1. De vez em quando eu me pego pensando naqueles dias

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Às vezes me deito e, quando o faço, sozinho, me lembro de como você era. Aquele ar inocente que tínhamos e não sabíamos; achávamos que éramos diferente dos outros por ter tido mais contato com o sangue que outras crianças normais. Hoje sei, o que vimos ainda não havia sido nem o começo do que veríamos.

 Hoje sei, o que vimos ainda não havia sido nem o começo do que veríamos

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Era uma vez, em um reino distante...

Existiam, mais de vinte anos no passado, duas crianças solitárias que eram separadas por poucos quilômetros de distância, porém milhares e milhares de milhas de realidade.

A cidade de Cambridge não era somente palco da maior universidade, e melhores colégios da Inglaterra: era também o lugar onde uma certa criatura feliz havia nascido.

Entre a cidadezinha e um amontoado de pequenas colinas, era possível vislumbrar o cenário de natureza perfeito: árvores tão altas que a luz do sol não encontrava espaço para atravessá-las, mas ainda permitiam o chão ser de um gramado verdevivo.

Tratava-se de um bosque. Um bosque escuro, sem dúvidas, e, muito provavelmente, mal-assombrado.

Edward W. Wright era uma criança ordinária de sotaque grosseiro e pouco culto.

Sem dúvidas, um garoto muito solitário para fazer o que fazia.

Ajeitou a faixa verde, maior que sua própria testa, para não deixar que seus cabelos ruivos e crespos atrapalhassem sua visão. Escondeu seu corpo atrás de uma pedra, mas seu rosto espinhento e repleto de sardas voltou-se para aquele espetáculo maçante.

Muito tempo atrás, enquanto cruzava o bosque que ia desde sua casa até o centro da cidade de Cambridge, decidiu provar sua coragem. Imaginativo, assumiu que um lugar tão escuro nunca havia sido explorado e, decidido a ser o primeiro, tomou, sem perceber, a primeira ação estúpida de sua vida.

O que acabaria por descobrir, no entanto, não seria algo medonho; mas sim, a paisagem mais encantadora que Edward já havia visto.

Todos os dias, todos os dias mesmo, aquele garoto de sorriso alegre e olhos verdes ia para o mesmíssimo lugar, fazer a mesmíssima coisa, como um verdadeiro vício precoce. Ou o miúdo solitário era só um obstinado por natureza. Diariamente, ele ficava atrás da mesma pedra, observando o garoto de pele mestiça.

Debaixo de uma árvore um pouco menor que as demais, na única parte do bosque em que o sol batia, o garoto de nome desconhecido somente lia livros e nada mais.

Livros formosos; grandes, e até mesmo mais pesados que o próprio. Poderia passar o dia inteiro os lendo sem ficar cansado e, quanto mais os lia, mais concentrado soava.

Edward, escondido, somente observava ao garoto perder-se na leitura. Era mais que um vício precoce, em verdade, parecia ser o início de uma obsessão. E repetiu o hábito durante um período de três meses.

Diários de Assassinos em Série (Vol. I) - O Médico SujoOnde histórias criam vida. Descubra agora