a uma das carroças que se preparavam para sair, me juntando aos cestos na tentativa de passar despercebido e apenas aproveitar a carona com os trabalhadores.

O Nobre Coração de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora