CAPÍTULO 2: Shakespeare

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Eu não irei entrar nessas casas. Eu irei fugir para dentro dessa floresta. Joshua concluiu acreditando que seria melhor. Portanto, ele deu meia volta e começou a explorar por de trás da vegetação que cercava as casas. Pra sua surpresa ele voltou a ver as três casas novamente. O que está acontecendo nesse lugar? Joshua estava completamente confuso. Ele parecia está andando em círculos. Mais uma vez ele voltou a caminhar entre as árvores tentando se afastar das três casas, mas era em vão. Novamente ele se deparava com as casas logo a sua frente. Ele colocou a mão na cabeça e ficou andando de um lado para o outro procurando na sua mente como ele foi parar naquele lugar estranho. O som de uma porta se abrindo despertou sua atenção. Era uma das casas. A primeira da esquerda pra direita. Todas eram absolutamente iguais. Feitas de madeira, mas sem nenhum detalhe que as diferenciassem. Joshua não teve outra escolha. Pegou na arma que estava carregando tomou coragem e foi em direção a porta para entrar na casa.

Ao entrar, Joshua começou a acreditar que estava ficando realmente louco. A casa não tinha móveis. Não tinha corredores. Não tinha nada. Mas era um deserto extenso. Mas não no sentido figurado. Era literalmente um deserto cheio de dunas e areia por toda a parte. Ele olhou para trás tentando ir em direção a porta, mas ela sumiu.

— Já tentando ir embora tão cedo? — Uma voz feminina surgiu. — Eu achei que você queria que nós ficássemos juntos para sempre.

Joshua procurou a voz e encontrou uma menina sentada em uma cadeira toda acorrentada. A garota aparentava ter uns 9 anos de idade.

— Quem é você?

— Eu me chamo Helena Shakespeare, e a única coisa que eu quero agora é fazer você feliz pelo resto dos seus dias.

Mas que assunto estranho essa garota está dizendo. Joshua pensou. A menina parecia ter 9 anos, mas falava como um adulto. Usando as palavras corretamente sem errar nenhuma letra. Ela continuava sorrindo e o encarando.

— Eu sei que você só quer se sentir especial. Você quer ter uma família e viver eternamente junto com o seu amor. Eu sei. Por esse motivo eu quero lhe fazer feliz.

— Mas você é só uma criança. Não sabe o que está dizendo. — Joshua olhou para as correntes querendo soltá-la, mas ao dar o primeiro passo ele voltou a permanecer parado. A garota começou a dar uma gargalhada bastante alta.

— Você é patético. — Helena continuava rindo de forma maliciosa. — Sempre é fácil te enganar dizendo essas coisas. Como se alguém iria querer ficar contigo para sempre.

— Por que você está aqui? — Ele perguntou voltando a encarar a sua volta a quantidade de areia sem fim.

— Bom, foi você que me colocou aqui. Após inúmeras traições que experimentou. Honestamente, você bem que mereceu. É tão fracassado que não consegue nem manter um relacionamento com alguém.

Tudo estava ficando muito estranho para Joshua. Desde que acordou e falou com uma voz misteriosa no telefone pedindo para que ele matasse crianças. E após isso entrar numa casa e surgir em um deserto com uma garota acorrentada dizendo sobre relacionamentos. Ele não duvidava mais de que estava drogado. Mas não sabia como, pois ele nunca em sua vida tinha consumido drogas ilícitas.

— Eu não acorrentei você nessa cadeira. E eu nunca soube da sua existência até agora. Por que está dizendo essas coisas?

— Por causa disso. — Ela disse bem seria.

Joshua sentiu uma dor em seu peito. Ele sabia que dor era aquela. Uma dor que ele nunca jamais conseguiu curar. Só que dessa vez ela estava muito intensa. Era a dor causada por um rompimento. A dor da perda. Do apego sendo rasgado ao meio. De ver a pessoa amada em silêncio e você querendo que ela fale. Uma dor que surge após descobrir uma traição, ou quando a pessoa que você tanto ama lhe menospreza. Joshua ficou de joelhos com a mão no peito. Ele sentia todo o seu corpo reagindo a dor. E a sua mente recuperando varias imagens do passado. As imagens das pessoas que o fizeram sofrer. Trouxe de volta os dias que ele sonhava que finalmente conseguiria construir uma família, mas recebia um telefonema da pessoa dizendo: "Não dar mais. O problema não é você, sou eu. Desejo que você encontre alguém melhor do que eu."

— Esses seus gemidos de dor é como uma poesia pra mim. Eu amo fazer você sentir isso. É tão romântico.

— O que é você? — Joshua tentava falar com dificuldade. — Como está conseguindo fazer isso?

— Isso não importa mais. Eu irei fazer você agonizar aqui neste deserto. A sua única salvação é aceitar que você é patético, e fracassado. E que o seu destino é a solidão.

— Tudo bem eu aceito. Faça isso parar. — Ele segurava o seu peito, mas a intensidade da emoção era tão forte que as suas mãos tremiam. A areia quente também ajudava a tornar a dor mais insuportável.

Helena deu gargalhadas mais uma vez.

— As palavras o vento leva. Eu quero ver você sentir que realmente aceita. Nesse momento você só quer que a dor pare e tenta mentir para mim e para si mesmo que aceita a condição que se encontra, mas na realidade você está em um estado de negação. — Ela sorriu observando Joshua chorar. — Negar a realidade é fazer com que a dor aumente. Aceitar é a única forma de se libertar.

— Eu não consigo sentir o que me pede. — Joshua soluçava. — Eu não tive culpa. Eu fiz tudo certo. Não é justo eu sofrer. Não é justo a pessoa que me fez entristecer não acontecer nada com ela. Por que eu tenho que aceitar isso?

Após Joshua terminar de falar ele cuspiu sangue.

— É exatamente isso que irá acontecer. — Helena se referia ao sangue. — Por negar a realidade o teu sofrimento vai te matar aos poucos. Porque eu vou continuar fazendo você sentir tudo isso.

— Mas por quê?

— Me perdoe, essa é a minha natureza. No começo eu sou a melhor coisa que você encontra. Te faço criar bastante expetativas porque eu sei criar sensações maravilhosas. Mas quando chega ao fim. Eu devoro cada célula do seu corpo que se descuidou da realidade.

Joshua estava sentindo o corpo falecendo quando lembrou do conselho da voz no telefone. "Aceite o que elas dizem, ou matem todas de uma vez por todas." Ele pegou na Colt 45 e apontou para a Helena.

— Como eu tinha dito. Você é patético. Me trancafiou por causa de pessoas que não valiam a pena. E agora por ser um fracassado quer me matar.

— Faça isso parar. Eu imploro. — Joshua estava com os poros da sua pele expulsando o sangue.

— Nunca! — Helena estava com os olhos complemente negros. — Eu quero que você sofra.

Ouvi-se um disparo. E a cabeça de Helena, por causa da pressão da bala, foi para trás. Ela estava morta. Imediatamente, Joshua não estava mais sentindo as dores e também parou de sangrar. O deserto começou a tremer e ao redor montanhas saiam da terra causando um terremoto. Uma porta apareceu de repente alguns metros à frente de Joshua. Ele correu antes que um buraco na terra abrisse e o engolisse. Aquele local estava perdendo a luz e sendo devorado pela escuridão. O som das montanhas saindo da terra era ensurdecedor. Uma pedra enorme quase caiu em Joshua quando ele abriu a porta pulando para fora. Ele estava novamente na floresta como se nada tivesse acontecido. Seu coração estava disparado por causa da adrenalina.

 Seu coração estava disparado por causa da adrenalina

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