Calmaria

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Firefox pov

A brisa fria que prenunciava a chegada do inverno batia suavemente em meu rosto, enquanto puxava o moletom que tinha pego de casa para mais perto do meu corpo. Estava sentado na estrutura metálica da Torre Eiffel, meu ponto de encontro com Miss Peacock, esperando a mesma para nossa patrulha noturna. Sinceramente, gostava das nossas patrulhas; a garota, mesmo sendo um pouco grudenta e desleixada de vez em quando, era uma ótima companhia, e tinha se mostrado não só uma grande parceira, mas também uma amiga. Naquela noite, porém, meus pensamentos focavam apenas na espanhola que arrebatara meu coração e na tarde que passei com ela.

Depois de termos passado um tempo sem falar nada, ainda com nossas mãos unidas, saímos do parque e eu a deixei na mansão Agreste - que, honestamente, não parecia combinar com ela - e voltei para casa. Mas é claro, não parei de pensar nela por nenhum segundo. Eu já sabia o quão incrível aquela garota é, mas ver ela se preocupando genuinamente comigo, me apoiando e me escutando falar de meus pais... Naquele instante eu me apaixonei de vez por ela.

- Buenas noches, Foxy.

Desviei o olhar da cidade brilhante que se estendia a minha frente e olhei para a heroína azul, que trazia consigo seu habitual sorriso e mais um saco com a logo da padaria Dupain-Cheng e duas bebidas quentes.

- Mas que surpresa agradável. - sorri e bati no espaço ao meu lado, e ela rapidamente sentou-se no lugar. - O que você tem aí?

- Os melhores croissants de toda Paris y dois chocolates quentes - ela olhou para mim de relance enquanto me entregava um copo - , yo pedi sem canela dessa vez.

- Agradeço. - sorri, me lembrando da vez em que ela trouxe chocolate quente com canela e eu cuspi tudo assim que coloquei na boca. Odeio canela.

- Yo é que agradeço por no ter chocolate espalhado no meu uniforme - sim, eu cuspi nela. Sem querer. - Mi kwami ficou realmente irritado com você.

- Eu já pedi desculpas um zilhão de vezes. - cutuquei suas costelas e a morena riu, abocanhando um pedaço de sua comida e revirando os olhos, e acabei a acompanhando.

Passamos um tempo lá, sentados lado a lado e nos apertando em nossos moletons, enquanto comíamos o lanche trago por Peack e conversávamos animadamente. A garota era agradável e inteligente, e gostava de falar sobre sua rotina e vida diária - o quanto podia, pelo menos. Eu gostava de ouvi-la, e correspondia a algumas informações que ela me dava, mas geralmente, ela falava e eu escutava. Mas era assim mesmo que eu gostava.

- Às vezes sinto que estoy te cansando de tanto falar. - ela riu sem graça e corando.

- Fica tranquila. - sorri. - Eu não sou muito de falar mesmo... E gosto de ouvir você. Sua voz é bonita.

Me arrependi no momento em que as palavras saíram da minha boca. Não que estivesse mentindo - a voz dela era suave e doce, era ótima de se ouvir -, mas além de não ser ela a dona da voz que me arrancava suspiros, eu sabia que ela nutria algum sentimento por mim, que nunca soube esconder bem. Gostava muito dela, e de fato ela estava se tornando uma de minhas melhores amigas, mas dar falsas esperanças era algo que eu não queria e me negava a fazer, especialmente com ela. Portanto, sempre me policiava para não dizer nada ambíguo, ou que pudesse ser interpretado de outra maneira, para que não causasse nela o que eu tinha acabado de causar: a vermelhidão intensa em seu rosto e a incapacidade de formar palavras sem gaguejar.

- G-Gracias. - disse desviando seu olhar de mim, e desesperadamente procurei uma solução para a cena que havia acabado de causar. - No precisa ficar mal por ter dito isso. - olhei espantado para ela, a heroína ainda com os olhos no horizonte. Como ela sabe? - Elogiar outras pessoas é algo bom, você no tem que se prender tanto nisso. - ela olhou para mim e provavelmente viu meu olhar de espanto, porque completou: - Posso sentir emoções, se esqueceu?

