2.

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- Ameliaaaaa! Noah já está aqui!!

Escutei a gritaria e me olhei novamente no espelho. Eu havia escolhido um vestido azul escuro, curto, mostrando os ombros. Ele era moldado ao corpo, mas menos na barriga pra não marcar a cicatriz.

Eu nunca me vestia daquele jeito, mas naquele dia eu queria mudar.

- pronto. - falei ao descer as escadas

Noah me olhou por inteiro, mas nada que não fizesse sempre quando saíamos.

- vai assim? - meu pai perguntou

Aproximei-me dele e dei-lhe um beijo.

- vou. Boa noite.

Escutei meu pai dizer algo pra minha mãe, mas não dei bola.

Noah veio atrás de mim, em silêncio. Percebi o quanto as coisas já haviam mudado em algumas horas. Nunca ficávamos em silêncio.

Entrei no carro, coloquei o cinto e esperei.

- está muito quieta desde que voltamos da casa do Paul. - ele disse soltando um suspiro em seguida, antes de continuar a falar. - você ficou com ele?

Virei-me com os olhos arregalados para encara-lo.

- claro que não. De onde tirou essa ideia?

- vocês fazem aquela cena na piscina, depois você diz que só vai na Pink por ele, volta pra casa estranha. - sua voz se alterou no final

- não fizemos cena nenhuma. Estávamos brincando e pronto.

Eu não estava a fim de explicar nada e nem de estender uma conversa.

Noah já havia dado a partida no carro. Havia trânsito para o meu desespero. Eu não queria ficar parada com ele no carro em uma situação propícia para fazer perguntas.

- ele acha que vai ficar com você, tá? Só pra que você saiba. - jogou olhando pra frente, sem tirar as mãos do volante

Soltei um riso e mordi os lábios pensando na cara do próprio Paul.

- você tá estranha. - Noah continua

- não estou. - retruquei - e porque todo esse auê sobre eu ficar com o Paul? - perguntei de uma vez

Ele batucava o volante como se fosse uma bateria.

- sei lá, vocês que deram a entender. E não tem nada a ver, vocês são amigos. - completou ainda batucando as mãos

Fiquei com raiva do pensamento dele. Só porque éramos amigos não poderia rolar nada?

- tem tudo a ver. - respondi fazendo parar o batuque

Noah me encara sério. Consigo ver a luz dos carros refletirem em seus olhos castanhos, quase mel.

- então você tá a fim dele? Porque não me disse?

Soltei um riso frouxo.

- somos amigos, mas não preciso contar tudo a você, Noah. E não, não estou a fim dele. - respondi com um tom irônico no final

Ele me encarou, mas não disse mais nada. Eu abaixei o olhar e lembrei das coisas que escutei.

- mas não seria nada mal gostar do Paul. - joguei e continuei. - eu não teria vergonha de ser quem eu sou com ele.

Pronto. Joguei a merda no ventilador mesmo sem ele saber o que estava acontecendo.

Noah estava com os olhos no transito e assim que escutou o que eu disse fez uma cara esquisita.

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