A casa estava cheia
Tinha muita gente
Só que eu não tinha ninguém
Estava triste e magoada
Mas com quem iria contar
Todos muito ocupados
Em seu celulares
A TV estava ligada
Programa engraçado
Só eu ri
Estava cheio
Mais ninguém estava ali
Resolvi dormir
O sono fugia
Me rendi ao celular
Procurei gente para conversar
Eu não conseguia falar
Queria que me distraíssem
Foi em vão
O meu pedido de socorro
Era silencioso demais para ser notado
Diziam que eu estava sem graça
Não perguntaram o porquê
Eu que tinha muitos amigos
Mas me sentia só
E todo aquele barulho do mundo lá fora
Começou a me incomodar
Eu entendi que estava sozinha
Não tinha mais forças para gritar
Tudo foi perdendo a cor
E lá estava eu
Cadê vez mais fundo
No fundo do poço
Eu ouvia as vozes lá de cima
Mas não jogavam nenhuma corda
Nenhuma mão estendidaApenas cobranças
Eu que tanto já ajudei
Não conseguia me levantar
Tinha ciência que assim não dá
Mas não tinha força
E agora se me jogassem a corda
Já seria tarde
Minhas mãos já estavam feridas demais
Do tanto que tentei cavar
Do tanto que tentei me segurar
E me pegava sempre a deslizar
Sinto muito
Mas acho que me acostumei
Eu sentei
Fiquei sem vozEstou à espera de o tempo passar
Não dá mais
Tudo isso está me cansando
Não consigo ver saída
Eu não queria desistir
Talvez devesse ter gritado mais alto
Só que agora tanto faz
Não consigo comer
Nem dormir
Não vejo mais graça na TV
Estou perdendo peso
Estou me perdendo
Nem aquelas pessoas problemáticasprocuram-me mais
Minha ausênciaNão foi motivo o suficiente
para me notarem
Ei olha para lado
Estou me apagandoInvisível
Fria como pedra
Eu tentei.
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Enxergando na Escuridão
PoesíaEu tenho uma pergunta para você, o que você deseja? Ser Livre, ou Ser Triste? Presos em uma caixa rodeados por marionetes tristes onde o sistema dita regras e pa-drões de uma realidade distorcida, travando batalhas e mais batalhas, criando manobras...