Gerações depois

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A jovem índia guerreira Iraci nascida em uma tribo isolada no meio da floresta de Ybyreté que significa "muito verdor". A índia Iraci sempre teve muito orgulho de seu povo, porém sempre carregou em seu coração o sonho de conhecer um mundo novo, de aventurar em coisas novas, de saber o que há na imensidão lá fora para oferecer, seus pais os chefes da tribo Regia achavam bobagem, e a desencorajavam de seus sonhos, mas aquela jovem nunca parava de sonhar. Ela se inspirava na historia de sua antepassada, a jovem Maia. Era uma forte guerreira como Maia, e amava suas historias.

Mas tarde a jovem Iraci assumiu o lugar de seus pais na tribo, ela queria mudar uma historia que vinha de anos atrás. A briga pelo rio Negro, que já havia provocado centenas de batalhas entre as tribos, e levado muita gente de ambas. A jovem Iraci teve uma grande ideia de fazer um desvio levando água do rio Negro até a tribo rival, o que tornaria o solo deles melhor para plantar. Assim teriam água evitando brigas em vão. Alguns foram contra a ideia da jovem, mas ela era a chefe da tribo agora, e já mostrou por diversas vezes ser capaz de governar, embora para alguns antigos mais conservadores restassem duvidas por ela ser mulher.

Ela propôs que ambas as tribos se unissem para a construção desse desvio fazendo com que o rio Negro abastecesse todas as terras, tendo comida e água para todos. Ela soube por um informante que o Page da tribo Kenai não queria aceitar. – Chegou a dizer que por ser mulher não sabia o que estava fazendo. Ela saiu em meio à floresta com seu cavalo negro e seu arco e flecha (não aceitou que ninguém fosse junto com ela). Era a melhor das tribos com o arco e flecha, nunca errou um alvo por menor que fosse, uma perfeita guerreira. Atravessou a floresta, até chegar à tribo vizinha no final da tarde. Eles ficaram assustados em vê-la. Ela disse: Tudo bem, eu vim em paz. – Então fez a proposta novamente ao Page, e ele manteve o que disse antes. – Ela apenas respondeu: Se prefere ver seu povo enfraquecer e morrer, é um direito seu. Boa sorte os alimentando com orgulho. – Nunca antes um chefe de uma tribo teve a coragem de entrar em território inimigo assim, ainda mais só. – As palavras dela desmontaram o Page, ele ficou sem palavras (engoliu seco), apenas acenou com a cabeça dando a ordem para que o desejo da índia Iraci fosse atendido. – Ela já havia falado com seus pais antes, os questionando sobre o porquê da guerra onde perdiam tantas vidas, de ambas as tribos. Porque não dividir os recursos e viver em paz, mas seu pai não lhe deu ouvidos, manteve a tradição de anos, alegando sempre ter sido assim, mesmo tendo o suficiente para os dois. Mantiveram-se seguindo o seu cego padrão por séculos.

Todos se uniram no dia seguinte bem cedo para não perder tempo, as crianças da tribo Kenai estavam abaixo do peso, fracas, o tempo era sagrado. A ideia de poderem plantar e ter água sem precisar derramar sangue por isso encheu as mulheres e crianças da tribo de esperança. Os jovens de ambas as tribos foram trabalhar com gosto, pois era melhor enfrentar aquele trabalho pesado do que a ponta de uma lança. A índia Iraci não sabia se sua ideia daria certo, mas passou tanta confiança e certeza do que estava fazendo, que todos acreditaram nela e logo já começaram a imaginar uma vida nova, de paz sem guerras, com as crianças podendo brincar no rio.

Com apenas uma ideia e iniciativa a índia Iraci trouxe esperança de uma vida melhor e muitos sorrisos para seu povo. E o povo que até então era inimigo ao decorrer dos dias de trabalho passaram a se interagir, as crianças começaram a brincar juntas no rio.

No inicio alguns relutaram, mas foram ficando cada vez mais próximos. Os jovens fizeram noites da fogueira na fronteira entre as tribos. Nasceram romances desses encontros, algumas brigas entre as famílias. Os antigos não eram lá a favor da mistura. A índia Iraci soube contornar bem a situação (além de guerreira e inteligente ela encantava não só por sua beleza, ou por seus cabelos longos e olhos negros como a noite, ou com sua voz doce, encantava principalmente pela sabedoria em suas palavras). E com o tempo isso foi mudando.

Dado a imensidão da floresta levou meses e meses para que o desvio se concluísse. E como não poderia ser diferente a ideia da jovem Iraci funcionou perfeitamente. As tribos mal podiam se conter de alegria, a sonhada paz foi alcançada. A essa altura as tribos estavam bem unidas.

