País da Mistura

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Nós brasileiros, somos conhecidos principalmente como o país da mistura de raças, cores... – Mas parece que grande parte dos brasileiros, ou vieram de Marte, ou ainda não sabem disso. – Lá estava eu e minha amiga Jenny, na fila do supermercado, ela segurando a filha nos braços (ao contrario da filha, ela tem a pele negra, e lindos cabelos cacheados), e sua bebe de pele, e olhos claros, (assim como o pai. – embora ela se pareça muito com a mãe), e essa senhora perguntou: De quem é essa criança linda, você cuida dela faz muito tempo?

– Cuido desde que nasceu, é minha filha. – Respondeu meio sem graça. – A senhora olhou com a cara de espanto, e disse com ar de desconfiança: Sua filha, hum!

Nós nos deparamos, a todo o momento com essas situações, ao longo da vida, na verdade, as pessoas ainda nos tratam como se estivéssemos mentindo. É um tremendo abuso. – Passo bastante por isso, por diversas vezes com a minha sobrinha Perola, em lojas no shopping, filas de supermercados, onde ela reside...

Muitas pessoas reclamam do quanto é chato nas lojas, que mal você entra, e logo veem uma porção de vendedoras atrás, te empurrando peças, e mais peças. – Eu nunca tive deste problema. – Em regra já ficam nos olhando com olhar superior, não só os outros clientes presentes, como também as próprias vendedoras, a ponto de você se sentir mal em estar no mesmo ambiente que eles. – Obviamente que já encontrei sim, em ocasiões raras, boas pessoas, pessoas que me trataram bem, e não me fizeram sentir um lixo (por um mundo com mais pessoas assim). – É um dos piores sentimentos que se pode ter, além de ser um grande desconforto.

Em uma viagem que fiz recentemente, eu me senti melhor recebida, e acolhida do lado de fora, do que de dentro do meu próprio país. Senti-me muito mais em casa, estando lá fora, o tratamento que recebi, foi complemente diferente. – Não tinha estes olhares. Nem estes comentários. – Até mesmo no avião, a caminho de Dreams, tive que lidar com situações delicadas, vindas de pessoas racistas. – Tanto na ida, quanto na volta. – Chegando mesmo em Vista Grossa, no aeroporto uma senhora muito bem vestida, que veio atrás de mim, com carrinho de carregar malas, me acertou no calcanhar, eu olhei para trás, ao invés de ela pedir desculpas, me xingou por estar na frente dela. –E teve um casal dentro do avião que já estreito ocupando todo o corredor, eu os pedi licença três vezes, fingiram que eu nem existia, ai resolvi passar, por que tinha um espaço, quando passei por ela, o homem que estava com ela tentou impedir minha passagem fechando caminho, o cara parecia um guarda roupa, me espremi e passei, firam resmungando lá, já meu irmão Carlos, que vinha atrás, eles deram passagem. – É bem como um choque, de volta a realidade. Parece até um cartão de boas vindas. – Acabam sugando toda a energia boa da gente. – Eu já tentei achar uma lógica nisso tudo, nesse comportamento doentio, em uma época da minha vida. – Acreditem se quiser.

Durante toda a minha adolescência, eu mal saia e nem queria sair de casa, não gostava do que ia encontrar lá fora, era melhor ficar quieta no meu canto, tinha um pavor de gente (ainda hoje continuo antissocial, embora tenha melhorado bastante). – Não queria todo mundo me olhando (hoje em dia quase não me importo mais). – Eu pensava. – Até entender que o preconceito é um problema de quem o tem, não meu, leva-se um tempo, um longo tempo. – E ainda assim tem muitas ocasiões que não tem como não se incomodar, lá no fundo da aquela coisa, mas passa. – Não dá para que a nossa vida gire entorno dos outros, do que fazem, ou pensam de nós.

Enxergando na  EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora