Domingo era sempre um dia tranquilo em casa. Meu pai ficava o dia todo no sofá lendo jornal e eu ajudava minha mãe com o almoço.
- você está quieta, o que houve?
Respirei fundo pensando o quanto eu era transparente.
- nada. - menti
- Noah vem almoçar conosco? - minha mãe perguntou enquanto montava a travessa de lasanha
- mãe, o Noah tem casa. Ele não precisa vir aqui todo Domingo almoçar. - respondi fazendo ela parar de mexer na travessa e me encarar
- o que aconteceu com vocês? Brigaram? Vocês nunca brigam.
Revirei os olhos e enxuguei o último prato que estava no escorredor.
- não, não brigamos. - respondi com um sorriso forçado
- semana que vem temos um almoço com os Hudson. - ela disse provando o molho de tomate enquanto eu cruzava os braços
- porque? - perguntei curiosa
- vamos falar sobre a faculdade de vocês.
- o que tem a faculdade?
- queremos vocês na mesma universidade. - ela responde sem me olhar
O que pareceria uma resposta normal e muito interessante há um dia atrás, naquele momento era desesperador pra mim. Eu queria esquece-lo e estudar na mesma faculdade não ajudaria em nada.
- porque temos que ir para a mesma faculdade? Eu não nasci grudada no Noah.
Em meu tom de voz havia desespero.
Minha mãe me encarou surpresa.
- pensei que queria.
- não, não quero. Acho que cada um tem que seguir sua vida. Não precisamos ficar juntos o tempo todo.
E como se já não bastasse aquela discussão com a minha mãe, Noah aparece de repente na cozinha com meu pai. Os dois riam de algo.
Fechei os olhos como se praguejasse o momento.
Não esbocei nenhuma expressão. Noah sorriu pra mim. Uma das mãos do meu pai estavam no ombro dele. Deus, porque tudo tinha que ser difícil? Por um momento pensei que podia contar tudo à eles, para verem que Noah não era aquele garoto sensível que aparentava ser.
- coloquem mais um prato na mesa. - disse meu pai orgulhoso
- oi senhora Stevens. - disse Noah dando um beijo na bochecha de minha mãe enquanto ela completava a lasanha
Segui seus passos com os olhos, até ele parar diante de mim e levantar a mão para no nosso "high-five" de sempre.
- oi. - falei chocando minha mão contra a dele
- e ae? - respondeu completando o gesto
Sorri sem vontade e fui para a sala. Ele me seguiu.
- acordei só o pó hoje. Conseguiu dormir bem?
Sentei no sofá, com ele em meu encalço, me encarando por uma resposta.
- consegui. - respondi pegando uma revista
Qualquer tentativa de disfarçar a minha raiva estava sendo em vão e eu sabia disso.
- ainda está preocupada com a faculdade?
Seus olhos em mim me analisavam ao máximo. Sim, eu estava preocupada em estudar com ele.
- sim.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cicatrizes
RomanceVida não deveria ter esse nome, deveria se chamar "clichê". Pois é, a minha era assim, me apaixonei pelo meu melhor amigo, achei que ele era uma pessoa, mas era outra, sofri muito e aprendi que a cicatriz gigante que eu tinha acima do umbigo não er...