O jovem Zaffi (forte guerreiro de cabelos cacheados) filho do Page acabou se apaixonando pela encantadora Iraci. Começaram vivendo essa romance as escondidas, e esse sentimento foi crescendo cada vez mais. Eles tinham medo da reação do Page por ser tão conservador, e de gênio forte.

Iraci dividiu seu desejo de conhecer o mundo lá fora com Zaffi. Ele acabou confessando que por diversas vezes sonhou e imaginou como séria. – Eles não tinham a menor noção de como era por fora de seus muros invisíveis, nunca viram ou tiveram contato com outra realidade. Faziam dezenas de planos juntos. – Casamentos foram permitidos entre as tribos pela índia Iraci que ainda convenceu o Page a realizar as uniões. Dando a eles coragem para assumir o romance. O Page os abençoou.

Tudo estava indo perfeitamente bem. Iraci descobriu estar grávida ao perceber as mudanças em seu corpo. E logo deu o nome de Victoria Régia à criança, Zaffi perguntou e se for menino?

Respondeu – é uma menina (assim como sua mãe Alia, Iraci tinha uma intuição impressionante). Ela fez um colar para a criança com o nome da criança no verso.

Todos estavam muito felizes. Até algum tempo após dar a benção ao casal o Page veio a falecer em circunstancias estranhas, suas ultimas palavras foram nomeado a Iraci, chefe de sua tribo, e a reconheceu como a maior guerreira que ele já viu, e não poderia deixar seu povo em melhores mãos. Para ela foi uma tremenda honra e todos amaram a ideia e se curvaram diante da índia Iraci. – Ela não queria aceitar, pois por direito deveria ser Zaffi a assumir, ele nem se quer importou e se curvou aos pés da amada. Diante de tal gesto ela não pensou duas vezes para aceitar. E assim como seus pais Iraci governou junto de seu amado.

Mal sabiam eles o que estava por vir. Outras estranhas mortes começaram a acontecer assim como a do Page. Espalhou-se por entre as tribos. Iraci decidiu sair em busca do mundo novo, para proteger sua filha daquele estranho mal, e tentar levar a cura para seu povo.

Iraci reuniu os jovens ainda fortes das tribos para construir algo para que a levasse mar a fora, sem saber onde daria, ou se daria em algum lugar. Iraci fez um desenho na areia de como deveria ser a embarcação e do que iria precisar. Depois de pronta a embarcação ela se despediu do amado e do seu povo, eles precisariam de líder junto a eles, Zaffi. Abasteceram o barco com bastante comida e bebida, pegou sua lança para poder pescar caso não fosse suficiente. E se foi com sua barriga enorme. Navegando por dias e noites, fraca. Até que já tinham perdido a conta de quanto tempo, pois estava muito cansada, mas não desistia mesmo sem forças como uma perfeita guerreira. No fim daquele dia a Deusa Lua resolveu brilhar, com sua luz e a bela Iraci avistou de longe uma casa no alto da colina, ela já sentindo dores, não pensou em mais nada e remou, remou bravamente. Ao chegar próximo à costa acabou dando a luz, conseguiu sair do barco e deitou na areia da praia enrolando a menina Victoria Regia em seu manto e colocando o colar em seu pescoço com olhos cheio de amor. Naquela noite as águas levaram seu barco, e a Deusa Lua a beijou. Eis que surgiu a estrela mais bela no céu, com um brilho sem igual. A estrela chamava tanto a atenção que as freiras da casa no alto da colina saíram para ver, (a casa na verdade era um convento). Puderam assim ouvir o choro forte (da criança que berrava como se estivesse na luta pela sobrevivência), foram até o encontro daquele pequeno e lindo ser (de pele morena, cabelos cacheados e olhos negros e brilhantes como a noite), sem saber como ele havia aparecido por ali sozinho, tão tarde da noite em um lugar tão isolado. As freiras levaram a bebe e cuidaram, viram seu nome no colar, e aguardaram por alguns dias para ver se aparecia alguém a procura da criança. – Ao passar dos dias sem ninguém aparecer para procura-la, levaram a bebe para a cidade (que ficava há umas quatro horas dali) em local apropriado para adoção onde a registraram como Victoria Regia, caso aparece alguém a procura. Mais tarde adotada por uma família da cidade vizinha chamada Esperança, a família das Dores que se encantou com o nome e o mantiveram. Sem saber nada sobre a história da pequena.

Enxergando na  EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora