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[As cenas a seguir contêm linguagem detalhada envolvendo sangue, cortes, auto-sabotagem, transtornos psiquiátricos e linguagem forte. A leitura deve ser interrompida a partir deste ponto para os sensíveis ao conteúdo, podendo retomá-la após o aviso de "É seguro ler"]

Obs: Leiam as notas finais

Acordou cansado.

Acordou, mas não sentiu exatamente que tinha acordado. Fragmentos de seu sonho ainda apareciam em sua mente como se estivesse dormindo, mas sentia estímulos em seu corpo. Via, sim, imagens turvas de como se estivesse dormindo. Entretanto, sabia que seu sono era pesado demais para que estivesse sentindo o vento bater em sua pele.

Tomou forças para abrir os olhos.

Doía abri-los. Foram cinco dias em que não dormiu e não ingeriu qualquer álcool ou droga, mas pelo menos tinha acordado vivo. Tinha acordado vivo muito embora não fosse de sua maior vontade; não teria motivos para não ter acordado vivo, entretanto, tinha tido somente uma longa noite de sono. Ainda estava na cama, com olhos semiabertos, encarando fixo à estante que tinha em seu quarto.

Estava escuro.

Não estava escuro porque as luzes estavam apagadas. As luzes até estavam apagadas, mas estava escuro porque não parecia ser de dia.

Existia um relógio na cabeceira de sua cama. Começou a arrumar forças mentais para acordar: não queria ter acordado. Não importa se tivesse dormido por um dia inteiro, não queria acordar porque não queria acordar e ponto.

Antes que sua visão voltasse a funcionar, lembrou-se do que acontecera na última vez em que esteve acordado: Brigou com Edward. Um verdadeiro filme começou a rodar por sua mente.

– Nada disso é culpa sua.

Ele não queria acordar, mas não era como se quisesse estar morto. Se quisesse estar morto, havia uma série de coisas que poderia fazer para realizá-lo. Estava sozinho, afinal, até mesmo seria bem fácil. Mas Shipman não desejava morrer; desejava somente algo novo. Algo que o tirasse de sua rotina, que o afastasse do Instituto. Queria afastar-se do Instituto como sempre quisera, mas não poderia.

Talvez não tenha se arrependido por desejar algo novo. Talvez estivesse contra si, talvez gostasse de sofrer. Talvez fosse um masoquista psicológico. A única certa que tinha era que não havia se tornado chefe do Instituto porque era de seu desejo.

– Nada disso é culpa sua.

Tudo que vinha em sua mente eram as palavras de Edward. Nada. Disso. É. Sua. Culpa. Achava irritante como Edward sempre passava pano para tudo que ele fazia, desde a infância até a fase adulta, como se ele não tivesse culpa de nada. Como se tudo que ele fizesse fosse correto, como se fosse justificável, como se ele sempre estivesse certo. Sabia muito bem que o certo e o errado eram conceitos que dependiam de uma série de fatores, mas tampouco queria acreditar que suas ações eram certeiras.

– Você criou um escudo em que afastava as pessoas de você.

Arrumou coragem para se levantar. Seus olhos estavam um pouco mais nítidos, apesar de estar passando por uma tontura horrível com uma dor de cabeça latejante. Sentia que sua pressão estava mais baixa que o normal, mas poderia ser muito bem ser coisa da sua cabeça. Não estava bem da cabeça esses dias. Sentou-se na cama e agarrou o relógio da cabeceira.

"02:38"

Havia dormido mais de um dia inteiro. Trinta horas. Ainda assim, nunca sentiu tanto cansaço em toda sua vida.

Diários de Assassinos em Série (Vol. I) - O Médico SujoOnde histórias criam vida. Descubra agora