- Ah, é verdade. - me lembrei de uma das vezes em que fomos à casa de Mestre Fu para treinar, e ele mencionou isso. - Como é?

- O que?

- Isso, de sentir as emoções dos outros. - ela me olhava atentamente. - Tipo, como é que você faz isso? Não fica louca de saber como todos se sentem ao seu redor?

- Bien, um pouco. - ela sorriu, segurando seu chocolate com as duas mãos para aquecê-las. - Y ainda no consigo sentir todas as emoções de todas as pessoas, só algumas, as mais próximas. Pelo que Mestre Fu disse, isso é uma questão de prática, mas ainda estoy pegando o jeito. E... Bien, yo fico preocupada mais que o normal. Sabe, quando sinto que alguém que amo no está bien. Mas é o preço de ter esse... Dom. - ela tomou um gole da bebida que segurava, e fiquei pensativo. Se fosse eu, teria enlouquecido. Não suportaria ver as emoções de todos e não conseguir ajudá-los. Já bastavam minhas próprias emoções.

- Você é forte. - ela olhou surpresa e um tanto corada para mim. - Eu com certeza não suportaria toda essa carga emocional pra cima de mim. Talvez por isso mesmo você tenha esse dom, e não eu.

- Gracias. Yo devo bastante a você también, sabe? - fiquei surpreso, e confesso que um pouco feliz também. - Antes de ser Miss Peacock, yo sentia muito medo. Medo de vir para cá, medo de no me aceitarem, medo de não ser feliz aqui. E quando ganhei meu Miraculous, también.

- Eu lembro, você correndo pra longe quando aquele mané que te acertou com a foice te ameaçou.

- Gracias por lembrar. - ela revirou os olhos e ri, fazendo ela rir também. - Mas enfim. Graças a você y os outros, fui ganhando mais coragem e determinação. Entonces... Gracias, novamente.

- É sempre um prazer, Peack. - sorrimos juntos, e olhamos novamente para o horizonte iluminado, ficando assim por uns minutos até terminarmos de comer.

- Bien, - disse ela se levantando e reunindo o lixo no saco. - chega de conversa, temos uma patrulha para fazer. - sorri e me levantei também, a acompanhando quando saltou da Torre planando até lá embaixo.

Percorremos praticamente Paris inteira, apartando algumas brigas entre bandidos e outras coisas, mas nada sério. Ao final, depois de nos certificarmos que não havia mais nada que pudéssemos fazer, nos despedimos e cada um foi para seu lado, e sorri comigo mesmo. Miss Peacock era uma grande amiga, e por mais que não me permitisse aproximar demais dela - tanto por uma questão de proteger nossas identidades quanto para não brincar com seus sentimentos -, ela sem perceber me ajudava muito, e eu era extremamente grato por isso.

- Vocês formam um casal lindo, já disse? - perguntou Hully, assim que me destransformei no meu quarto.

- Já. - revirei os olhos. - Várias vezes.

- É sempre bom lembrar. - ele sorriu indo até meu criado mudo, onde havia um montinho de amendoins para ele.

Suspirei e troquei de roupa, me sentindo grato. Tinha amigos que se preocupavam comigo, e apesar de tudo, era feliz. Mesmo que a depressão batesse na porta da minha mente, ela estava ficando cada vez mais fraca, graças às pessoas ao meu redor. E pela primeira vez em muito tempo, senti que as coisas estavam melhorando.

Mal sabia eu que essa era apenas a calmaria antes da tempestade.



Ok, definitivamente meu estoque de desculpas acabou. Então vou ter que contar com a compreensão e o perdão de vocês pela demora descomunal pra postar mais um capítulo. Vou tentar postar mais, afinal, é o mínimo que como escritora posso fazer, somado ao fato de que estou de férias (ALELUIAS). Please, deixem seu voto e comentário, e não desistam de mim! S2

Miss Peacock: A Nova HeroínaOnde histórias criam vida. Descubra agora