O mal dorme no quarto ao lado

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Notinha da autora: galera, as músicas no quarto do Will são You Really Got Me-The Kinks e Fly Down-Stephen. Boa leitura!!!

— Seu quarto vai ser aqui. Espero que não se importe com o sol no rosto. Mandei as cortinas para a lavanderia. — Sarah segurava o trinco da porta, enquanto mostrava tudo para o novo inquilino.

— Tudo bem. Todos merecem vitamina D ao acordar. — Will, forjando um sotaque Russo, sorriu para a mulher e colocou a mala no canto do quarto. Jeny observava aquilo com amargura no olhar. Iria ter um demônio, que a atormentava em tempo integral, morando em sua casa. Talvez ela pudesse matá-lo. Ou talvez, julgou ser melhor, fosse fingir sorrir e achar aquilo tudo muito lindo da parte dele.

— Tenho certeza que vai conseguir se estabilizar aqui. — Sarah se virou para a filha. — Pode ajudar com o que ele precisar? Vou fazer umas compras no mercado.

Jeny assentiu e viu o sorriso de Will atrás do ombro da mulher. Assistindo Sarah descer as escadas, a garota fechou a porta do quarto rápido e se virou para o demônio.

— Seu filho da puta! Não bastasse eu, ainda envolve minha mãe nos seus joguinhos? — ela gritou para Will, com ódio no olhar.

Ele deitou na cama e começou a estalar os dedos, fazendo coisas surgirem. Primeiro, um relógio escuro na parede, com um pêndulo balançando de um lado para o outro, parecido com um que a vó de Jeny tinha. Depois, um sofá azul aparentemente confortável no canto do quarto e vários outros objetos pequenos. Por fim, uma vitrola branca que lembrava uma mala surgiu na cômoda.

— Você está me ouvindo, mágico de Oz!? — Jeny gritou e se jogou no sofá. A vitrola começou a tocar e a música que saiu del era familiar. Ela olhou para o garoto com desdém. — Vai tocar música quando estou tentando discutir com você?

— Jeny, pare de ser chata. Vamos fingir que não sou um demônio por dois minutos e apreciar The Kinks. — ele colocou o braço atrás da cabeça e fechou os olhos.

— Certo. Me diga como You Really Got Me pode me ajudar a resolver meu problema de um ano chamado você? — Jeny ergueu uma sobrancelha.

Will abriu os olhos e sorriu para ela.

— Vamos falar sobre sua escola. O que é esse tal baile de inverno para o qual quatro garotas vieram me chamar?

— Achei que deveria saber. Bom, é um baile. Nós colocamos roupas bonitas, dançamos com nosso par, bebemos e comemos. Ah, e tem a besteira de rei e rainha. — ela revirou os olhos.

— Hm...você tem um...par? Essa é a palavra?

— É e não. Vou ficar em casa. — Jeny estalou a língua — Não gosto dessas festas. Nunca me divirto muito.

O demônio suspirou e fez a música da vitrola mudar. Essa tinha um ar mais novo, mas Jeny nunca ouviu na vida.

— Deveria ir com o anjinho da casa ao lado. Se você for, é uma boa desculpa para eu ir também e atormentar sua vida em público.

Jeny olhou pensativa para a janela e viu por ali a casa de Lucas. Talvez devesse mesmo. Ele era legal, e seu amigo. Além de bonito.

A garota voltou o olho para o outro na cama, que brincava com uma mecha do cabelo.

— Como é essa coisa de estalar os dedos e fazer coisas surgirem?

— Bom, apenas demônios maiores e a linhagem pura podem fazer isso. Tudo é feito de magia. Então eu canalizo uma boa quantidade na ponta dos dedos, penso no objeto que quero e a magia de outro objeto igual se torna um novo.

Jeny ficou impressionada. Precisava saber mais coisas daquele mundo. Coisas que devia ter aprendido a um ano

— Por que você não pode roubar minha alma normalmente e fazer aquela coisa que tanto quer?

