CAPÍTULO 4: Maquiavel

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Joshua só precisou de alguns segundos sentado na grama para se preparar a entrar na terceira e última casa. O som da casa de Amanda desmoronando assustou os pássaros próximos fazendo um grande barulho. Joshua segurou firme a arma e estava convicto de entrar e eliminar sem pensar duas vezes a criança que estava dentro daquela última casa. Ele se levantou e foi em direção ao seu objetivo. Ao entrar na casa ele deparou-se com espelhos por toda a parte. No chão, no teto, e nas paredes. Só havia espelhos refletindo a sua imagem. Ele caminhou pelo corredor a sua frente em busca da criança. Até que surgiu como reflexo no espelho um menino bem parecido com Joshua mais novo. Ele estava acenando como se estivesse dando um "Oi" quando Joshua sacou a arma e disparou contra o espelho quebrando-o em pedaços e exibindo uma escuridão.

— Nossa, você já veio aqui desse jeito querendo me matar? — Uma voz despertou a atenção de Joshua que logo foi procurar onde o menino estava.

Ao virar de costas ele percebeu que em todos os espelhos não surgia o reflexo da sua imagem, mas sim o menino. Como se ele fosse o garoto se vendo no espelho.

— Eu estou farto de truques. Eu quero acabar com isso de uma vez por todas. Mas antes você terá que responder às minhas perguntas. — Disse Joshua seriamente.

— Tudo bem. — O menino sorriu.

— Qual é o seu nome, e o que é você e aquelas garotinhas?

— Meu nome é Bernard Maquiavel. E nós somos você.

— Não, vocês não tem nada haver comigo. Esse mundo que me encontro parece real, mas não é. E vocês não são crianças. São outra coisa que ainda não compreendi.

— Por que você vive constantemente em negação? Você sempre está negando o que sente. Como pode saber que esse mundo é real ou não? — Bernard sorria.

— Eu sei que não é.

— Saber não é a mesma coisa que sentir.

Joshua estava confuso. Os movimentos de Bernard eram iguais ao dele. Era como se fosse o seu próprio reflexo. Joshua levantou o braço e Bernard também levantou. Joshua andou para a esquerda, e Bernard também andou para a esquerda.

— Helena e Amanda também disseram algo semelhante, mas não com a mesma frase. Elas queriam que eu aceitasse o que elas diziam, mas não queriam me ouvir dizer que eu aceito, mas sim queria que eu sentisse que aceitei. Isso é perda de tempo.

— Se der certo, não é perda de tempo. — Bernard estava com um olhar amigável. — Não há como controlar o sucesso ou o fracasso, eu admito. As escolhas elas são feitas, mas os resultados tem vida própria. Não é você que as controla. Mas você pode tentar e tentar até conseguir o resultado desejado.

— Eu não quero mais sofrer pra fazer suas vontades.

— Sofrimento é natural. É tolice fugir da dor. O resultado quando ele é ruim ele precisa ser estudado e não esquecido embaixo do tapete. Se você não sofrer, você nunca saberá como viver.

— E se eu estiver cansado?

— Você estará admitindo que é um fracassado. Como todas as vezes que você descartou as oportunidades de crescer.

Joshua começou a sentir raiva. Mais uma vez outra criança estava chamando-o de fracassado. Isso despertava lembranças de quando ele tentava criar algo benéfico e as pessoas desprezavam. Quando ele escrevia textos poéticos e as pessoas não liam ou não faziam questão nenhuma de tentar entender. Toda vez ele tentava ser bom, mas só ganhava em troca críticas maldosas.

— Eu não sou fracassado. — A voz de Joshua estava carregada de emoções. — Eu sei o esforço que eu dei em tudo o que eu tentei fazer. Você, um maldito serzinho, querendo dizer algo sobre mim? Querendo concluir toda a minha história de vida em segundos? Você aqui que é um inútil imprestável. Você não serve pra absolutamente nada. — Joshua deu outro disparo e quebrou mais um espelho. Só que a tentativa foi em vão. O reflexo do Bernard estava em outros espelhos.

— Vamos, seu covarde. — Joshua gritou. — Apareça, seu merda. Eu quero cravar uma bala na sua cabeça e ver teu sangue espalhado por todos lados. Vamos, é hora de acabar com essa brincadeirinha de vocês.

Bernard ficou em silêncio por um momento.

— Você me odeia tanto assim de verdade?

— Sim! — Joshua gritou. — Seu filho da puta!

Joshua estava com tanta raiva que deixou algo despercebido. Ele de repente parou e prestou atenção em uma coisa. Bernard parecia muito com ele quando era pequeno. Era como se Joshua estivesse olhando pra si mesmo no espelho o reflexo de quando ele tinha apenas 9 anos de idade.

— Você parece comigo.

— Talvez, seja por isso que me odeia tanto. — Bernard sorriu.

Joshua levantou o braço direito. E Bernard também levantou. Então, ele entendeu como iria assassinar aquela criança.

— Só preciso fazer mais uma pergunta. — Joshua segurou com força a Colt 45. — Por que eu estou aqui?

Bernard continuou sorrindo.

— Você está aqui para tentar aprender que o seu sofrimento só acaba quando você aceita ele.

Os olhos de Bernard ficaram profundamente negros. Joshua já sabia o que iria acontecer depois. Ele sentiu uma pontada em seu peito. As imagens na sua cabeça começaram a brotar. A dor estava voltando. O coração ficando pesado. E o corpo aos poucos tremendo reagindo ao sofrimento. Joshua levou a Colt 45 até a cabeça e no espelho Bernard estava segurando também uma arma e levou até a cabeça.

— Então, é assim que acaba com você? — Joshua questionou.

— Se você não consegue aceitar. Sim, esse é o único jeito de acabar comigo.

Joshua fechou os olhos e sussurrou: "Me perdoe. Eu tentei." O som de um disparo ecoou por todo aquele lugar.

" O som de um disparo ecoou por todo aquele lugar

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