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A chuva continuava forte, deixando a paisagem ao meu redor acinzentada, e o seu barulho rugia forte no meu ouvido. A água já corria violentamente rua a baixo, vez ou outra quando os carros passavam espirrava um pouco na calçada, felizmente estávamos longe o suficiente para não sermos atingidas. Essa preocupação não fazia sentido, ao menos se tratando de mim, já que estava molhada até os ossos e por conta disso estava tremendo de frio, todo meu corpo estava gelado, com exceção da região do corte e as partes cuja as pontas dos dedos de Camila tocavam enquanto ela tentava estancar o ferimento.

Estávamos em frente a fachada principal da escola, protegidas pela marquise que o pavimento superior do edifício fazia, enquanto esperávamos pela Dinah, o que julgo ter passado mais tempo que o necessário para que ela analisasse se o lugar estava seguro para que eu pudesse entrar. Notei que fazia um pouco mais de um minuto desde que eu havia respondido Camila e ela mais nada falou, decidi parar de observar a rua e a olhei, ela estava concentrada com meu ferimento, porém, quando percebeu que eu a olhava seus olhos castanhos encararam os meus. Ela sorriu de lado rapidamente, o silêncio parecia a incomodar, como incomodaria a maioria das pessoas, porém, eu realmente não me importava, comunicação verbal não é uma coisa que eu ache necessário, eu sabia apreciar bem o silêncio, mas a expressão dela e seus olhos inquietos passeando pelo meu rosto, mostrava que ela não achava o mesmo.

Eu realmente não sei porque ela não quis manter uma conversa após o meu "Oi Camila", eu estava preparada para tentar seguir um diálogo, caso ela conduzisse, porém, quando eu sorri de volta para ela, ela simplesmente voltou a se concentrar no meu sangramento. Agora acho que ela estava disposta a voltar a falar, já que não parava de me encarar e parecia inquieta, eu já estava começando a me sentir desconfortável com a situação, pois, não gostava de manter tanto contato visual assim, até que ela desceu seu olhar para minha boca, permaneceu apenas frações de segundos com os olhos naquela direção e logo depois seu olhar ficou à altura da minha barriga.

- Você está tremendo muito, Lauren. – Ela continuou fitando meus braços trêmulos em volta do meu corpo, parecendo perceber pela primeira vez que eu estava com frio. – E seus lábios estão roxos. – Ela voltou a olhar para minha boca. – Nós precisamos entrar logo. Onde a Dinah se meteu? Ela já devia ter voltado.

- Bem, talvez eu esteja com frio porquê não tenha uma parte do meu corpo quem não esteja molhada. – Ela rapidamente lançou um olhar duro em minha direção. Irônico o fato de que segundos atrás eu pensava em conversar com a garota para acabar com seu desconforto, mas na primeira frase dita por ela eu a respondo atacando. Uma completa idiota. – E a sua amiga... – Continuo, agora com um tom de voz afetado pela culpa da última frase dita, porém, antes que eu pudesse concluir a frase vimos um guarda-chuva se aproximar rapidamente.

- O terreno está limpo. – Disse ela em um só fôlego.

- Dinah, por que você demorou tanto? – Perguntou Camila irritada.

- Desculpem, mas o diretor Filippo apareceu no corredor com a professora Graziela e eu precisei me esconder, eles ficaram conversando e enfim, temos que ir. – Ela se explicou.

- Eu só preciso trocar esse algodão e podemos ir – A latina respondeu.

- Como você está? – A mais alta me perguntou.

- Estou viva, por enquanto. – Camila bufou assim que ouviu minha frase. Aparentemente não consigo falar sem ofender alguém.

- Okay, podemos ir. Dinah você vai à frente, eu vou dividir o guarda-chuva com a olhos verdes aqui. – Eu ignorei a forma como ela me chamou. – E você vai precisar segurar o algodão no seu corte. – Ela continuou a falar enquanto me olhava. – O sangramento diminuiu bastante, não se preocupe. - Eu assenti e levei a mão ao ferimento, como Camila ainda estava segurando o algodão a minha mão esbarrou levemente sobre a dela e ao sentir o toque ela se afastou rapidamente, como se eu tivesse alguma doença ou algo do tipo.

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