— Porque o livro de Davi proíbe. Ele serve para regular os três mundos. E uma das leis é que se um demônio for nutrir seus desejos, em nome dos seus, com alguma alma humana, deve ser sob o consentimento dela e com uma troca de favores. Em resumo, preciso que aceite me entregar sua alma e te dar algo em troca.

A garota começou a compreender melhor. Sabia do acordo, mas não sabia que era por causa de um livro. Conhecia os três mundos. Tenebris é o mudo dos demônios, Coelum dos anjos e Normalem dos humanos.

— Will... Pode me dizer por que quer minha alma? — ela olhou para o inquilino, atrás de respostas. Havia perguntado um bilhão de vezes, mas valia pena perguntar de novo.

Mas ele estava dormindo. Ou, para a vista de Jeny, parecia estar dormindo.

Ela fechou a porta do quarto e desceu para sala, onde puxou um livro e sentou no sofá. Era exaustivo. Sobre animais e seus modos de viver. Ou deveria ser. Se perdera em pensamentos e só fora resgatada por uma batida vibrante na porta.

Quando Jeny abriu a porta, o garoto de cabelos negros estava posto na porta com uma garrafa d'água. Lucas sorriu para ela.

— Desculpa te incomodar. Meus pais foram comer fora e me deixaram sozinho em casa, posso ficar com você?

Ela estava um pouco atordoada e passou a mão na nuca, mas sorriu de volta e fechou a porta da casa, saindo para fora.

— Claro! — Jeny puxou uma cadeira e sentou na mesinha de piquenique do lado de fora.

— Então...você está mesmo morando com o esquisitão?-Lucas se pôs na cadeira em frente.

— Sim. Ele não é tão estranho assim. Está dormindo agora.

O garoto riu e Jeny perguntou sobre a antiga vida dele. Ela sabia que supostamente era mentira, afinal, o garoto era um anjo.

— Então Jeny...Tem par para o baile? — Lucas disse meio sem jeito e a garota ficou impressionada, porque Ivan disse para ela que anjos sempre sabiam o que fazer. Era como um sinal divino.

— Na verdade, não. Estava pensando em ficar em casa.

— Bom, se quiser, posso ir com você. Nós fingimos alegria para uns amigos, enchemos a cara, dançamos e voltamos para casa, um apoiado no outro.

Jeny sorriu e olhou para o garoto. Pensou no que Will disse sobre ir com ele. Sabia que o demônio conseguiu se incomodar com aquilo. Então a garota fez com que os olhos diferentes do garoto reluzissem quando disse:

— Com um acompanhante como você, eu posso até desejar ir ao baile sim.

— Bom, então sexta, as seis horas sem atraso? — Ele riu e esticou a mão.

Jeny assentiu e apertou a mão pálida.

~

Não muito longe dali, um grupo formado por cerca de seis criaturas, formavam um circulo dentro de um galpão abandonado. Uma das criaturas estava de joelhos na frente de um ser maior em uma espécie de trono.

— Estamos quase perto do ataque, lorde. — a criatura ergueu a cabeça para o mestre.

— Não podemos nos resumir a pequenas drenagens. Quero mais sangue deles. Espero que não falhem como falharam em Londres!

— Não sabíamos que a Custodiam Prophetas estariam lá. Ninguém desconfia de nada e nosso infiltrado já está cuidando de tudo. Teremos a garota de bônus. Logo poderemos continuar a ganhar poder, lorde.

A criatura se levantou e foi até o outro no chão. Pegou em seu queixo e encarou ele.

— Se alimente e não falhe nessa missão. Ou eu mesmo dreno seu sangue. — o lorde rugiu como um animal e soltou o rosto da criatura. Voltou a se sentar no trono e gritou: — LOGO NOSSA VINGANÇA SERÁ FEITA, MEUS FILHOS. ELES VÃO SENTIR OS O QUE OS RENEGADOS PODEM FAZER E A GAROTA SERÁ NOSSA! POR ARCALI!

Os outros renegados gritaram Por Arcali e o lorde abriu um sorriso maligno no trono.




Good Nigth, Demon!Onde histórias criam vida. Descubra agora