02. Desconhecido

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Acordo aos poucos, estranhando toda a claridade em cima de mim, olho para o lado e vejo o banco do motorista vazio. Rapidamente tiro a cabeça da janela, sentindo uma dor no pescoço e na coluna.

     A noite passada foi bem conturbada. Assim que entrei no carro do desconhecido e ele saiu igual um piloto de fuga, passei a gritar pra ele voltar e ajudar Elis e Vincent, mas o rapaz discordou, afirmando de forma ríspida que seu trabalho era me tirar dali em segurança. O mais engraçado é que eu tinha a impressão de tê-lo visto já em algum lugar. O cansaço foi me pegando e acabei adormecendo.

     Tento abrir a porta do carro antigo, sem sucesso e as janelas fechadas também não ajudam em nada. Aproximo-me mais um pouco da janela, estreitando os olhos para tentar enxergá-lo dentro da loja de conveniências, encontrando-o abrindo a geladeira e tirando cerveja de dentro. Aproveito a chance para começar a procurar pelo carro algo que me ajudasse a sair dali o mais rápido possível.

      Encontro uma mochila de roupas no banco de trás e abro ela, encontrando algumas peças de roupas, identidades falsas, bolões de dinheiro, uma pistola, um vidro de água, um depósito de sal. Em uma das identidades diz que ele se chama Wallace Bond, como James Bond, agente do FBI. Em outra diz que é Samuel Winchester, da vigilância sanitária. Todas as identidades com a mesma foto três por quatro do meu salvador e nenhum sinal que comprove que ele seja da mesma organização que Vincent, Elis ou Max.

     O pior de tudo é que já o vi em algum lugar.

     Volto a olhar para a janela e vejo que ele está saindo da loja de conveniências segurando duas sacolas de papelão cheias. Suas pernas são longas e grossas, está trajando roupas pretas — calça e camisa básica — e usando um óculos. Rapidamente pego a arma dentro da mochila e volto a minha posição inicial, escondendo a arma no banco.

     Ouço o som do alarme do carro e a porta sendo aberta. O carro balança quando ele senta no banco, o barulho dos pacotes sendo colocados no banco de trás e um silêncio repentino. Abro os olhos de forma que ele não perceba, vendo que está parado e suas orbes castanha clara estão direcionadas a mim. Volto a fechar os olhos, rezando mentalmente para que ele não percebesse.

     Aparentemente deu certo. O homem fecha a porta do carro e ouço o momento que ele coloca a chave na ignição. Aproveito a deixa para despertar e agarrar ele pelo cabelo, puxando para trás, enquanto aponto o cano da arma na direção da garganta dele.

     — Quem é você? — pergunto alto, puxando mais o cabelo dele. Ouço um gemido saindo de sua boca.

     — Você não vai atirar em mim — diz ele, convencido.

     — Responde ou eu atiro. — Pressiono a arma no pescoço dele com mais força.

     — Atira — responde ele, dando uma piscada.

     Puxo o gatilho sem pena, mas nada acontece. Olho frustrado para a arma, enquanto o homem acerta a mão no meu estômago, fazendo com que soltasse a pistola caindo no chão do veículo, tento revidar, mas ele pega meus cabelos com força e bate minha cabeça no painel do carro. O desconhecido pega a arma e joga pra trás.

     — Eu machuquei você? — pergunta ele, olhando para mim que estou tocando o corte que foi feito na região que bati a testa. Ele abre o porta-luvas e tira uns guardanapos e estende pra mim. — Pra limpar o sangue.

     — Você bate em mim e agora quer cuidar de mim? — indago, agarrando os guardanapos para limpar o sangue.

     — Você me obrigou a fazer isso — responde ele, ainda me olhando.

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