Bom dia com o diabo

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Triim triim

Jeny se revirou na cama e bateu a mão no relógio digital que marcava 7:00.

— Que merda... — gemeu rouca, levantando da cama e tremendo ao sentir o frio do chão entrar em contato com seus pés quentes.

Enquanto se arrumava, ouviu a mãe gritar seu nome duas vezes. Descendo as escadas, passou o cachecol vermelho em volta do pescoço. Quando chegou na cozinha, a mesa estava típicamente arrumada com ovos, torradas, bacon, geleia e todo o resto.

Jeny se aproximou, pegou uma torrada melando ela com geleia e deu uma mordida, enquanto colocava o café em uma xícara.

— Bom dia. — disse a mãe, olhando para o relógio na parede. — Está atrasada. — sua voz era a mesma calmaria de sempre.

— Eu sei. — ela terminou de comer a torrada e com um gole acabou com o café. Pegou os livros e a bolsa. — Vou indo.

A mãe se despediu da filha, mas Jeny bateu a porta na hora e não ouviu. Ela não costumava ser fria com a mãe. Mas estava com pressa e desde o acidente, o instinto maternal de Sarah se instalou e a garota nunca mais pode confiar em ser muito falante, já que faria a mãe se alertar. Caçar ou sair depois da aula ara outro lugar que não fosse a casa dos amigos era terminante proibido. Então o clima ainda estava pesado entre elas. Mesmo depois de um ano.

Seu suspiro saiu pesado. Fazia um ano que a garota havia quase sido devorada por um urso. Um ano que tinha uma cicatriz ao redor do pé esquerdo e alguns problemas que nunca atrapalharam sua vida física, mas a pessoal sim. E um ano desde que ela conseguia ver anjos e demônios.

A garota puxou mais o casaco para si, afim de se aquecer do calafrio que sentia toda vez que lembrava daquilo. Ela via os verdadeiros rostos das pessoas e em um ano, fora atacada pela professora de biologia, que era uma... como era mesmo o nome? Ah! Uma Kyjah, que queria levá-la para... o mestre. Aquilo era engraçado. Jeny teve que se virar com uma célula de silicone, que jogou com maestria na cabeça do demônio. Mas a glória não era dela e sim de Ivan, o melhor amigo que a garota descobriu ser um anjo.

Recapitular tudo aquilo na mente era extremamente estranho. Sem falar no demônio que a atormentava todo dia. Will, como ele se intitulava, queria a alma dela. O único problema era que a criatura precisava fazer um tipo acordo com Jeny, e ela sempre negava por querer mais respostas, e por não ser sonsa. O demônio também servia a um mestre, que a garota não fazia a mínima ideia do porquê ele mesmo não ia atrás dela, em vez de mandar um possível serviçal que sequer respostas tinha para a humana.

Mas Will, apesar de se fazer de sonso, havia ensinado a muita coisa sobre o mundo dos demônios. E Ivan, tudo do mundo dos anjos. Então ela não estava tão perdida assim.

Quer dizer... conseguia entender o contexto da situação. Mas tudo era uma neblina ainda.

 — Pensando no diabo? — uma voz familiar ecoou pelo seu ouvido.

— Bom dia. — Jeny revirou os olhos de imediato e soltou o ar. Will estava ao seu lado, com roupas pretas de frio e uma maçã vermelha na mão. Estava sorrindo, com os cabelos loiros caindo no rosto. Mas o seu exterior não podia enganar a garota, que preferia ignorar aquele rosto sombrio dentro dele e olhar para o de fora. Com o tempo, aprendera a conviver para a face que queria. E, no caso dos demônios, sempre era melhor olhar para a casca.

— Achei que ficaria mais feliz em me ver. — ele fingiu estar desapontado e mordeu a maçã. — Sabe o que começa hoje? — arqueou uma sobrancelha e começou a andar de costas, encarando o rosto da ruiva.

 — Não. Nem quero saber. — Jeny tentou desviar, mas ele continuava atrapalhando seu caminho. — Por De... que merda, Will! Me deixe and...Aí!

Good Nigth, Demon!Onde histórias criam vida. Descubra agora