Cidade Grande Pessoas Pequenas

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Ainda quando morava em Esperança, por um tempo, fui morar em uma cidade um pouco maior com a minha irmã, antes de irmos todos para Vista Grossa, assim como encontrei algumas boas pessoas, fiz amizades (o que me faz ter ainda a esperança de que um dia os seres humanos, sejam mais humanos), eu ia para escola, quase sempre via as duas senhoras visinhas de frente estavam a conversar no portão, até notava os olhares delas, mais nada demais – pensei. – Ás vezes eu até pensava estar paranoica e vendo coisas. Achando que sempre havia alguém me obsevando. – Me sentia meio que estivesse em território inimigo. – Um belo dia lá estava eu como de costume as Sextas, lavando a garagem, a frente da nossa casa era de grade, com vista para rua. – Quando vinha uma das vizinhas de frente, noto que a outra estava do outro lado da rua, esperando a que veio falar comigo. – E então ela me perguntou: Você tem mais irmãs que possa trabalhar, estou precisando de uma empregada (o que é um emprego digno como qualquer outro)?

– Não tenho. – Respondi sem graça, mas já estava meio que acostumada, já era de se esperar.

– Nenhuma esta desempregada? – Completou dizendo.

– Não, eu só tenho uma irmã, e ela já esta empregada. – Ela não muito satisfeita, insistiu dizendo se não conhecia ninguém lá onde eu moro, eu disse apenas não, e finalmente ela voltou para o seu lado da rua, sem se quer agradecer. – Eu sempre lidei educadamente com esses tipos de coisa. – Mas é o tipo de coisa que acabava com meu dia, a pessoa saia da casa dela, para falar com alguém que ela não conhece, e já lançar seu preconceito.

Um dia minha mãe me apresentou a uma senhora, dizendo esta é minha filha, a senhora ficou olhando sem entender, e minha mãe Iva completou, eu a adotei, isso pareceu tranquilizar a senhora, clareou as ideias obscuras delas (risos), ela disse: Ah sim, ela trabalha para você, por isso tem ela.

– Não, ela é minha casulinha, presente de Deus na minha vida, minha rapinha do tacho. – Como gostava de me chamar, como ela é incrível, sempre me apoia, e sempre de prontidão em minha defesa. – Minha mãe, e eu ficamos sem graça na hora, mas deixamos, era apenas uma senhora.

É muito comum esse absurdo por ai neste mundo afora, crianças adotadas para trabalhar, e ainda muita das vezes com o consentimento de seus "pais" biológicos, a troco de migalhas, em outros casos, falsas esperanças. – Aquela senhora pensou que eu fosse um desses casos. – A lista é imensa, e por mais que tenhamos obtido uma misera porcentagem de evolução, essas coisas estão fortemente presentes, continuam acontecendo até hoje na sociedade. – Nas escolas, nas ruas, restaurantes... Por toda parte. Estamos carentes de respeito, de compaixão, de amor ao próximo.

Enxergando na  EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora