05. Julgamento

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Morrer nunca esteve em meus planos, embora uma parte de mim tenha sido brutalmente assassinada aos meus doze anos. Contudo, sobrevivi para tornar-me a mulher mais poderosa do meu clã, até que fui julgada e banida. Típico da sociedade, onde a vítima é culpada.

     ── Suas células estão se decompondo ── disse um dos melhores doutores de Londres.

     O mundo girou na minha cabeça e um filme dos últimos trinta anos da minha existência passou, desde os bons momentos até os piores.

     Não desisti e procurei todos os outros melhores médicos do mundo, em vão, pois todos tinham a mesma resposta: você está morrendo. A hipótese de morrer me deixou enlouquecida, não estava preparada, havia vivido tão pouco ainda. Entretanto, as dores no corpo aumentaram, as rugas apareciam com mais frequência e as plásticas não davam mais conta, nem minha magia funcionava como antes.

     Então relembrei-me das histórias de bruxas do meu clã, os verdadeiros líderes que caiam para que outros se levantassem mais gloriosos e cumprissem o papel assegurar a proteção e prosperidade da comunidade bruxa. Fui expulsa do meu cargo e substituída por um feiticeiro qualquer, ainda sim, eu era a legítima líder e alguém estava ascendendo e roubando minha juventude, meu poder, a minha vida.

     Voltar para Sunflower City não foi nenhum pouco fácil. Eu odiava aquela cidade com todas as minhas forças, só tinha memórias ruins dali. E, como previsto, não fui recebida bem, os olhos de julgamento das bruxas mais velhas caiam sobre mim, assim como seus alertas sobre minha aproximação, mas eu não me importava com a opinião das vadias conservadoras e ultrapassadas.

     ── Eu estou morrendo, Will ── disse aos prantos para ele, com um cigarro na mão e o copo de uísque em outra. Senão fosse pelos vícios, não sabia se teria forças para continuar a jornada.

     William ficou parado, em silêncio, digerindo a notícia. Aquele homem foi o único que não me tratou como uma bruxa má quando fui expulsa, reforçando o quanto ele me amava. Desde pequeno, ele sempre teve um desejo por mim, mas nunca dei bola, adorava esnobar ele na escola, e depois dos meus onze anos, tornei-me a vadia que meus achavam que eu era e passei a ficar com os caras maneiros do colégio e da cidade.

     ── Isso só está acontecendo porque alguém dessa nova geração está desabrochando ── comentei, caminhando até ele até ficar em sua frente, rosto a rosto. ── Eu fui uma péssima pessoa, uma péssima filha, uma péssima líder para este clã, mas antes de morrer, eu quero poder ensinar a importância do cargo, bons valores e ajudar a lidar com os poderes. ── Uma lágrima escorreu do canto do meu olho direito. ── Eu preciso cumprir ao menos esse papel como líder do clã.

     ── Eu vou tentar convence-los da sua volta ── prometeu William, claramente tocado pelo meu desabafo.

     Em questão de dias eu já caminhava entre as pessoas do clã de cabeça erguida como se nunca tivesse feito nada, fumando meu cigarro ou bebendo uísque. Sempre de olho nas garotas que aprendiam a controlar melhor seus poderes, sondando-as e sendo totalmente amigável, mesmo que, às vezes, eu quisesse afogar todas em uma banheira como oferenda a Hécate pela minha eterna.

     William também fez questão de está ao meu lado. Até me convidou para sair, aceitei é claro, eu adorava a sensação de ser amada por ele, aumentava a minha autoestima. Resolvi realizar o maior desejo dele, transando com ele até o amanhecer e, uau, se eu soubesse que tivesse todo aquele potencial, teria transado antes. Em uma das nossas ida até a escola para garotas super-dotadas, ele finalmente me apresentou a Annabel, sua filha adotiva, uma garota ruiva de olhos claros e rosto angelical.

     ── Soube da sua história no orfanato, você é fodona ── comentei e a garota ficou bastante animada.

     ── Eu surtei depois disso, o pessoal já me achava uma aberração por causa da minha aparência e meu jeito de ser, quando soubessem do que aconteceu, iria piorar. ── Ela falava demais e era bastante animada, era difícil acompanhar ela. ── Eu seria chamada de aberração, Carrie, ou sei lá o que. Mas hoje em dia eu me orgulho demais do que eu sou!

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