Aurora

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Não consegui abrir os olhos por causa da intensidade da luz, mas aos poucos, o brilho foi diminuindo e meus olhos acostumaram-se com o ambiente. Tudo naquele lugar era branco, uma sala enorme com pessoas vestidas de branco, alguns pareciam tão confusos como eu.

Antes que perguntasse a alguém onde eu estava e o que estava acontecendo, senti algo me guiando até uma porta, o toque da mão de alguém na minha, não abaixei a cabeça para conferir a quem ela pertencia.

Meu olhar estava fixado em uma porta de madeira, cheguei até ela e abri.

Novamente a luz tomou conta do lugar, mas logo escutei vozes conhecidas no cômodo e meu coração disparou.

- Clara, amor você demorou, estávamos preocupados! As crianças estão lá fora.

No primeiro momento o rosto de Patrick me prendeu totalmente, fazia tanto tempo que não o via, quer dizer, sentia como se fizesse. Quando finalmente observei os arredores, constatei que estávamos em Palmas, não reconheci a casa, mas sentia que estava lá. Fui até uma porta e olhei para fora, vi quatro crianças correndo entre as arvores e rindo, não consegui enxergar nitidamente seus rostos, mas eles acenaram pra mim e eu devolvi sorrindo. Aqueles eram meus filhos, mas pareciam estar tão grandes, mais velhos... Se passou tanto tempo assim?!

- Patrick, onde estamos?

- Como assim? Estamos em casa, amor.

- Mas nossa casa não é aqui, quer dizer, morávamos em outro lugar e...

- Você deve estar confusa, acabou de dormir, talvez ainda esteja sonhando.

Ele sorriu gentil e beijou minha testa. Acabei de dormir? Não seria acabei de acordar? Como estaria falando com ele se eu estivesse dormindo?!

- Vem, vamos olhar a aurora, o nascer do sol já vai acontecer. Tenho uma surpresa pra você, está te esperando no topo do monte.

- Aurora? Mas estamos no meio da tarde, as crianças estão brincando do lado de fora, o sol já nasceu.

- Eles já nasceram, sim, mas a aurora tem que voltar ao céu.

Não entendi o que ele quis dizer, apenas me deixei ser guiada.

Pareceu um pisca de olhos; passamos por uma porta e quando dei por mim estava caminhando sozinha em direção a um monte, senti a areia fina tocar meus pés e vi uma pessoa sentada próxima a uma arvore no topo. Não senti medo, continuei caminhando de encontro com a figura, não conseguia distinguir quem era, mas sabia que era um homem, porém, não podia ser Patrick porque o cabelo era escuro.

Sem cerimônia, sentei-me ao seu lado, fiquei olhando para céu e não entendi o porquê meu corpo não virou em direção à figura, só sabia que estava segura onde estava. Aos poucos, fui reparando em quem sentava ao meu lado, o homem vestia roupas leves, os pés estavam descansos e ele me parecia calmo. Segundos antes de olhar em seu rosto, ele falou pela primeira vez:

- Eu estava com muitas saudades de você, querida. Mas não queria encontrar com você aqui tão cedo, filha.

Meu corpo respondeu de imediato, estremeci e me senti anestesiada ao mesmo tempo. Eu conhecia aquela voz, deveria ter percebido logo que cheguei aqui.

- Pai? – Eu o abracei com toda a força que tinha, foi inevitável chorar naquele momento, eu sentia tanta saudade dele. – Como... O que o senhor está fazendo aqui, como isso é possível?

- Assim como o tempo, tudo é relativo, só depende de que lado do véu você está, querida. Não posso falar ou explicar mais sobre isso, as verdades são ditas no momento certo para ouvi-las e você, querida, seu momento não é agora.

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⏰ Última atualização: Dec 23, 2018 ⏰

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